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Brasília

Entrevista com Valdir Oliveira:“Precisamos de uma política de renda mínima”

Até 30 de junho, micro e pequenos empreendedores terão no Sebrae-DF uma alternativa para mudar “cabeça e operação” dos seus negócios

Olavo David Neto

16/03/2021 5h50

“Precisamos passar ações positivas para os empreendedores”, diz o superintendente da secção brasiliense do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-DF), Valdir Oliveira. Em conversa com o Jornal de Brasília, o gestor explica melhor a ampliação na oferta de consultorias feitas pela entidade, “o maior investimento” na capital da República.

Até 30 de junho, micro e pequenos empreendedores terão no Sebrae-DF uma alternativa para mudar “cabeça e operação” dos seus negócios, numa ação que Oliveira caracteriza como transformações de “sonho em realidade”, medida que trará, segundo ele, “melhores condições de emprego e renda” em meio a uma pandemia que teima em ceifar vidas, relações e a própria economia. Ele também elogiou medidas do GDF, mas cobrou maiores investimentos da União. Também afirmou que há matrimônio entre o órgão e os empreendedores, e isso se dá “no amor e na dor”.

No DF, o contexto da pandemia trouxe mais aberturas de empresas que fechamentos. Segundo a Junta Comercial do DF, são quase 30 mil de “saldo”. Como o senhor avalia esse cenário?

Essa abertura de empresas retrata o Microempreendedor Individual (MEI), que é um tipo de empresa que não é formal. Esse número engana muito. É o ciclo da crise. Foram demitidos, e ao serem demitidos buscaram a informalidade para sobreviver, com alguns se formalizando como MEI, que tem CNPJ, mas é um movimento muito de base do varejo; é a cara da crise. Quando se tem um período de crise forte, tende a crescer muito o MEI. É fruto do desemprego.

Mesmo assim, é uma realidade pujante no DF. O que o Sebrae pode fazer por esses novos microempreendedores?

O Sebrae tem duas intervenções fundamentais, transformadoras. Uma é capacitação, a outra é consultoria. A capacitação transforma a cabeça do empreendedor, a consultoria transforma o negócio. É preciso que caminhem juntas, para que haja sinergia. A grande contribuição do Sebrae para ajudar MEI e pequenas empresas a terem seus próprios parâmetros, buscarem uma mudança total no empreendimento.

E agora o Sebrae-DF amplia o leque de auxílio funcional, inclusive no tempo de oferta. Como se darão essas iniciativas?

No ano de 2020, em função da pandemia e da crise, tomamos a iniciativa de ofertar consultorias gratuitas. Esperávamos que 2021 começasse com uma retomada da economia, e fomos surpreendidos com uma nova onda, aparentemente mais forte, que vai impactar na nossa economia. Resolvemos ampliar a oferta, estendendo o prazo e ampliando o escopo inicial. Entendemos que as necessidades dos pequenos negócios precisam de um entendimento mais completo.

Então muda o enfoque das consultorias?

Partimos para atender implantação de delivery, que virou uma grande necessidade para esse mercado. Abrimos oportunidades para que os empreendedores possam precificar produtos e serviços. Tivemos um olhar especial para o segmento da gastronomia, com consultoria de formação de cardápio. Os processos mudaram, muitos estão operando no sistema delivery, essa realidade muda em termos de custos. Por fim, nós também lançamos uma consultoria gratuita de orientação básica para questões sanitárias relacionadas à covid.

Em meio a uma pandemia, esse é um ponto importante. Como são colocados os riscos sanitários?

São orientações básicas para a devida proteção. Quem tem uma pequena loja, um restaurante, um bar, ou mesmo quem faz prestação de serviço, precisa de um protocolo de segurança próprio. Com essa consultoria, vamos oferecer esse protocolo inicial para que eles possam embasar medidas de segurança personalizadas. É uma alternativa do Sebrae para contornar questões financeiras, já que é caro tomar todas as precauções devidas contra a covid-19. O que é fundamental é trazer uma consciência do momento que vivemos. Não podemos deixar que as incertezas tomem conta dos negócios, porque cada fechamento ou suspensão causa um prejuízo muito grande.

Quais as formas de acesso às consultorias?

As consultorias estão abertas desde hoje até o dia 30 de junho. Através da central, no número 0800 570 0800, os empreendedores podem buscar um atendimento e serão orientados. Queremos atingir a contratação de cem mil horas de consultoria de forma gratuita só no primeiro semestre. É o maior investimento de consultoria do Sebrae-DF. No momento de maior dificuldade da economia, quem tem compromisso com Brasília não pode se omitir, e a gente não se omitiu. Nosso casamento com o empreendedorismo é no amor e na dor.

Há antagonismo entre o grito de empreendedores pela volta do comércio e de pessoas que pressionam por medida de proteção sanitária mais duras. O Sebrae-DF pode ser um meio-campo nessa discussão?

O Sebrae DF, desde o princípio, tem se posicionado de forma a não debater a questão médica do vírus. Não temos competência para isso. Também entendemos que todas as vidas são importantes, não dá para sobrepor o comércio à vida. Nós temos que ajudar empreendedores e governo com as medidas tomadas. Quem toma a decisão sobre lockdown é o governo, porque ele está medindo as consequências, está acompanhando junto a especialistas. Se há lockdown, vamos ajudar os empreendedores. É lamentável que tenham politizado esse debate, que se tornou um momento tão difícil para o país e para Brasília. Um alerta precisa ser feito: não tem como parar o comércio sem subsídios para sobrevivência.

Houve boas ações governamentais para garantir renda mesmo com isolamento social?

Desde o ano passado eu bato na tecla de uma política de renda mínima empresarial. Alguns microempresários não foram atendidos pelos auxílios, nem pelos créditos. Precisa de um apoio do governo federal. Por que federal? Porque quem tem capacidade de gerar recursos e se endividar é o governo federal. Precisamos de uma política de renda mínima.

O GDF, por meio do BRB, lançou linhas de crédito para micro e pequenas empresas endividadas graças à pandemia. Foi uma ação positiva?

Todo crédito ajuda, independente dos custos da operação. O GDF, apesar das limitações, lançou auxílio e lançou créditos através do BRB com os menores juros do mercado. Isso foi importante, mas precisamos separar quem precisa de crédito para alavancar um negócio e uma pessoa que quebrou, não tem operação e precisa de sobrevivência, como comida. Sem dúvida, o GDF já atuou fortemente – saiu na frente, inclusive. O BRB foi o primeiro banco a lançar operação de crédito com taxa de juros, mas ele tem limitações. A União tem que agir.

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