Gabriel de Sousa
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Em mais uma oportunidade, os estudantes da Universidade de Brasília (UnB) criaram um novo projeto de inovação tecnológica de relevância nacional. A Capital Rocket Team, equipe universitária da Faculdade de Engenharia do Gama (FGA/UnB), lançou o primeiro foguete com propulsão híbrida da história da América Latina.
O projeto, que atualmente conta com 30 estudantes, foi formado em 2015, e os universitários dedicaram sete longos anos de montagem e estudos para conseguir produzir o foguete “Circe”. O lançamento aconteceu durante o Latin American Space Challenge (LASC), que ocorreu entre os dias 5 e 7 de agosto no Cabo Canavial, no município paulista de Tatuí.
A competição serviu para motivar universitários da América Latina a criar projetos inovadores para a área aeroespacial. Na edição deste ano, foram reunidos 68 projetos de diversos países. A equipe brasiliense venceu uma categoria do “Rocket Challenge”, que consistia no lançamento de um foguete de propulsão híbrida com um apogeu de um quilômetro. Na classificação final do evento internacional, o grupo ficou na sexta posição geral.
De acordo com os membros da equipe, a propulsão híbrida é bem mais complexa que os costumeiramente utilizados. Ela consegue ser feita através do uso de um propelente sólido e líquido dentro do motor do foguete. Com isso, o processo é bem mais caro e complexo, demandando uma estrutura própria para a sua fabricação. No Gama, o laboratório Chemical Propulsion Laboratory (CPL) já consegue trabalhar com este modelo há alguns anos.
Um lançamento esperado
Ao longo dos sete anos de projeto, o lançamento do foguete foi sempre visto como um momento único para a vida dos integrantes do Capital Rocket Team. De acordo com Paolla Quaresma, estudante de engenharia aeroespacial e líder da equipe, o sucesso veio apesar de diversas dificuldades enfrentadas durante o período de produção.
“O fato de a gente ter conseguido lançar neste ano, trouxe muita alegria e alívio para a equipe. Todo o nosso trabalho foi validado, e mostrou para a gente que realmente conseguimos fazer uma coisa que muita gente considerava impossível”, conta a líder da equipe.
Quaresma conta que, mesmo após o êxito, a ficha do que aconteceu em Tatuí ainda não caiu para os universitários. Segundo ela, o feito ainda é um “pouco inacreditável” para os estudantes. Perguntada sobre o que sentiu naquele curto período de tempo em que o foguete estava no ar, ela relembra ter sentido um choque misturado com uma grande felicidade. “A gente se sente muito bem porque é uma coisa bem difícil de se fazer. É algo que a gente sempre buscou, não como pioneiros, mas sim para conseguir fazer algo que a gente sempre gostou de trabalhar”, conta.
A líder da Capital Rocket Team explica que o desejo atual da equipe é a de atrair novos patrocinadores e parceiros para o financiamento de futuros projetos. O planejamento dos estudantes da UnB é de poder ir para os Estados Unidos em 2023. Para realizar a viagem, Paolla conta que o custo será mais elevado que os gastos usados no transporte para o estado de São Paulo.
“A gente [Brasil] não tem um setor espacial bem consolidado como nos Estados Unidos ou em outros países da Europa. […] O fato da gente ter conseguido fazer isso, já mostra que, dentro do país, a gente consegue desenvolver uma tecnologia tão poderosa como em outros países como os Estados Unidos e a Europa. Isso mostra que isso é possível sim, e que essa área está crescendo bem mais do que as pessoas imaginam”, afirma a estudante.
Uma paixão brasileira
O orientador da equipe é o professor sul-coreano Jungpyo Lee, doutor na Korea Aerospace University, e que dá aulas no campus da UnB no Gama desde 2015. Segundo ele, os alunos brasileiros da UnB são “ativos e apaixonados” pela área aeroespacial, e a experiência da competição internacional foi importante para a formação de novos profissionais, que, em breve, poderão desenvolver grandes foguetes brasileiros.
“Eles têm capacidade suficiente para o desenvolvimento da tecnologia espacial brasileira, e devemos continuar oferecendo oportunidades para que tenham confianças e experiências suficientes na futura corrida da tecnologia espacial no mundo”, conta o orientador.
O professor conta que, ao longo dos sete anos de produção, todos os alunos do grupo tiveram que arrecadar recursos próprios para comprar os equipamentos necessários para o desenvolvimento do foguete. Jungpyo acredita que um apoio financeiro externo traria um impulsionamento do trabalho da equipe, que, mesmo com dificuldades financeiras, conseguiram ser pioneiros no setor aeroespacial brasileiro.
“Em todos os anos, os alunos tiveram dificuldades para desenvolver os foguetes. Se o orçamento para o desenvolvimento de foguetes for suficiente, os membros do Capital poderão desenvolver outros foguetes mais avançados em um tempo menor. Eu espero ter esta oportunidade”, afirma o orientador.