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Brasil

Ativista crê em premeditação

Lola Aronovich, que monitora fóruns anônimos na web, acredita que autor anunciou ataque antes

Marcus Eduardo Pereira

23/08/2019 5h47

Lola Aronovich – foto : Arquivo pessoal

Lucas Neiva
[email protected]

Lola Aronovich, blogueira feminista e pedagoga que há anos acompanha as atividades de fóruns anônimos de extrema direita, afirma ser provável a hipótese de o responsável pelo ataque ao colégio Assis Chateubriand em Charqueadas (RS), na quarta-feira (21), ser também o autor do post em fórum anônimo revelado ontem pelo Jornal de Brasília, em que um usuário não identificado anunciava sua pretensão de realizar um massacre escolar.

Dolores Aronovich Aguero, 52 anos, popularmente conhecida como Lola Aronovich, é professora da Universidade Federal do Ceará e autora do blog Escreva, Lola, Escreva, em que aborda temáticas como o feminismo; o combate à homofobia e ao machismo; e o enfrentamento dos discursos de ódio e do racismo.

Há anos, Lola acompanha as atividades dos imageboards (ou chans) – fóruns anônimos na internet em que usuários não identificados conversam sem qualquer restrição. Esses sites são dominados por pessoas predominantemente de extrema direita, que aproveitam o ambiente de anonimato para dar vazão a seus discursos de ódio.

Em seu blog pessoal, Lola se refere aos chans como “celeiros de terroristas”. Há anos a ativista é perseguida por usuários desses fóruns, chamados de channers, que a enviam ameaças e calúnias de diversos tipos: ilustrações dela decapitada; sites que pregam discurso de ódio em seu nome; e ameaças a massacres na universidade onde trabalha, entre outros.

Ontem, o Jornal de Brasília revelou uma publicação, em um desses fóruns, em que um usuário manifestava sua pretensão de atacar uma escola – publicando uma imagem com referência ao massacre na escola de Columbine (EUA), em 1999.

A publicação foi feita na manhã de quarta-feira, quatro horas antes do atentado em Charqueadas que deixou seis pessoas feridas. Na mesma publicação, outro usuário comentou afirmando já ter adquirido arma e munições para um ataque, citando ter “algum antro de esquerdistas” como alvo.

Lola afirma acreditar na possibilidade de a publicação referente a Columbine ser de fato de autoria do adolescente responsável pelo ataque. Afirma também que a confissão do outro usuário sobre o futuro atentado deve ser tratada com seriedade.

Lola observa que declarações de usuários que manifestam desejar realizar atentados em escolas são frequentes nos chans, mas raramente se concretizam. “Costumam ser feitas para ‘provar o valor’ entre os channers, e criar pavor no alvo pretendido: anunciam o dia e o local do alvo desejado para, caso alguém de fora do site veja o post, revele para os alvos pretendidos o que viu e gere o medo desejado pelo usuário”, explica.

Mas mesmo sendo uma “brincadeira” constante entre channers, Lola declara que “tais ameaças devem ser levadas a sério e investigadas, pois algumas acabam se concretizando”.

Exemplo disso foi o atentado escolar de Suzano (SP), em março deste ano, em que dois channers seguiram o mesmo roteiro: anunciaram em um chan o desejo de realizar um massacre e, pouco depois, procederam ao ataque que resultou na morte de oito estudantes da Escola Estadual Professor Raul Brasil.

O jovem de 17 anos que promoveu o atentado em Charqueadas foi detido pela Brigada Militar cerca de três horas depois. Segundo Fabio Motta Lopes, subchefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, as motivações do jovem ainda são desconhecidas, mas ele já declarou ter se inspirado no massacre de Suzano.

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