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Brasília

Equipe de voluntários do DF se une para salvar o acervo do Teatro Dulcina

Profissionais trabalham para a conservação de acervo do prédio localizado no Setor de Diversões Sul de Brasília

Ingrid Costa

14/04/2023 5h00

Atualizada 15/03/2024 14h36

Ana Maria da Silva, Desiree Calvis, Roberto Sá e Letícia Amarante. Foto: arquivo pessoal

Voluntários de diferentes áreas têm se reunido para contribuir com a preservação do Teatro Dulcina de Moraes. Apesar de situar uma das faculdades de referência nas artes cênicas e compor o patrimônio material e imaterial da cultura local e nacional, o espaço encontra-se em situação de sucateamento. Em 2022, por meio das redes sociais, a Fundação Brasileira de Teatro (FBT) fez uma convocação para formar uma equipe para a manutenção e recuperação do acervo. O objetivo foi encontrar profissionais para identificar, inventar, atualizar e reorganizar documentos que fazem parte da memória artística brasileira.

A museóloga Letícia Amarante é uma das pessoas que viu a publicação e agora faz parte do time de revitalização. “A notícia do ‘chamamento’ chegou até mim pelo Instagram. Fui até a Fundação Brasileira de Teatro para conhecer e logo passei a montar alguns manequins para uma gravação de TV e, também, na intenção de organizar um espaço para acolher o público visitante, além de oferecer condições para futuras entrevistas. Nos dias subsequentes, muita agitação: reportagens de diferentes emissoras sobre as descobertas e o trabalho que desenvolvíamos de acordo com a nova gestão”, relembra.

Enquanto isso, o diretor do Espaço Cultural da FBT, Josuel Junior, iniciava o processo de digitalização das fotografias, que serviram de direcionamento para a equipe. “Nós íamos organizando e conhecendo as roupas e os figurinos encontrados. Com o tempo, o espaço foi tomando forma em meio às visitas criativas que incentivaram e direcionaram a construção de uma base sólida para criação de algo futuro e maior. Com as fotos organizadas, iniciei o processo de registro e inventário de cada uma delas no dia 25 de novembro de 2022”, comenta Letícia.

A museóloga conta que, até o momento, registrou mais de 250 fotos, todas de datas entre 1933 a 1940, que trazem o contexto histórico da época. Detalhes como nome, título, data, técnica, dimensão, condição, localização e novo número de registro são algumas das etapas do processo. No futuro, isso facilitará o trabalho de outros historiadores que acessarem o acervo.

Foto: arquivo pessoal

Com o passar do tempo, outros profissionais passaram a integrar a equipe. Uma delas é a também museóloga Desiree Calvis. Ela iniciou o processo de inventário de roupas e figurinos, além de elaborar documentos para a regularização de um acervo museológico. “Meu primeiro contato com o Dulcina foi impactante. Eu nunca tinha ido à Faculdade de Arte ou ao Teatro. Fiquei muito mexida em ver o acervo e a história de Dulcina e Odilon, que foram figuras tão importantes para a história do teatro brasileiro”, explica. Desiree também implementou métodos e padrões da sua área de atuação para fazer um inventário de forma digital, trabalho iniciado por outros profissionais em décadas passadas, mas que não chegou a ser concluído. “Presenciar a forma como os objetos estavam se deteriorando por falta de cuidado e de um acondicionamento adequado mexe muito com quem é da área da museologia”, complementa.

Foto: arquivo pessoal

O laboratório em que os voluntários trabalham não possui água e energia, o que dificulta alguns processos, como o de lidar com as indumentárias. A responsável pela preservação dessa parte do acervo é a costureira Ana Maria da Silva, que também viu o chamado da FBT nas redes sociais.

“Eu fiquei muito encantada e maravilhada com tantas peças e as histórias de cada uma delas e, ao mesmo tempo, com um sentimento de tristeza ao vê-las naquelas condições de conservação. Mas sou muito agradecida por poder colaborar de alguma forma para que mais pessoas tenham acesso a essa história. São tecidos finos e cortes que explicam as épocas. Eu não conhecia a história de Dulcina, muito menos o teatro. É uma oportunidade de crescer mais e mais. Nunca imaginei que eu poderia usar meu ofício para um trabalho tão importante para o Brasil. Toda terça-feira eu acordo muito feliz em saber que eu posso ajudar a construir essa história de Dulcina outra vez”, declara Ana Maria.

Todo sábado, o ator Roberto Sá fotografa as roupas e figurinos em um estúdio móvel iluminado por baterias móveis. “Ano passado, quando iniciamos uma força-tarefa na fundação e com a equipe bastante reduzida, o primeiro passo que tomei foi me reencontrar nesse espaço novo e entender o que era artisticamente valioso para a história do teatro nacional. Nas primeiras semanas, tudo que eu encontrava pela frente me enchia os olhos de tanto orgulho. Não é fácil trabalhar num ambiente sem energia e sujo. Isso atrapalhou o rendimento do processo, mas não foi o suficiente para desistirmos.”, diz o artista.

Foto: arquivo pessoal

Roberto comenta sobre os próximos passos e o que incentiva a equipe em meio às dificuldades: “Agora, nessa segunda etapa, seguimos com a equipe maior e consequentemente nos sentimos mais organizados: Tudo tem seu lugar, tudo é protocolado e guardado cuidadosamente. É mais fácil manusear os objetos sem ter o medo de perdê-los porque temos consciência de onde os encontramos e onde estamos guardando. Existe sempre uma surpresa na história de Dulcina e isso nos motiva a continuar a pesquisa. É o amor pela arte!”

O objetivo principal da revitalização é conscientizar a sociedade como um todo sobre a importância da história de Dulcina de Moraes e permitir o acesso do público a esses arquivos, importantes para o cenário cultural do DF e do país.

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