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Brasília

Arte drag no DF é periférica, precarizada e luta por liberdade, aponta pesquisa

Um mapeamento feito pelo Distrito Drag e Instituto LGBT+ mostra o quanto a expressão drag é uma ferramenta de luta em busca de liberdade

Redação Jornal de Brasília

10/08/2022 13h47

Um mapeamento feito pelo Distrito Drag e Instituto LGBT+ mostra o quanto a expressão drag é uma ferramenta de luta em busca de liberdade

Foto: Reprodução

O Distrito Drag e o Instituto LGBT+ se uniram para o desenvolvimento e lançamento de um estudo inédito que detalha aspectos culturais, sociais e econômicos de artistas drag queens e drag kings. Os dados coletados e organizados pelas entidades integram a Pesquisa de Mapeamento de Artistas Transformistas no Distrito Federal e Entorno. O levantamento aponta que a maioria dos artistas transformistas  pesquisados (65%) vive em regiões periféricas do DF, mostra que a atividade é precarizada e que a performance drag é uma ferramenta de libertação de amarras sociais. 

O projeto tem o objetivo de fornecer subsídios para ajudar a construir instrumentos que  fomentem a cultura LGBTQIA+ no DF. “Essa pesquisa é muito importante para mostrar a força da arte transformista no DF e, a partir disso, construir indicadores para políticas públicas de cultura voltadas para a nossa comunidade”, explica a drag queen Rojava, da diretoria do Distrito Drag. Segundo o coordenador do estudo, Rodolfo Godoi, do Instituto LGBT+, o registro histórico é um fator essencial. “A pesquisa promove um registro dessa arte que é feita por grupos que são marginalizados e que têm suas histórias apagadas”, afirma.

Para o mapeamento foram realizadas 15 horas de entrevistas, com 40 artistas, e um dos primeiros pontos de atenção foi o mapeamento, que mostrou que a arte drag no DF é feita por artistas que, em sua maioria, vivem fora do Plano Piloto e outras regiões privilegiadas, como Águas Claras. Entre as cidades onde vivem os entrevistados estão Ceilândia, Taguatinga, Arniqueiras, Brazlândia, Cruzeiro, Gama, Guará, Jardim Botânico, Paranoá, Planaltina, Recanto das Emas, Samambaia, Sobradinho, Vicente Pires e Valparaíso de Goiás.

Foto: Reprodução

Precarização

Além da expressão artística que a arte drag representa, ela é também fonte de renda, porém está longe de ser o único trabalho exercido pela maior parte da categoria. Apenas 10% dos entrevistados conseguem viver exclusivamente com a atuação como drag. O coordenador da pesquisa ressalta que muitas vezes nem os custos que a caracterização de uma drag queen ou drag king são cobertos pelos cachês recebidos. “Estamos falando de uma atividade precarizada, que exige muito tempo gasto para se maquiar, para se montar e que demanda muito investimento porque o custo é alto. Porém os cachês não cobrem esses custos”, avalia Rodolfo.

O valor médio do cachê recebido para uma apresentação é de R$ 200, podendo chegar a R$ 400, porém o valor mais comum  para os cachês é R$ 150. Os valores das remunerações das performances não permitem que atividade de transformista seja exercida como única fonte de renda, o que leva à necessidade de trabalhos em outras áreas para garantir o sustento. Entre as profissões ocupadas pelos artistas pesquisados estão as de professor, assessor parlamentar, advogado, bartender, cabeleireiro, maquiador, designer, estilista, fotógrafo, jornalista, museólogo, pedagogo, produtor cultural, publicitário, radialista e técnico em enfermagem. 

Identidades

Além de informações socioeconômicas, as entrevistas realizadas serviram também para mostrar aspectos da vivência da comunidade LGBTQIA+. A busca pela construção de uma comunidade com necessidade liberdade de expressão, de acolhimento e que tenta superar violências impostas por uma sociedade LGBTfóbica fica evidente com o estudo. 

É o caso da drag queen Baby Brasil, que, em relato para a pesquisa diz: “eu acho que toda a violência que eu sofri enquanto criança e adolescente me dá coragem. A drag me dá coragem! É como se eu vestisse minha armadura. Eu apanhei na escola, não tive suporte nenhum da minha família. Comecei a matar aula porque eu não conseguia mais encarar minha dor”.

Os relatos coletados evidenciam o aspecto do desenvolvimento de identidades e expressões de gênero. Muitas das falas refletem que as expressões femininas são socialmente proibidas aos corpos de homens. As personas apresentadas por meio de figurinos, maquiagens, perucas e performances são ferramentas que permitem expandir as personalidades de quem se monta como drag.

“Tenho um lado feminino muito forte, muito aflorado, que, durante a minha vida, guardei. Eu tentava me afirmar mais com meu lado masculino e senti a necessidade de ser feminino, porque faz parte de mim. Isso me faz sentir bem e completo, afirma a drag queen Bopety.

Foto: Reprodução

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