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Brasília

Coronavírus: funcionários de asilos redobram cuidados

Lares de idosos adotam banhos e troca de roupas antes do início do trabalho

Vítor Mendonça

17/04/2020 6h33

Vítor Mendonça
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Quando se trata de cuidar da vida daqueles considerados grupo de risco em tempos de coronavírus, o desafio é diário e complexo. Cerca de 15% dos casos de covid-19 no Distrito Federal estão concentrados na faixa etária acima dos 60 anos de idade. Dependendo de outros fatores, a doença pode ser fatal. Em casas de idosos, medidas de prevenção aos funcionários foram tomadas para garantir que parte do grupo mais vulnerável desta pandemia enfrente o período de forma segura.

Pensando na fragilidade dessa população, o Lar dos Velhinhos Maria Madalena, do Instituto Integridade, no Núcleo Bandeirante, e a associação Vital Lar, no Gama, estabeleceram que os funcionários de cada uma das casas somente comecem a exercer as atividades de cuidado após um banho nos vestiários das unidades. Nos dois locais, a higienização é constantemente reforçada e realizada conforme as instruções passadas pelos órgãos de saúde do DF, Brasil e mundo. Além de visitas de familiares e voluntários, os passeios, comuns anteriormente, também foram suspensos. Os internos conversam com parentes por videoconferências.

O Instituto Integridade, que administra a casa de idosos no Núcleo Bandeirante, também adotou sistema de desinfecção dos veículos da organização. Em carros e caminhões, solução química desinfetante é lançada nos pneus e latarias como medida de higienização. Somente está autorizada a entrada da frota da instituição. Pelos mesmos motivos de segurança, os funcionários do local passaram a estacionar no espaço externo da casa.

Troca de roupa e álcool

“Eu estou passando tanto álcool em gel que estou com medo de ser parado em uma blitz e me multarem por detectarem álcool no meu organismo”, brinca Leonardo Tavares, psicólogo do Lar dos Velhinhos Maria Madalena. De acordo com ele, os cuidados para manter a saúde dos idosos preservada do novo coronavírus ultrapassam a higienização no local de trabalho. “Chego [na instituição] com uma roupa e troco pela que uso aqui. […] Em casa eu preparei aquela ‘área suja’ que os especialistas recomendam ter para quando chegar da rua. Ali eu tiro minha roupa, coloco dentro de uma sacola separada e vou tomar outro banho.”

De acordo com o psicólogo, a aproximação com os moradores do lar também passou a ser reduzida. “Hoje em dia, em virtude da covid-19 e das orientações dos órgãos de saúde, nós evitamos o contato com os idosos da casa para resguardar a saúde deles. Alguns chegaram a questionar esse distanciamento, mas nós explicamos o porquê de tais medidas e tais ações”, relata Leonardo. Todas as informações sobre a doença já foram passadas para os abrigados, segundo a instituição.

A assistente social Lorena Sidor, 25, que também trabalha na instituição do Núcleo Bandeirante, afirmou que a falta de contato físico nesta quarentena e as constantes notícias negativas sobre o quadro mundial frente ao coronavírus gerou certa melancolia nos idosos. “De início observamos que eles estavam um pouco mais depressivos. Associamos isso ao excesso de informações sobre o assunto e montamos estratégias para tentar reverter. Entre outras coisas, controlamos o acesso às notícias pela TV. Eles sabem do que está acontecendo, porque têm acesso pela internet, mas não está como antes, sem nenhum tipo de filtro”, explicou. Segundo ela, os televisores agora transmitem canais de histórias, músicas e clipes. A transmissão dos principais jornais e noticiários, entretanto, se mantém.

Moradora do Núcleo Bandeirante, a assistente social garantiu que “o cuidado aqui [Lar dos Velhinhos Maria Madalena] é o mesmo dentro de casa”. Da família, ela é quem tem saído de casa nesta quarentena, enquanto “o marido faz home office e o home babá” com o filho, brinca. Apesar do DF concentrar os melhores índices de isolamento do país, Lorena considera que a preocupação não tem sido geral. “Boa parte da população já se mobilizou e está envolvida no processo, mas precisa melhorar. Penso que os afrouxamentos do isolamento e a posição do presidente, isso acaba encorajando as pessoas a saírem mais de casa, o que é muito sério”, opina.

Casas precisam de doações

Na clínica Vital Lar, algumas atividades em grupos também foram restringidas. As terapias que envolviam mais pessoas foram adaptadas para que o número de pessoas fosse reduzido, além do quadro de funcionários, como explica a enfermeira responsável da casa, Ana Isabel. “Nós mudamos a escala e diminuímos a quantidade de pessoas vindo de fora e a movimentação aqui dentro. Também fizemos uma reunião com os funcionários para mantenham os cuidados fora da clínica também.” O contato com os velhinhos da instituição não é mais como antigamente. “Estamos mantendo uma distância e o contato maior só acontece em questões como banho e para colocá-los na cama, que não há como evitar”, continua Isabel.

Gracilene Pinheiro é uma das funcionárias da clínica para idosos e conta que os cuidados de higiene se estendem para além do ambiente de trabalho, onde passa 12 horas do dia. “Quando vou para casa, tiro a roupa da clínica no trabalho mesmo e coloco a minha para ir. Chegando lá [em sua residência], já vou tomar outro banho e a roupa que usei, por mais que tenha passado pouco tempo na rua, coloco dentro de uma sacola e em seguida coloco para lavar”, relata.

Segundo a cuidadora, os idosos sentem falta do contato físico, mas entendem que as mudanças são necessárias para a própria segurança. “Eles são bem carinhosos. Só podemos fazer todos os procedimentos se estivermos equipados, e eles ainda pedem abraço. Tivemos uma reunião sobre como lidar com essa situação e eles também tiveram uma pequena palestra para manter as higienes conforme as orientações de saúde”, disse.

Doações

Apesar de não ter visitas de voluntários, o Lar dos Velhinhos Maria Madalena ainda recebe doações. De acordo com o psicólogo Leonardo, os itens necessários atualmente são fraldas geriátricas tamanho G, e alimentos ricos em proteína, como carnes e frango. As entregas podem ser feitas na entrada do local.

Uma das pessoas que se mobilizou para ajudar o abrigo foi Joelma Bonfim, 41, profissional de saúde na rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, que entregou mantimentos recolhidos em um projeto chamado “Empatia que contagia”, criado nesta semana com o marido Thiago. “É algo simples entre amigos e divulgamos no trabalho. Conseguimos 174 kg de alimentos de segunda para terça”, comentou. “A gente ouve a vida toda do aconselhamento de Jesus pelo amor ao próximo. E, nesse momento de crise, fazemos uma reflexão e percebemos que são nessas horas que o sentimento de bondade precisa aflorar“.

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