Renata Werneck
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Na internet, a polêmica da vez gira em torno da presença de crianças em restaurantes. Um comentário da apresentadora de programas de gastronomia Raiza Costa causou alvoroço nas redes sociais nos últimos dias. A artista do Dulce Delight (Youtube) e do Rainha da Cocada (GNT) defendeu a proibição da entrada de menores de 14 anos nos estabelecimentos, e o assunto dividiu opiniões. Menos de 24 horas depois, a publicação foi apagada, ao contrário da discussão, que estava apenas começando.
A cineasta confeiteira argumentou que, na França, muitos restaurantes já proibem a entrada de crianças e que não vê problema se tal medida fosse tomada no Brasil. “Pensa só nos pais que pagam uma babá para finalmente saírem pra namorar tranquilões e, chegando lá, são obrigados a aturar o choro do filho alheio”, complementou.
Ela ainda acrescentou que não há nada demais em “estabelecimentos proporcionarem momentos românticos sem incluir show de break dance esperneando no chão, regado a berros de ‘eu quero batata frita!’”.
O Instituto de Defesa do Consumidor (Procon-DF) esclarece que um estabelecimento como um restaurante não pode limitar o acesso de crianças, principalmente se elas estiverem acompanhadas de seus pais ou responsáveis. O negócio só pode impedir a entrada se for considerado nocivo ao jovem. Até então, o órgão ainda não recebeu nenhuma reclamação relacionada ao assunto.
Legislação
O artigo 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência ou discriminação.
Há ainda alguns projetos de lei no Congresso que buscam ser mais específicos. O PL 2004/15, do deputado Mário Heringer (PDT-MG), por exemplo, tenta “proibir estabelecimentos comerciais de impedirem o acesso; de recusarem o atendimento; ou de imporem cobrança adicional pela presença de crianças ou adolescentes em suas dependências, ressalvados os casos previstos em lei”.
“O simbolismo que reúne, em um mesmo produto, romantismo, relaxamento, exclusividade, alta gastronomia e requinte, transforma o símbolo angelical de pureza e alegria da criança em seu avesso: um ser diabólico, inconveniente, intolerável, mal educado?”, questiona Heringer.
Pequenos bem acolhidos
O Jornal de Brasília ouviu donos de renomados restaurantes da capital para saber o que eles acham da proibição. O proprietário do Dom Francisco, Francisco Ansiliero, é contrário à restrição. Para ele, a família é muito importante e tem que se sentir aceita.
“A sociedade de hoje vê a criança como um ser do passado e eu não penso assim. O bom restaurante é aquele que tem condições de fazer comida e receber toda a família, inclusive idosos e crianças”, afirma.
Quando as filhas de Ansiliero eram pequenas, se a família dele ia a um restaurante e não tinha um menu ou uma cadeira especial para as pequenas, eles não voltavam mais. “O ideal seria que os restaurantes tentassem reproduzir o ambiente onde as famílias fazem suas refeições”, diz o chef. “Não acho que vamos adotar esse padrão aqui no Brasil, não faz nosso estilo. Com as crianças, o ambiente fica mais alegre e festivo”, completa.
Rosario Tessier, dono do restaurante Trattoria da Rosario, ressalta a importância de levar os pequenos. “A criança se tornará adulta e precisa saber como se comportar. Então, tem que ir se acostumando para saber como as coisas funcionam”, acredita.
O restaurante é conhecido na capital por atrair casais, mas, segundo Rosario, as crianças que frequentam o local nunca trouxeram problemas ao estabelecimento. “Acredito que essa moda não pega aqui em Brasília. O brasileiro é muito ligado à família. Se ele chegar em um lugar em que não pode entrar com o filho, ele vai procurar outro”.