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Brasília

BRB: denúncias colocam serviços em xeque

Arquivo Geral

01/02/2019 7h00

Foto: Raianne Cordeiro/Jornal de Brasília

João Paulo Mariano
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Com parte da cúpula do Banco Regional de Brasília (BRB) afastada e passar das páginas de economia para as policiais, veio à tona também a insatisfação dos consumidores com os serviços prestados pelo banco público. Entre as reclamações estão o atraso tecnológico da instituição, que causa instabilidades frequentes no sistema e deixa usuários na mão.

O número de reclamações contra o BRB recebidas pelo Banco Central cresceu 18,4% em um ano. Passou de 1.385 em 2017 para 1.640 em 2018. No ano passado, a maior parte das reclamações (16%) foi em relação à “prestação de serviço de forma irregular em conta-salário”. Na sequência vem o “débito em conta de depósito não autorizado pelo cliente” (8%) e “renegociação de dívida (exceto cartão de crédito)”, com 7%.

Enquanto os clientes cobram investimentos, o BRB foi colocado no centro de uma denúncia de pagamento milionário de propinas. Nessa terça-feira (29), o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) deflagraram a operação Circus Maximus, pela qual integrantes da diretoria atual e passada do banco foram presos.
Segundo os investigadores, mais de R$ 40 milhões foram pagos em propina para que os comandantes da instituição financeira liberassem investimentos no hotel carioca LSH Lifestyle, antigo Trump Hotel, e para a construção do edifício Praça Capital, no SIA. As ações de corrupção, crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e gestão temerária estariam ocorrendo desde 2014.

Dor de cabeça

O professor Wagner Almeida, 36 anos, diz que só não cancelou a conta bancária no BRB no ano passado porque precisa de algum tipo de vínculo com a instituição para receber o salário. Dos inúmeros problemas que teve, dois foram essenciais para que ele transformasse a conta corrente em conta salário e optasse pela portabilidade.

“Comigo já aconteceu de eu querer pagar uma conta no barzinho à noite, mas o sistema do BRB cair. Se eu não tivesse outro cartão, iria ficar devendo. A gota d’água (para pedir a portabilidade) foi quando ocorreu de um dia o banco pegar todo o dinheiro da minha conta. Zerou tudo. Aí, no final do dia, o dinheiro voltou. Eu tive que pegar dinheiro emprestado para pagar o almoço”, afirma o professor.

O servidor aposentado Dermeval Pereira da Luz, 70 anos, por sua vez, reclama que o banco precisa se atualizar. Segundo o idoso, que tem conta no banco há mais de 30 anos por ter sido servidor do Executivo local, o atendimento pessoal do banco é até de qualidade, mas os caixas apresentam muito problema. “Eles são lentos. Isso me traz insegurança”, diz.

Ainda existe a complicação de o sistema bancário ficar inoperante em determinados momentos, em especial na época de pagamento de servidores.

“Provinciano” e parado no tempo

Na avaliação do presidente do Conselho Regional de Economia do DF (Corecon-DF), César Bergo, os problemas de fraudes no BRB estão relacionados ao uso político do banco, que é comum em instituições com esse perfil governamental. Apesar disso, para ele, o mais importante para o banco, sua confiança, não deve ser perdida devido a essa crise.

“O mais importante para um banco é a fidúcia dos clientes e do mercado. Se o cliente não tem mais confiança, ele não vai mais fazer poupança, nem investimentos. A instituição para de fazer captação. O cliente até não tem prejuízo porque deixa de investir lá e porque o sistema bancário no Brasil é sólido. Mas sem receber investimentos e fazer captação fica difícil sobreviver”, analisa o especialista da Universidade de Brasília (UnB).

Bergo denomina o BRB como um banco “provinciano” e “bem tradicional”, que não inovou muito com o tempo, até porque sofreu com as dificuldades de promover investimentos nos anos 1990 e não tem muita escala para crescer. Ele lembra que a instituição chegou a abrir filiais em outras capitais do Brasil, mas precisou frear a expansão nesse sentido.

Segundo dados que constam no site oficial, o BRB dispõe de 122 pontos de atendimento. São 116 agências: 101 no Distrito Federal , cinco localizadas em outras capitais – Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, Rio de Janeiro, São Paulo; uma em Unaí e nove no interior de Goiás. Além disso, há seis postos de atendimento no DF, 164 unidades do BRB Conveniência e 797 terminais de autoatendimento próprios.

Dermeval avalia que o banco precisa se atualizar. Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília.

Saiba Mais

Procurado, o BRB não se manifestou até o fechamento desta edição.

No ano anterior, em 2017, a maior parte das reclamações do BRB no Banco Central foi em relação à “renegociação de dívida (exceto cartão de crédito)”, totalizando 12%. Os débitos em conta não autorizados somaram 9% e a renegociação de dívidas relacionadas ao cartão de crédito ficaram em 6%.

No ano passado, o JBr. mostrou que, além dessas situações, correntistas reclamam do excesso de juros cobrados em transações e renegociações, mesmo que sejam para servidores do GDF.


Operação

Na terça (29), foram cumpridos 14 mandados de prisão preventiva e temporária, busca e apreensão em 33 endereços comerciais e residenciais no Espírito Santo, Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo, além do bloqueio de bens e valores de 25 pessoas físicas e jurídicas. Um dos presos é Vasco Cunha Gonçalves, presidente licenciado do BRB. na última segunda (28), ele havia sido nomeado presidente do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes). A operação provocou a demissão dele horas após a notícia vir à tona.

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