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Brasília

As feras da oficina

Quem passa pelos fundos da 706 Norte se deslumbra com dois carros Puma à entrada da oficina Motorhead, um na cor branca, modelo GTE-1978, e o outro vermelho GTI-1980. Estes veículos têm mais histórias do que você pensa — e vou contá-las neste texto

Gustavo Mariani

11/02/2023 5h00

Atualizada 10/02/2023 16h13

Quem passa, pela primeira vez, pelos fundos da 706 Norte, invariavelmente para e se deslumbra com dois carros Puma à entrada da oficina Motorhead, um na cor branca, modelo GTE-1978, e o outro vermelho GTI-1980.

Foto: Henrique Kotnick/Jornal de Brasília

Para os apaixonados por automóveis, é cinematográfico. Principalmente o segundo, que desfilou pelas telas do cinema nacional, soltando o ronco do seu motor pelo roteiro do filme Faroeste Caboclo, de 2013, produzido por Daniel Filho e dirigido por René Sampaio, com Fabrício Boliveira e Ísis Valverde nos papéis principais.

O Puma Vermelhão, até virar astro do cinema, viveu uma história que bem poderia, também, virar filme. Ficava abandonado pelo proprietário debaixo de uma árvore no Lago Sul. O dono dava mais atenção a outros carros de sua coleção – Maverick, Galaxie, Opala, aquelas velharias. Era 2010 quando o também apaixonado por carros Wiliam Bezerra da Silva o viu e propôs ao dono do Puma dar um destino melhor ao carro. Negocia daqui, dali, dacolá, até convencer ao homem a vencer-lhe o bólido.

“Levei mais de 700 dias restaurando o Puma [o vermelhão]. Praticamente o desmontei todo. Troquei bancos, carpetes, os quatro pneus, etc. O que não consegui arrumar por aquela pegada inicial, por sorte encontrei, em uma loja da Disbrave, que dispunha de seus últimos itens Michelin V-12”, conta William. Já a história cinematográfica do Puma “Vermelho Ferrari”, como William o apelidou, começou por inteiro acaso. A produção de Faroeste Caboclo o viu em uma reunião de colecionadores, no Parque da Cidade, e achou que ele seria o veículo ideal para o traficante João de Santo Cristo viver a aventura. William aceitou alugá-lo, por R$ 120 reais a diária e, por pouco não se tornou dublê de ator, pois Fabrício Boliveira tinha tremendas dificuldades para dirigi-lo. Foi preciso William tirar três dias de folga no trabalho para dar um jeito nas coisas do cinema nacional.

As filmagens começaram, em abril de 2011, no Jardim ABC – região que o brasilense conhece também por Tororó — e que seria a Ceilândia dos inícios de 1970, sem asfalto e prédios, lembra William, que esteve presente à pré-estreia da película, em maio de 2013 – depois, houve o lançamento, no Rio de Janeiro.

Com as suas aulas de direção, William, com certeza, ajudou o ator Fabrício Boliveira a ganhar o prêmio de melhor ator do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2014. O filme teve 13 indicações e venceu sete. Ficou oito semanas em cartaz e totalizou cerca de 1,5 milhão de espectadores.

Já o Puma GTE-1978 branco está com William há duas décadas. Pertencia a uma amiga, Cláudia, irmã da cantora Cássia Eller e que também participava de reuniões de colecionadores de carros antigos. Ele afirma que não se interessou muito pelo carro.

“A minha mulher foi quem ficou louca pelo modelo. E o jeito foi eu atacar. Mas a Cláudia não queria vendê-lo. Sobretudo porque o carrinho era o xodó das sua irmã – Cássia Eller – que, quando vinha a Brasília, só faltava morar dentro dele. Enchi tanto o saco dela e do marido que, para ela se livrar do meu constante pedido de compra, disse-me que me venderia por um preço altíssimo: R$ 6 mil reais, que eram, realmente, uma bela grana, na época”, recorda-se o oficineiro. O Puma branco não estava tão derrubado quanto o “Vermelho Ferrari” quando William o comprou. Mas mandou ver e deu um trato no carango. Pegou umas manhas de pintura pelo Discover e fez os desenhos que hoje o auto tem.

O primeiro Puma GT foi fabricado em 1966. Entre 1967 e 1970 saíram 423 modelos da fabricação. Os dois de William contam com motor de quatro tempos, refrigerados a ar; quatro cilindros; quatro marchas à frente e a marcha à ré; tamanho 3.960 mm; largura 1.580mm; altura 1.160mm e peso 640 kg. Ele só os usa para passeios de finais de semana. E onde os dois carros param (sai com um de cada vez) despertam grande curiosidade, principalmente de crianças de uns 12 de idade, em diante.

“Devem ter sido mais fotografados do que os atores do filme”, brinca o proprietário, para quem os seus dois automóveis nunca terão preço.

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