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Brasil

Coronavírus: A caçada aos respiradores

Ex-presidente da Fiocruz relata ao JBr o drama para conseguir aparelhos no mercado internacional

Catarina Lima

03/04/2020 7h09

Países que precisam de respiradores para tratar os casos mais graves de covid-19 podem ter que pagar até U$ 80 mil (cerca de R$ 420 mil na cotação de ontem) no mercado internacional por um produto que normalmente custaria U$ 10 mil.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) solicitou ajuda da Aliança das Organizações Internacionais de Ciências (Anso) para adquirir 200 respiradores para equipar os leitos de UTI que está preparando. A Anso foi criada pela China e reúne entidades científicas de várias partes do mundo.

De acordo com o médico Carlos Morel, ex-presidente da Fiocruz, que está auxiliando na aquisição dos equipamentos, a dificuldade é cada dia maior.

“Surgiu mais um complicador. Agora empresas chinesas só podem vender para fora se tiverem certificado de qualidade. Isso reduz muito a quantidade de fornecedores num mercado em que já estava difícil comprar”, explicou Morel.

Os respiradores que a Fiocruz está comprando são para um hospital de emergência que a entidade está construindo no local onde antes era o campo de futebol dos servidores. “Foi feita uma reunião com os servidores e dito ‘sabe o campo de futebol de vocês? Infelizmente terá que ser transformado em hospital’”. Na sua busca por respiradores para a Fiocruz, que fica no Rio de Janeiro, Morel, que como ex-presidente da Fundação conhece o mercado internacional, acredita que será possível comprar 100 unidades. As outras dependem de mais busca e negociações.

“No Brasil estamos tendo que trocar o pneu com o carro em movimento”, disse o médico para explicar a corrida de estados e municípios contra o tempo para se preparar para enfrentar o aumento de casos de coronavírus.

Como exemplo, ele citou o caso de São Paulo, que quer adquirir quatro mil leitos, mas a promessa de fornecedores é que somente haverá disponibilidade para fornecimento no mês de junho.

Pirataria

A pandemia do novo coronavírus está produzindo uma nova forma de pirataria. De acordo com o que publicou a agência France Presse, um avião cargueiro com máscaras de proteção estava num aeroporto chinês e iria partir com destino a França. Antes, porém, foi abordado por norte-americanos, que ofereceram mais dinheiro pela carga e acabaram ficando com as máscaras.

Mas apesar da disputa e oferta inescrupulosas no mercado internacional, ainda há lugar para solidariedade. Segundo Carlos Morel, a Fiocruz tem recebido muitas doações. Hoje existe um setor da entidade destinado a receber o que lhe é doado.

No Brasil existem empresas que produzem respiradores, mas esses também são caros, com preços que variam de R$ 48 mil a R$ 100 mil, e o prazo de entrega pode ser de até um mês. Uma alternativa que poderá ser adotada no Brasil é o compartilhamento de respiradores, como foi feito na Europa depois que explodiu o número de casos. Lá um único aparelho chegou a atender até quatro pacientes.

Saiba Mais 

O Brasil já registra ao menos 300 mortes pelo novo coronavírus, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados ontem. Foram 58 novas mortes confirmadas nas últimas 24 horas, o maior volume registrado desde o início da emergência pela covid-19. O recorde anterior havia sido registrado na terça-feira, com 42 mortes confirmadas em apenas um dia.

Com os novos dados, o país também já soma 7.910 casos confirmados da doença. O número representa um salto de 16% em relação ao dia anterior, quando eram contabilizados 6.836 casos. Até esta quinta-feira, 22 unidades da federação registram mortes pelo vírus. Todos os estados das regiões Sudeste, Nordeste e Sul já tiveram ao menos um registro de morte pelo novo coronavírus.

Os estados de Sergipe, Espírito Santo e Pará tiveram os primeiros registros de mortes nas últimas 24 horas. Em todo país, o maior volume é registrado em São Paulo, com 188 mortes pela cCovid-19, sendo 24 em apenas um dia. Na sequência, aparece o Rio de Janeiro (41 mortes) e o Ceará (20). Apenas cinco estados ainda não têm mortes registradas pelo Ministério da Saúde, embora em todos eles haja casos da doença. São eles Acre, Amapá, Mato Grosso, Roraima e Tocantins.

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