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Brasília

Da estabilidade ao caos: como a vida pode mudar num instante

Moradores deixam prédio em Samambaia Sul por risco de desabamento e contam como é ter de mudar rotina repentinamente para escapar de desastre

Amanda Karolyne

22/02/2024 6h42

Ivelton Soares e o filho Carlos Eduardo, moradores do prédio em risco de desabar em Samambaia. Foto: Amanda Karolyne

A Defesa Civil do DF identificou risco de desabamento do prédio localizado na QN 122 da Samambaia Sul. O local havia sido esvaziado pelo Corpo de Bombeiros Militar do DF, nesta segunda-feira (19).

Felipe Elvas Barbosa, era o locatário de uma loja no prédio, um salão de beleza. Ele conta que um dos moradores dos andares superiores notou algumas rachaduras que começaram a surgir do sábado para o domingo. “E aí um dos moradores fez os vídeos e mostrou para a gente. E o Fabrício aqui do salão acionou a Defesa Civil e os bombeiros”.

Ao serem informados pelos bombeiros que já não era mais mais seguro ter pessoas dentro do edifício, eles foram retirados do local. “Aí com o apoio da Defesa Civil, a gente foi tirando os pertences das lojas desde de segunda-feira à noite”. Ele conta que algumas pessoas não conseguiram tirar todos os pertences, por ser difícil o acesso. “Só podia entrar uma pessoa por vez e com a presença da Defesa Civil”.

Felipe Elvas Barbosa, locatário de uma loja no prédio em risco de desabar em Samambaia. Foto: Amanda Karolyne/Jornal de Brasília

Ele conta que teve sorte de ter uma loja em frente ao prédio, que ele conseguiu alugar para transferir as coisas do salão. “Mas para a gente não é fácil porque tivemos que despender todo investimento nesse outro aluguel”. Ele tinha acabado de fazer uma reforma na loja, com pintura, divisórias e outras melhorias no espaço. “E foi tudo perdido. E a gente não consegue não consegue tirar tudo de lá”. Felipe foi inquilino do prédio desde 2011. O contrato anterior foi até 2015, e ele havia retornado para o edifício em 2021. “Infelizmente não queria sair, porque a gente forma a clientela, a gente cria um vínculo com o local, e é o nosso ganha pão”. Junto com ele, mais cinco empreendedores dependem da renda do salão.

Segundo Felipe, o imóvel é administrado por herdeiros do antigo dono, através de uma imobiliária. “Até onde a gente sabe, eles deram um suporte para os moradores com hotel, com aluguel e até algumas casas que pertencem a eles, foram oferecidas para outras famílias se abrigarem”. Os representantes dos proprietários foram procurados pela equipe de reportagem do Jornal de Brasília, e até o final desta edição, não haviam respondido.

O bancário Ivelton Soares, 46 anos, tinha alugado duas kitnets do edifício, e explica que a kit que começou a rachar, foi a que o filho estava. “Na verdade, o que aconteceu foi o seguinte. Foi construído os dois prédios. Mas o que não está habitado foi construído primeiro”, pontua. O primeiro lote foi construído com a estrutura certa, mas quando o segundo edifício foi construído, ficou um colado no outro. “E ele não fez parede para dividir um do outro, para aproveitar a estrutura do prédio antigo”.

Ele descreve que é como se uma pessoa tivesse comprado uma casa, mas o vizinho chega e constrói a casa ao lado, sem fazer parede. “É o que está acontecendo lá. E o outro prédio que não tem moradores que está desmoronando”. A laje lá está toda rachada, como Ivelton conta. “Literalmente aproveitaram a parede do outro prédio”.

Ivelton está morando neste prédio desde o dia 26 de janeiro, e até semana passada estava tudo tranquilo. “Não tinha rachadura, não dava para escutar barulho, era tranquilo”. No final de semana, a esposa de Ivelton foi na kitnet ao lado, onde os filhos estavam, e voltou com os colchões dizendo que as paredes estavam estalando. “Quando eu fui lá olhar o que estava acontecendo, a parede estava descolando”. Na segunda-feira (19), as kitnets de cima estavam 4 centímetros mais largas.

