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Brasília

Com preços da gasolina subindo em alta velocidade, brasilienses descartam os carros

A guerra entre Rússia e Ucrânia pode aumentar ainda mais o preço dos combustíveis no DF e prejudicar a venda de veículos. Para economizar, bicicletas e idas a pé são alternativas de moradores

Redação Jornal de Brasília

09/03/2022 18h43

Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

Por Gabriel de Sousa
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Com o passar do tempo, o sonho da compra do carro próprio parece ser algo distante dos planejamentos dos brasilienses. Acontece que, por conta dos altos preços dos combustíveis e das peças automotivas, andar a pé, pedalar, ou usar o transporte público, se tornou uma alternativa mais viável para o bolso dos moradores.

Ter um automóvel para si foi um desejo realizado pela estudante de jornalismo, Rayssa Carneiro, que ganhou um Ford Ka modelo 2013 há dois anos atrás. A jovem de 22 anos comenta que nos primeiros meses, gostava de ir para cidades mais afastadas do DF e comparecer em eventos realizados na capital. “Eu era bem aventureira. Viajava, ia para o Gama, fui na feira do morango, da uva. Poder ir e vir de forma confortável é o sonho de muita gente”, relembra.

Porém, com o aumento dos preços da gasolina, Rayssa optou por guardar o seu antigo companheiro de aventuras na sua garagem, que segundo ela, está cada vez mais difícil de manter. Agora, a jovem opta por opções mais rentáveis, como pegar os ônibus nas paradas da Candangolândia, onde reside.

“Especialmente no último ano, arcar com os custos do carro têm sido algo quase impossível com a gasolina sendo reajustada de forma constante, eu acabei precisando optar pelos transportes públicos mais uma vez, e deixar o carro para ser usado apenas em trajetos curtos ou em situações que realmente sejam necessárias”, comenta a estudante.

Nunca tive vontade, agora bem menos

Enquanto que jovens que conseguiram possuir um carro próprio abrem mão dos seus sonhos, outros acham que a vontade de ter um automóvel particular fica ainda bem mais distante com os altos preços estampados nas placas dos postos de combustíveis.

É o que acontece com o biólogo Oliver dos Santos, que apaixonado por ciclismo, observa que a paixão por apenas pedalar aumenta cada vez mais ao ver os gastos dos que preferem usar seus carros:

“Nunca fui fã de carro, sempre gostei de pedalar para todos os lugares. Eu trabalho perto de onde eu moro e vejo que é um privilégio, por isso, acho que não gastar com gasolina e ainda se exercitar diariamente é mais rentável em muitos sentidos”, afirma.

O biólogo de 26 anos diz que as pessoas da sua família decidiram seguir o seu caminho, e decidiram vender seus veículos para comprar bicicletas para o cotidiano, investindo em outras opções de transporte. Mas Oliver observa que o automóvel é imprescindível em certas ocasiões, e que o alto custo pode pesar na economia dos parentes.

“É complicado quando a gente precisa visitar um familiar que mora longe, ou ter que resolver coisas, mas no fim, a opção barata sempre é a que mais vale no fim. Não é justo pagar mais de sete reais [preço da gasolina] para ir e vir”, conclui o jovem.

Guerra na Ucrânia contribui para o aumento do preço da gasolina

O conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia no leste europeu já pode estar causando efeitos na economia do Distrito Federal. É o que alerta o Sindicato dos Combustíveis do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), que prevê um aumento de até R$ 0,70 no preço dos combustíveis por conta da guerra entre os dois países.

Mesmo estando a mais de 10 mil quilômetros da zona de conflito, esses efeitos já podem ser sentidos pela população da capital federal, que nesta semana tiveram que pagar até R$ 7,47 por litro de combustível em alguns postos da Asa Sul. No final de fevereiro, antes do ínicio dos embates na Europa, o preço médio estava entre R$ 6,74.

As sanções econômicas feitas pelos países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) aos russos, país fornecedor de petróleo, motivaram a inconsistência do preço dos combustíveis, que muito já haviam sofrido com aumentos devido à pandemia de coronavírus.

Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os efeitos da guerra podem prejudicar também a fabricação de carros no país, já que algumas matérias-primas são oriundas de importação da Rússia e Ucrânia: “É uma brutalidade assustadora”.

Setor de comércio de carros espera vencer período de aflição

Segundo José Neto, presidente da Agenciauto DF, o setor de vendas de automóveis usados enxerga com apreensão os fatos que ocorrem no exterior. Neto, porém, confia que os vendedores superem o período e que os empresários não saiam no prejuízo devido ao período de guerra na Europa.

“O mercado em geral sente, não só o comércio de carros. Geralmente o movimento começa depois do feriadão de Carnaval. Mas é claro que essa questão dessa guerra no mundo, isso tem gerado incertezas e isso vem se refletindo nas vendas. Mas nós estamos confiantes e preparamos estoques para que a gente tenha um número expressivo de vendas”, afirma José Neto.

O presidente da Agenciauto relembra com otimismo que o mercado de seminovos no DF teve um grande sucesso de vendas em março do ano passado, quando a segunda onda de coronavírus castigou o comércio distrital, obrigando o governador Ibaneis Rocha (MDB) a decretar um lockdown ao longo daquele mês. “No auge da pandemia a gente conseguiu vender mais de 17 mil carros. A gente espera também que neste ano a gente consiga superar as nossas expectativas”, conclui o presidente confiantemente.

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