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Brasília

Ciclistas pedem mais atenção das autoridades

Depois de registrar 39 mortes em 2 anos, grupo organiza Manifesto pela Vida no Trânsito

Redação Jornal de Brasília

02/02/2021 6h15

CICLISTASFotos fornecidas pelo fundador do Grupo CCO, Roberth Kennedy.

Mayra Dias
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“Hoje é cada um por si e Deus por todos”, lamenta Roberth Kennedy, Presidente da Associação dos Ciclistas GO/DF e Fundador do Grupo CCO (Ciclismo Centro Oeste).

Segundo dados do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), apenas no ano de 2020, 16 ciclistas perderam a vida em acidentes de trânsito na capital, número menor que em 2019, quando 23 óbitos foram registrados. Em dois anos, foram 39 vidas perdidas. Para o doutor em trânsito da Estácio Brasília, Arthur Moraes, os números são reflexo de motoristas negligentes e infraestrutura precária.

Após um ato organizado pelos ciclistas do DF, intitulado Manifesto pela Vida no Trânsito, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) enviou ofício à Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (Semob) para saber quais providências a pasta irá tomar com relação à situação.

O argumento dos cicloativistas é que a atual política de mobilidade urbana adotada pelo Governo do Distrito Federal (GDF) prioriza o automóvel como meio de transporte, proporcionando a estes maior investimento com infraestrutura e espaços para circulação. “Enquanto isso, pedestres, ciclistas e usuários de outros modais de transporte sofrem com o descaso dos órgãos de trânsito”, declaram em manifesto.

Na avaliação de Arthur Moraes, a ideia de que as pistas não são locais para as bicicletas é ultrapassada. “A bicicleta já deixou, há muito tempo, de ser brincadeira, e hoje é um meio de transporte como os outros. Muitas pessoas vão para escola ou para o trabalho de bicicleta”, argumenta. O especialista ainda completa que o ciclismo em si, não é uma prática perigosa. “Perigosos são os motoristas que colocam em risco a vida dos ciclistas. Perigosa é a infraestrutura inadequada que é fornecida para eles”, destaca.

Segundo Raphael Dorneles, coordenador da ONG Rodas da Paz, responsável pelo manifesto, a decisão de escrever o documento se deu em outubro do ano passado, após quatro mortes de ciclistas serem registradas em um só mês. A principal reivindicação do grupo é, desta forma, a criação de um comitê para avaliar as mortes de ciclistas nas rodovias do DF, que vem tomando maior proporção desde o ano de 2018.

Das 16 mortes de 2020, quatro ocorreram nas vias urbanas, que são de responsabilidade do Detran; sete em rodovias distritais, que ficam a cargo do Departamento de Estradas de Rodagem (DER); e cinco em rodovias federais que cortam a capital, que ficam na competência da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Na avaliação do professor da Estácio Brasília, os acidentes mais comuns e fatais ocorridos com bicicletas são os atropelamentos. “Os motoristas devem ter mais respeito com relação aos ciclistas. Qualquer erro que eles cometam próximo a quem está de bicicleta pode ser fatal. Deve-se ter consideração e consciência”, salienta. A recomendação do profissional para os motoristas é, desta forma, empatia. “Ao ver um ciclista, lembre que pode ser um filho, um irmão, um pai, se coloque no lugar daquele ciclista e reflita se o que você irá fazer pode ocasionar um acidente”, enfatiza Arthur.

Roberth foi uma das poucas vítimas que sobreviveu a um acidente dessa natureza. O ciclista conta que, diversas vezes, se encontrou diante de situações que poderiam ter sido fatais. “As mais comuns são quando o motorista não dá preferência ao ciclista, e muitos usam o acostamento como faixa de ultrapassagem, nos jogando para fora da pista”, relembra o cicloativista que já sofreu traumatismo craniano devido a um sinistro de trânsito. Infelizmente, casos como o de Roberth não são comuns. “Já perdi muitos amigos próximos ”, lamenta o fundador do grupo CCO.

No ano passado, Amanda Rocha do Nascimento, de 21 anos, foi uma das vítimas fatais de colisão. Ela foi atropelada na cidade do Gama, no dia 10 de novembro, e morreu no hospital. A jovem foi atingida por um Fox, conduzido por Vinicius Monteiro do Vale, de 18 anos.

ONG espera ação de poder público

Para Arthur Moraes, algumas medidas essenciais devem vir das autoridades para reverter o cenário. Como explica o professor, há uma grande deficiência com relação às campanhas de informação e investimentos em infraestruturas seguras. “Devemos atacar e cobrar os motoristas negligentes, pois são eles que oferecem riscos ao trânsito, mas também reivindicar uma infraestrutura segura para as bicicletas transitarem”, afirma. Quanto às medidas, o Ministério Público pediu que a Semob forneça “informações sobre providências adotadas em relação ao referido manifesto” em até 10 dias. O ofício foi assinado em 20 de janeiro.

A União de Ciclistas do Brasil (UCB), é um dos grupos associados à ONG Rodas da Paz, e revela que o objetivo do manifesto é um alerta efetivo. “Queremos alertar a opinião pública e o poder público que ciclistas estão sendo assassinados nas vias públicas das grandes cidades, mas principalmente do Distrito Federal”, ressaltam os coordenadores Yuriê Baptista e Milvo Rossarola. “Espera-se que o poder público cumpra a responsabilidade de garantir a segurança do livre deslocamento por parte de ciclistas e a sociedade entenda que em uma bicicleta há uma vida que merece ser respeitada”, sustentam.

Fiscalização precária

Para os coordenadores do grupo, a fiscalização ainda é precária, e muitos julgamentos de crimes desta natureza ainda são banalizados. “Temos um baixo número de infrações registradas contra pedestres e ciclistas, além de uma banalização no julgamento dos crimes de trânsito, diante deste cenário o alto índice de impunidade se confirma”, atestam Yuriê e Milvo. Os coordenadores enfatizam ainda que, um cuidado maior com o transporte público seria outra medida importante. “Fazendo com que o carro não seja o transporte mais conveniente ou confortável. Tomando medidas para estimular o uso de modais ativos, mais saudáveis e sustentáveis”, asseguram.

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