A imobiliária que administra o espólio, chegou a oferecer uma casa para eles ficarem. “Não sei se estão oferecendo suporte para outros moradores, mas da minha parte, eles deram apoio e tudo”. Hoje ele e a família estão ficando na casa de um amigo. Inclusive, ele não conseguiu pegar os pertences no apartamento. Só pegou as roupas das crianças. “Só lembrei ontem que tinha umas roupas que tinha trago para a casa desses amigos para doar. E estou usando algumas delas”. Ele está arrependido de não ter acionado o seguro a tempo, porque havia se mudado no mês passado. “Se tivesse acionado o seguro eu estava tranquilo. Agora eu aprendi que a gente tem que ser agil”.

A escritora Rafaela Carolina, é ex-moradora do prédio, e conta que 15 anos atrás, quando morava lá, já escutava barulhos e estalos nas paredes. “Quando chovia, já entrava muita água, pelo menos na kitnet que eu morava, já existia esses problemas”. Ela afirma que quando o metrô passava, dava para sentir a estrutura do ambiente tremer.

A evacuação do prédio

O edifício é de uso misto, residencial e comercial. Ele apresentava rachaduras nas paredes dos apartamentos. A equipe dos bombeiros de imediato fez uma inspeção minuciosa nos apartamentos da edificação. E ao conversar com os moradores, foram informados sobre barulhos vindo da estrutura do prédio. Foi observado também o surgimento de rachaduras que mediam mais de dois centímetros nas paredes de compartimentação do prédio.

No prédio, moram três famílias, num total de 9 pessoas, e também funcionava no térreo uma loja (salão de beleza). Segundo a Subsecretaria do Sistema de Defesa Civil (Sudec), vinculada à Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP/DF) na noite de segunda-feira (19), pela CBMDF para realizar uma vistoria em dois imóveis multifamiliares de uso misto, na QN 122, Conjunto 13, Samambaia Sul. Na ação, foi verificado que os prédios de dois andares (lotes 2 e 3) apresentavam rachaduras na parede lateral que divide os dois imóveis, sendo observadas diversas rachaduras nos apartamentos do lote 3.

A Defesa Civil solicitou que a imobiliária responsável pela edificação, fizesse um laudo técnico elaborado por uma empresa ou profissional habilitado. O documento deve atestar a segurança estrutural, indicando as causas e possíveis soluções para mitigação dos riscos encontrados. Ambos os imóveis foram evacuados, isolados e interditados por tempo indeterminado.

Ainda de acordo com as informações da Defesa Civil, a imobiliária responsável se disponibilizou a realocar os moradores e providenciar o cumprimento das exigências do órgão. Apenas três apartamentos eram ocupados por sete moradores, os quais informaram que iriam para a casa de parentes e amigos.

Na terça-feira (20), um engenheiro da Defesa Civil esteve no local reforçando a interdição e permitiu a entrada de ocupantes de forma rápida e segura, acompanhados por militares do CBMDF, para que pudessem retirar alguns bens essenciais. Foi feito um novo termo de notificação com exigências de escoramentos em partes da edificação.

A retirada de pertences essenciais e alimentos foi autorizada nesta quarta-feira (21), nas duas unidades habitacionais e na parte comercial do prédio. A Defesa Civil coordenou, acompanhou e auxiliou na ação de retirada dos pertences. Após a operação, foi feito um reforço na sinalização de interdição do local. Caso observado pelos moradores e comerciantes da região, que a movimentação nos dois imóveis, eles foram orientados a acionar a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).

Além disso, os padrões de energia elétrica e o abastecimento de água da rede pública foram desligados, e a água dos reservatórios superiores foi drenada para aliviar a carga sobre o edifício do lote 3.

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