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Brasília

CBMDF retira porte de arma de bombeiro com “pirâmide do amor”

Órgão destaca que irá iniciar o processo interno de apuração dos fatos denunciados”

Redação Jornal de Brasília

20/03/2023 20h00

Atualizada 21/03/2023 6h42

Foto: Reprodução

Vitor Mendonça
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O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) afirmou, por meio de nota, que o porte de arma de Raphael Martins Zille Ferreira, de 38 anos, acusado de estelionato amoroso, foi suspenso na última sexta-feira (17), após a denúncia chegar à corporação. Pelo menos 19 mulheres relatam terem sido enganadas, abusadas psicologicamente e ameaçadas de morte pelo bombeiro.

O militar ainda está na ativa, mas uma investigação foi instaurada, “sendo oportunizado ao bombeiro militar a ampla defesa e o contraditório que são institutos constitucionais disponíveis a todo cidadão”, disse o CBMDF em nota.

“A Corporação, conforme trâmite legal, irá iniciar o processo interno de apuração dos fatos e, caso constatada a veracidade, as providências internas cabíveis ao caso serão tomadas. O CBMDF manifesta-se contrário a qualquer forma de violência, seja física, verbal ou psicológica, bem como condutas inadequadas aos preceitos da moral e dos bons costumes”, destacou o órgão.

Entenda o caso

O que parecia ser o início de um romance promissor e com uma história de amor perene, para ao menos 19 mulheres do DF, a relação amorosa com o bombeiro militar se transformou em desconfiança, prejuízos, frustração e medo.

O servidor da segurança pública é investigado pela Polícia Civil do DF (PCDF) por estelionato amoroso, atraindo mulheres para financiar interesses pessoais, desde jantares em restaurantes sofisticados à continuidade de hobbies e ainda o custeio de presentes para namoradas que mantinha ao mesmo tempo. Com a estratégia de extorsão das vítimas, o suspeito teria conseguido construir boa parte de uma casa no Jardim Botânico.

Para manter o padrão de vida e conseguir financiar suas atividades, o bombeiro manteria o relacionamento com várias mulheres simultaneamente. Ele teria chegado a ficar noivo de seis vítimas ao mesmo tempo, mantendo, com todas, um relacionamento de confiança, com a ilusão de que seria duradouro e sério. Quando as parceiras desconfiavam sobre os outros relacionamentos e tentavam terminar, o homem se mostrava agressivo e chegou a ameaçar algumas delas.

“Eu tenho uma arma, te dou um tiro na cabeça e enterro no quintal da minha casa”, teria dito ele a algumas das vítimas quando confrontado. Ele também teria se utilizado de uma coleção de facas para afirmar que poderia cortar facilmente as parceiras. Logo em seguida, ele começava a rir, como se fosse uma brincadeira. “Ele começava a fazer carinho e a cuidar, então no momento você acaba esquecendo, porque ele muda o comportamento na hora”, contou uma das vítimas ao Jornal de Brasília.

Por motivos de segurança, as informações sobre as vítimas serão mantidas em sigilo e o anonimato será resguardado.

Conforme relato ouvido pela reportagem, quando o militar percebia que seu esquema de “pirâmide amorosa” havia sido descoberto, e que as mulheres começavam a entrar em contato entre si, ele as bloqueava e não respondia às mensagens enviadas. Porém, ele negaria o envolvimento com outras mulheres o quanto pudesse.

“Para mim foi e está sendo uma surpresa. Sempre ouvimos relatos e histórias, mas a gente nunca acha que vai acontecer com a gente. Muitas mulheres tiveram ameaças de morte. É muito triste ver um homem fazer várias vítimas e ver esse sofrimento em outras mulheres também. Isso dói porque ele consegue manipular você, isso dói muito. Me deixa muito mal. É preciso dar um basta nisso”, destacou uma das vítimas ouvida pelo JBr.

O modo de escolha e conquista das vítimas de Raphael seguiriam o mesmo padrão: mulheres solteiras, entre 30 e 45 anos, e bem estabilizadas financeiramente. Por mensagens em redes sociais, ele estabelecia uma ligação com as vítimas e criava uma espécie de persona específica para a possível futura companheira, se adaptando aos interesses e criando conversas atrativas, conforme relato ouvido pela reportagem.

“É uma pessoa fria, calculista, que seduz as vítimas, principalmente pelas redes sociais. […] Não é algo absurdo de uma vez [o estelionato]. Começa com um restaurante e fala que esqueceu a carteira, e que depois passa o PIX. Para as mulheres que estavam com ele há mais tempo, ele pedia presentes”, disse uma testemunha ao JBr.

Em determinada ocasião, ele teria pedido um smartwatch para uma companheira e entregue o presente para outra, como se tivesse vindo dele. Da mesma forma aconteceu também com anéis de noivado, pedindo dinheiro para uma e comprando uma aliança de compromisso para outra. “Quanto mais tempo passava, pior se tornavam os pedidos de presentes”, destacou.

O piso de porcelanato na casa do militar teria vindo também das namoradas simultâneas que mantinha. “A vítima não percebe facilmente, porque há uma manipulação e um abuso psicológico. Acreditavam que os investimentos na casa dele, por exemplo, eram para construir uma vida futura com ele”, continuou. “Ele é extremamente bem articulado e não esboça nervosismo quando confrontado sobre outras mulheres. Dizia que as outras eram mulheres loucas do passado.”

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