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Sem Firula

Ironias

Arquivo Geral

28/12/2016 12h23

Atualizada 03/01/2017 12h25

Como o sobrenome denuncia, possuo ascendência italiana. Neste período, por lá, as temperaturas são baixas. Em algumas cidades chega a nevar. Minha família, então, que vem de uma área montanhosa, está acostumada em ver os picos embranquecidos – e meus filhos estão loucos para conhecer a neve. Há um mês estive na região de Milão. Choveu muito e a temperatura era baixa, mas não nevou. Agora mesmo faz frio, mas segundo os amigos “tem até sol”. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, onde vivo, a temperatura não sabe o que é respeitar a barreira dos 40 graus e a sensação térmica bate os 50. Mesmo assim, vejam só, vitrines em liquidação exibem aqueles símbolos característicos de neve. Só pode ser ironia. Ou falta de senso.

No futebol, vivemos situações semelhantes nestes dias sem futebol.
Como de costume há muito boato. Alguns jogadores já foram contratados por uns cinco times diferentes – nas informações de seus empresários, é claro. Outros recusam-se a deixar os clubes onde estão. Uma grande parte os atuais patrões gostariam de ver ir embora, mas ninguém quer. E assim vamos tocando o barco esperando que a Europa abra a janela de contratações para saber, efetivamente, quem vai ficar onde para 2017.
Depois que o Corinthians, há uns dois anos, emprestou Pato ao São Paulo arcando com parte dos salários, esta modalidade de “transação” virou moda. Em tese é boa para quem empresta, boa para quem recebe e boa para o jogador. Digo em tese porque se você não quer mais o funcionário (e por isso o coloca à disposição de outrem), qual a razão de continuar pagando os salários? Ironia, não é mesmo? Já que paga, que o utilize, não o disponibilize.

Agora mesmo, tentando reduzir sua folha salarial para mexer no time, o Fluminense se vê diante deste problema. Alguns jogadores, que já sabem não fazer parte dos planos do treinador Abel Braga, não demonstram a mínima vontade em deixar as Laranjeiras – mesmo que agora estejam treinando quase no Recreio dos Bandeirantes. E o raciocínio é simples: por que deixar o Rio de Janeiro, com praia, sol, vida mansa e salário alto? Não vou jogar? Ok, treino separadamente e espero o contrato terminar. É um pensamento pequeno? Sem dúvida alguma, mas alguns jogadores pensam de forma imediata – ou sabem que não têm mais tanta lenha assim para queimar. E, ironicamente, levam a grana, alta, sem nada fazer.

Nestes casos, a saída para o clube é tentar envolvê-lo em alguma transação, de troca, normalmente, e arcar com parte dos salários. A economia, a diferença, pagará o jogador que vem para o elenco e com mais chances de ser aproveitado. Se fosse comigo, com sinceridade, não aceitaria. Mas como boa parte dos nossos jogadores têm a vida guiada e dirigida por empresários – que desejam apenas a sua parte na divisão… -, acabam topando o ostracismo.

Existem casos distintos, é claro. Jogadores que querem mostrar que mereceriam outra chance e até abrem mão da grana para serem liberados. Querendo montar uma equipe para brigar forte pela Libertadores, o Palmeiras está indo atrás de Michel Bastos, que está em desgraça no São Paulo. O jogador já avisou que abre mão do que teria direito (uns R$ 4 milhões) para ter a liberação facilitada. Como não faz parte dos planos de Rogério Ceni, e bateu de frente com a galera, é bem provável que o atacante vá mesmo para o Verdão – recebendo algo em torno de R$ 1 milhão por mês, ou seja, recupera rápido “o que perdeu”, e pode brilhar nas diversas competições que seu novo time irá disputar.

Ironia, não é mesmo? Não servir a um dos maiores rivais e, quem sabe, transformar-se em peça-chave para que o Palmeiras sonhe com o título continental. Mas assim é o futebol, que nos surpreende a cada momento e aponta novidades onde menos se espera, como a apresentação de Loco Abreu, anteontem, em Bangu. Com o calor batendo os 43, o uruguaio foi apresentado com grande festa e lembrou que seu amor pelo Botafogo permanece, mas irá fazer de tudo para que o time de Moça Bonita brilhe. Já imaginaram ele marcando um gol que elimine o Botafogo, apesar de toda a declarada paixão? Ironias, finas ironias do futebol…

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