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Brasília

Criação punitiva pode gerar adultos problemáticos, dizem especialistas

Para tais formas de criação punitiva, surgiram vertentes alternativas que mostram possibilidades de uma criação mais consciente

Agência UniCeub

31/10/2020 23h00

Foto: Andre Borges/Agência Brasília

Casa de Ismael, Asa Norte, Plano Piloto, Brasília, DF, Brasil 17/5/2017 Foto: Andre Borges/Agência Brasília. As instituições de acolhimento abrigam cerca de 400 crianças e adolescentes no Distrito Federal. O dado é da Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, que promove ações para minimizar o impacto do abandono, em ambiente dotado de boas condições. Todas as entidades que amparam esses jovens recebem orientações pedagógicas e metodológicas, repassados pela equipe da pasta, cuja prestação de serviços não só atende crianças e adolescentes à espera de um lar adotivo, como também jovens afastados provisoriamente do núcleo familiar.

Evellyn Luchetta, Geovanna Bispo e Mayra Christie
Jornal de Brasília/Agência UniCeub

Um universo de informações punitivas pode gerar problemas até na formação dos adultos. A pesquisadora e educadora Heloiza Chaves cita que os meios externos também podem influenciar negativamente futuros adultos. “Nós podemos perceber atualmente que muitos adultos vem procurando a psicologia para ajudarem em algumas questões, como baixa autoestima, de começarem uma coisa e não conseguir terminar, resiliência. E quando você trabalha com a criança desde a base, você faz com que ela seja esse adulto encorajado”, afirma Heloiza Chaves, educadora parental.

 “Os pais não são os únicos culpados por esse adultos, o meio externo e outras relações também interferem. Porém, com uma base de apego bem firmada, o respeito e autoconfiança, projetam essas relações que a criança fará ao longo da vida.”

Para tais formas de criação punitiva, surgiram vertentes alternativas que mostram possibilidades de uma criação mais consciente. Heloiza Chaves. afirma que existem três teorias principais que se relacionam. “A teoria do apego é um vínculo estabelecido dos familiares com a criança. A disciplina positiva traz ferramentas de desconstrução que poderiam ser aplicados nas crianças. E a criação neurocompatível seria a aplicação delas conforme o crescimento cerebral, conforme a criança fosse capaz de entender essas aplicações.”

O sintoma do afeto…

Segundo Vaneska Martins, psicóloga com especialização em atendimento infantil, o primeiro contato de afeto da criança deve acontecer com a família. “A família tem uma responsabilidade muito grande na formação que teremos quando adultos. É a partir desse primeiro contato que começamos essa formação”.

A especialista entende que crianças que crescem em criações punitivas não necessariamente vão sempre se tornar adultos problemáticos. “Não existe uma regra, a família, é a nossa primeira base de relações sociais, porém no decorrer da nossa vida, a gente parte para outros tipos de relações sociais, como por exemplo, a escola, então a gente vai aprendendo coisas nessa somatória de convivências sociais”.

…E da violência

Segundo o Fundo Nacional das Nações Unidas para a Infância, o trabalho infantil, abuso sexual e a violência familiar são comuns na vida de milhões de crianças e adolescentes. Ainda sobre a violência, o relatório de 2019 da Associação Brasileira de Pediatria (SBP) mostra que aproximadamente 233 crianças e adolescentes são agredidos física ou psicologicamente diariamente no país. Sendo baseado em dados do Sistema Nacional de Agravos de notificação (Sinan), esse número representa apenas casos notificados.

Esses problemas podem se tornar causadores de danos emocionais que afetam diretamente a criança até a vida adulta e tais traumas não precisam chegar à violências graves, como o estupro. A falta de afeto e uma criação punitiva pode estar intrinsecamente relacionadas a futuros comportamentos, transtornos e até abuso de drogas e fumo.  É o que explica a pesquisa do Instituto de Ciências Sociais Quantitativas, da Universidade de Harvard. “As descobertas da pesquisa ajudam a fortalecer o apelo por um foco na importância da família para resultados além da infância e na idade adulta”. O levantamento ainda sugere que esses valores poderiam influenciar na melhoria da saúde populacional.

Foto: Andre Borges/Agência Brasília.

As influências que essas estratégias de criação refletem na vida adulta são opostas às que não contém afeto e apresentam agressões diversas. Segundo Heloiza, que cita o psicanalista, pedagogo e psicoterapeuta Alfred Adler As crianças que são encorajadas, que tem uma autoestima mais reforçada, um autoconhecimento, uma autoconfiança, crescem adultos emocionalmente estáveis”. 

Para exemplificar como evitar esses problemas, Heloiza Chaves define atitudes que a família pode tomar para exercer criações mais afetuosas. “É importante ofertar escolhas às crianças, porque se não elas vão ser sempre colocadas a obedecer e quando crescerem procurarão outras bases para obedecer, ele não crescem com um senso crítico.”

Vaneska Martins destaca também outras formas de solução para os problemas abordados, segundo a psicóloga, uma das soluções seria a busca por terapia. “O primeiro passo seria que os pais tomassem consciência do que foram como filhos antes, seria importante que as pessoas fizessem terapia pois, a partir do momento que eu me conheço e me curo, consigo oferecer para o próximo aquilo que eu não tive de forma saudável, sem cobranças, sem uma criação contaminada com as nossas próprias dores”.

“É bonito ver como ela se desenvolve e se desenrola sozinha”, conta Heloiza, que aplica a criação neurocompatível com a filha de 1 ano e 2 meses, que, de acordo com a educadora, já apresenta uma personalidade forte. “Eu não fico reprimindo a personalidade dela, ainda que isso fira um pouco a minha, afinal, eu queria realmente que ela fizesse tudo que eu mandasse”, brinca Heloiza, usando como exemplo a reação da pequena Maria Luiza quando contrariada: “Ela é dominante, ela quer fazer a escolha. Quando eu tiro dela um objeto que ela gosta, ela se irrita muito”, enfatiza.

“Hoje eu sei que ela é novinha, mas também sei que lá para os 2 ou 3 anos o desenvolvimento cerebral intensifica isso, ou seja, o bicho vai pegar ainda mais pra frente”, completa a especialista.

Heloiza compartilha ainda que, a atividade desperta um exercício diário de autoanálise. “É exercitar a paciência, é curar a minha criança ferida. Mas o que une tudo isso é vínculo, é o amor e a beleza da maternidade”.

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