Amanda Karolyne
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Visando liderar o movimento paralímpico no País, o Centro Paralímpico Brasileiro, junto ao Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, vai sediar de 21 a 25 de março os Jogos Parapan-Americanos de Jovens de 2017.
O complexo esportivo receberá atletas de mais de 20 países, com idade entre 13 e 21 anos, que vão competir em 12 modalidades. Entre elas, oito contarão com 12 atletas brasilienses. Eles foram convocados com a responsabilidade de representar o Distrito Federal na delegação brasileira.
Milley Nunes Lopes, de 17 anos, e Wellington Maximo de Souza Silva, de 19, defendem Planaltina no Basquete de Cadeira de rodas.
Milley, com bom humor, conta que nasceu de 5 meses e teve 3 derrames que levaram a complicações e falta de oxigenação no cérebro. “Aí fiquei estragado”, brinca.
Wellington joga basquete de cadeira de rodas porque com 12 anos levou um tiro no pescoço, vítima de um acidente em casa que o deixou com uma lesão no lado direito. “Meu amigo estava mexendo na arma e disparou sem querer”, conta. Hoje, o amigo de Wellington não está mais vivo, mas sempre será lembrado pelo atleta.
Wellington e Milley são parceiros de quadra desde 2011 quando começaram a treinar. Milley diz que no início foi difícil para pegar a prática, mas, depois que pegaram o jeito, o esporte melhorou tudo na vida deles. Entre as boas experiências vividas por eles, estão as viagens para muitos lugares e a troca de informações com pessoas diferentes.
Para poder representar o Brasil no Parapan-Americano, a dupla teve de disputar o campeonato da terceira divisão, supervisionada pelo técnico Juliano Barros. Na competição, Milley foi o melhor do evento. “Não tem coisa melhor que representar o Brasil”, orgulha-se Milley.
Eles jogam na equipe Candangos, apoiada pela ONG CETEFE (Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial).
Na natação
Para representar o Brasil na natação, a capital também enviou Lucas Nicollas Souza Barros, de 16 anos, que nasceu com Síndrome de Pierre Robin, afetando a formação dos olhos dele.
Nicollas é um dos melhores da piscina e coleciona vários títulos. Por conta disso, mostra com orgulho suas inúmeras medalhas.
Lucas Avelar se destaca nos tatames
No judô, Brasília vai mandar para os jogos Lucas Avelar Pereira de Lima, de 16 anos. O atleta não enxerga com o olho esquerdo desde o nascimento, e faz controle com o direito para estimular a visão. Na escola, jogava tênis de mesa e era árbitro nos campeonatos. Um professor ficou impressionado, pois Lucas é cego de um olho e tem apenas 20% de visão do outro. Ciente disso, o convidou para lutar judô.
Lucas conta que a paixão pelo judô foi rápida e falou mais alto. “Quando você entra no tatame, deixa tudo que tem do lado de fora, e parece que você desliga do mundo e está num lugar mais tranquilo”.
O atleta se inspira muito no judoca tetracampeão paralímpico Antonio Tenório. O foco e a qualidade que Tenório demonstra são o que Lucas mais admira. Além de ser amante dos esportes, Lucas também se destaca na escola. Sempre o primeiro da classe, ele quer cursar direito na faculdade, e divide o tempo entre os estudos, o treino e videogames.
Representar o Brasil nos jogos Parapan-Americanos é algo que deixa Lucas emocionado. “É até meio bobo falar, mas receber essa camisa com Brasil atrás é tão legal. Saber que estou representando toda a nação, é muito especial.”
Recentemente, Lucas esteve no Grand Prix lutando contra adultos de peso maior que o seu, devido as categorias em que ele se encaixa. O judoca está em uma dieta para diminuir o peso e voltar a disputar lutas com atletas da idade dele.
Lucas praticou futebol, natação, badminton e tênis de mesa. O que ele não esperava era tamanha identificação com o judô. Isso porque depois de 10 anos nadando, ele não ficou tão admirado por um esporte, como ficou com a luta.
Quando criança, ele praticava esses jogos com pessoas que não eram cegas. “Só em 2012 fui descobrir o movimento paralímpico”, conta Lucas. A veia esportiva veio da mãe de Lucas, Michely Avelar, que sempre o incentivou a fazer tudo o que tinha oportunidade. Ela conta que uma vez ele se machucou na escola – recebeu uma bolada enquanto caminhava – e desde então, ela decidiu que não iria deixá-lo indefeso. “Não adianta você querer mudar o mundo para se adaptar a ele, ele que vai ter que se adaptar ao mundo”, diz Michely.