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Brasília

Bullying: um desafio nas escolas do DF

Violências físicas ou psicológicas nas instituições de ensino são danosas e podem impactar uma vida inteira

Redação Jornal de Brasília

13/03/2024 5h00

Atualizada 12/03/2024 20h28

Foto: Agência Brasília

A presença do Bullying nas escolas é um sério tema a ser combatido dentro das instituições de ensino, visto que é causador de diversas consequências negativas na vivência social de crianças e adolescentes. As ofensas e provocações realizadas por colegas de turma, muitas vezes acompanhadas de agressões físicas, podem repercutir e fomentar danos para uma vida inteira.

Na segunda-feira da semana passada (4), um aluno do Centro Educacional São José, em São Sebastião, teria sido motivado pelo Bullying de outros colegas para ferir cinco pessoas com facas em sala de aula. Este é um caso inabitual e isolado em consequência do problema, mas que, aliado a diversos outros fatores, externaliza as dores causadas pelas agressões físicas e verbais dentro do contexto escolar.

Seja a prática do Bullying ou a resposta a ele em forma de ataque, ambas as situações são injustificáveis.

De acordo com a psicóloga clínica, jurídica e palestrante Raquel Manzini, doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB) com tese sobre Bullying, são diversos fatores que levam uma pessoa a um ato extremo de violência como um ataque dentro de uma escola. Além das violências sofridas, é preciso analisar a história de vida, o apoio da família frente às agressões físicas e psicológicas, entre outros fatores contextuais.

“Um ato extremo de violência jamais pode ser justificado por apenas um fator”, destacou. Segundo ela, é preciso refletir sobre padrões familiares, escolares, sócio-culturais que levam pessoas em situação de desespero a cometer um ato de violência – que são isolados. Diante de uma situação de Bullying, existem várias formas de manifestação do problema, sendo a de um ataque a menos comum.

Ações das escolas

Raquel ressalta que os professores e educadores precisam estar atentos no dia a dia a situações de Bullying entre os alunos, que são muitas vezes implícitas – como uma risada, um comentário ou um apelido. “E é preciso sempre ter na escola muito claro que ali é um ambiente onde o Bullying não é permitido”, disse.

Nos casos em que os alunos se sintam humilhados, constrangidos ou excluídos, a escola deve oferecer um espaço seguro para que os estudantes possam procurar os professores e coordenadores de referência para que haja uma mediação. O problema, segundo a especialista, é que muitas vezes as ações das escolas ainda são ineficazes, por falta de conhecimento ou treinamento para lidar com as situações adequadamente.

“Ainda me deparo com muitas escolas colocando os adolescentes em pânico, no sentido de chamar o aluno que sofre o Bullying ou o Cyberbullying [forma virtual de manter as provocações] para fazer as pazes com o agressor ou um grupo de agressores, como se uma conversa de 30 minutos com a coordenação fosse resolver tudo, mas o que acontece é o contrário: o estudante é ainda mais provocado depois disso pelos outros adolescentes”, explicou.

Portanto, segundo ela, para que o ciclo de violência se encerre, é preciso ir além de palestras isoladas uma vez ao ano ou por semestre. Pelo contrário, devem ser feitas ações constantes voltadas para o corpo coletivo escolar, para que uma cultura de paz seja, ainda que gradualmente, estabelecida dentro das instituições de ensino com medidas implementadas no dia a dia.

Como exemplo, a escola pode-se fazer uma caixa de denúncias anônimas, para que as vítimas ou outras testemunhas descrevam a situação – ou mesmo para que agressores possam confessar que precisam de ajuda para parar de violentar os colegas, seja psicológica ou fisicamente. Outras medidas são palestras recorrentes sobre ações de empatia e solidariedade, providências mais sérias para quem comete Bullying, envolvendo a família na questão.

“O agressor não vai parar de uma hora para a outra, então não adianta só chamá-lo sozinho. É importante a família estar envolvida para que ela possa atuar junto”, mostrando que as práticas agressivas são reprováveis e que, caso continuem, haverá sanções dentro de casa. “Se a intenção é ser engraçado, quais outras coisas podem ser feitas em sala de aula sem pegar no pé do colega?”, destacou.

Desta forma, haverá o mesmo efeito de atenção, mas de uma forma positiva e voltada para o bem comum. “É preciso trazer [à tona] o melhor lado, a melhor faceta de todos os alunos, porque independentemente de serem vítimas, agressores ou observadores, todos os alunos têm algo a contribuir para a cultura da paz. A escola precisa estar sensível para despertar esse potencial positivo de cada um”, finalizou Raquel.

Secretaria de Educação

A Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) informou em nota que desenvolve uma série de ações que envolvem a temática do Bullying, a fim de evitar o problema e as respectivas consequências das agressões. Entre elas estão atividades de capacitação dos professores e educadores com oficinas, palestras e formações para o trabalho preventivo, além de preparação para o entendimento dos aspectos que envolvem os casos de automutilação.

Também é trabalhado o livro “Guia de Valorização da Vida – Orientações e prevenção ao bullying, automutilação e suicídio na escola”, para promover debates e reflexões com os profissionais da pasta sobre a saúde mental dentro do contexto da escola, trabalhando temas como Bullying, suicídio e automutilação.

“A ideia do documento é orientar os profissionais para além de uma ótica remediativa e punitiva, visando refletir de que forma podemos trabalhar no cotidiano da escola de maneira preventiva, alinhando propostas de ações que contribuam para a formação e para o desenvolvimento integral dos estudantes, famílias e comunidade escolar”, destacou a SEEDF.

Há também o “Caderno Orientador – Convivência Escolar e Cultura de Paz” e o “Fluxo de encaminhamento de estudantes com demandas de saúde mental e/ou dificuldades no desenvolvimento e aprendizagem”, que dão suporte a professores, gestores e demais profissionais da educação. Garantem um “atendimento integrado, garantindo a troca de informações entre as pastas”, conforme disse a pasta.

“Orientação Educacional em parceria com Pedagogos e Psicólogos Escolares do SEAA atuam na prevenção, acolhimento, intervenção educacional e acompanhamento das situações relacionadas às de violências múltiplas, entre elas o bullying. Nesse sentido, as equipes de apoio favorecem a promoção do desenvolvimento integral dos estudantes, bem como da promoção da cultura de paz junto à comunidade escolar”, finalizou a Secretaria.

SAIBA MAIS

– De acordo com a pesquisadora Cléo Fante na obra “Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz”, “Bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento.”

– A autora descreve que algumas das manifestações do comportamento Bullying incluem “insultos, intimidações, apelidos crueis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas e a atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos, levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais.

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