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Brasília

Anúncio atraente inicia golpe do aluguel

Arquivo Geral

24/08/2016 7h00

Atualizada 23/08/2016 22h13

Kléber Lima

João Paulo Mariano
Especial para o Jornal de Brasília

A agente de viagens Tathiana Costa Damasceno morava em Águas Claras com os dois filhos – de nove e seis anos –, mas queria voltar para o Guará, onde residiu durante grande parte da vida. Na internet, ela encontrou o local perfeito: um apartamento de dois quartos, em condomínio fechado, com segurança e parquinho. Era tudo o que ela queria, até descobrir que não passava de uma farsa: ela caiu no golpe do aluguel. O crime se soma a outros já investigados pela 4ª DP (Guará).

“Fiquei sem chão. Foi uma semana de choro”, desabafa a vítima, que já havia juntado caixas com as crianças para a mudança. A agente de viagens soube do apartamento na QI 25 pelo site OLX e se entusiasmou com o preço, mais barato que o normal. O primeiro contato com a anunciante ocorreu no último dia 10.

A suposta corretora se apresentou com o nome falso de Sarah de Abreu Martins. Tinha CPF e RG que, segundo a polícia, não eram verdadeiros. A negociação se estendeu por dois dias, via telefone, e-mail e aplicativos. A conversa da mulher transmitiu confiança.
As duas chegaram ao valor final de R$ 800, mediante pagamento da metade do valor do caução – três meses de aluguel adiantado, R$ 2,4 mil. Um recibo confirmou a transação.

No dia 12, Tathiana pegou dinheiro emprestado com amigas e entregou R$ 1,2 mil nas mãos da suspeita, conforme a exigência da golpista, ao evitar um depósito. A estelionatária pressionou para que a agente de viagens pagasse logo, pois faria uma viagem e queria deixar o dinheiro para o filho.

Quando as duas foram ao apartamento, ficaram pouco tempo. Sarah não quis conversar dentro do imóvel, só fora. As poucas imagens que se tem da suspeita foram entregues pelo condomínio à vítima.

Cada vez mais comum

Após ser lesada, a mulher descobriu como o golpe foi executado: Sarah entrou em contato com uma imobiliária, pegou a chave, tirou uma cópia e fez toda a farsa da visitação do apartamento. De acordo com integrantes do setor, a ação é mais comum que se imagina, em especial nos casos em que a pessoa faz todo o contato pela internet.

“Isso ocorre constantemente”, garante o presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis (Sindimóveis-DF), Geraldo Nascimento. Ele que conhece bem o setor e avisa que é preciso tomar cuidado. Para Nascimento, o trabalho do corretor é essencial para que esses problemas não ocorram: “Com o profissional, isso é praticamente inexistente. Ele tem de deixar a identidade quando vai levar a chave”.

O corretor comenta que é comum os golpistas pedirem o cheque caução de três meses antes da assinatura do contrato. Às vezes, a exigência é de até um ano de aluguel adiantado, com a promessa de desconto até 50%.

Ou seja: se a proposta for muito tentadora, a atenção deve ser maior ainda. Em geral, as imobiliárias cobram 5% do valor de venda e de 10 a 15% em administração para aluguéis. Apesar de compreender as dificuldades financeiras atuais, ele aconselha a contratação.

A Polícia Civil informa que há outros casos em apuração sobre o mesmo assunto no Guará. Conforme o JBr. já mostrou, só em uma casa no Conjunto D da QE 32, existem seis denúncias diferentes.

Como se precaver de novos delitos

A especialista em defesa do consumidor Ildecer Amorim destaca que o contrato de aluguel é regido pela Lei de Locação, não pelo Código de Defesa do Consumidor, como outras relações comerciais. Mas ela alerta que, como a oferta foi feita na web, é regulada pelo Marco Civil da Internet. Assim, o site pode ser responsabilizado, não de forma criminal, mas cível, já que hospedou anúncio de alguém que praticou um crime.

Dicas

Veja com vizinhos do imóvel ou com o porteiro, no caso de apartamento, há quanto tempo a residência está vazia e quem seria o dono.

Lembre-se: o barato pode sair caro. É preciso desconfiar de vantagens excessivas.

Quando for possível, faça o contato em locais públicos e só feche negócio se tiver a certeza de que o acordo vai ser respeitado.

Se desconfiar de qualquer ação, guarde comprovantes e conversas e vá até a polícia.

“Tem de haver um contrato que vai resguardar ambas as partes. Se possível, ver no registro imobiliário se há o nome da pessoa que se diz dona”, relata a especialista. Para Ildecer, anos atrás, todo esse aparato não era necessário, mas hoje é preciso ter cautela e tomar cuidado com a “oferta de vantagens excessivas”. “A lábia dos estelionatários é muito boa. Quando forem oferecidas vantagens muito grandes, desconfie”, diz.

O Jornal de Brasília ligou para a suspeita Sarah no número repassado à vítima, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Procurada, a OLX, site que divulgou a oferta de aluguel, lamenta o ocorrido, coloca-se à disposição das autoridades para colaborar no que for necessário e informa que disponibiliza um botão de denúncia em todos os anúncios. A OLX recomenda que, quando os usuários verificarem práticas irregulares ou conteúdos indevidos, denunciem o conteúdo no próprio site ou entrem imediatamente em contato com a equipe de atendimento ao cliente da empresa.

A OLX informa ainda, em seu site, que é preciso alguns cuidados: desconfie se o anúncio é bom demais para ser verdade ou se o anunciante pressiona para a finalização da compra. Além disso, a empresa diz que, mesmo que quem anuncia forneça dados pessoais, isso não garante a veracidade e a idoneidade dela.

 

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