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Quinto Ato
Quinto Ato

O Brasil sob o signo de Macbeth

Vejam o que ocorreu em Araraquara, em que o prefeito da cidade, Edinho Silva (PT-SP), foi ameaçado de morte por decretar um lockdown, com o intuito de frear a onda de contaminação e mortes que sacudiam o município paulista

Theófilo Silva

06/04/2021 10h32

signo de Macbeth

Juro que gostaria de escrever um artigo otimista, que falasse de esperança, de coisas boas, promissoras, para dar um pouco de alegria às pessoas. Já não basta a cruel realidade e as dolorosas notícias e manchetes que vemos na imprensa e redes sociais o tempo todo. Portanto, peço desculpas por isso. Mas é que falar a verdade, desnudar essa dura realidade não deixa de ser uma forma de combater o mal, e sonhar com dias melhores. E para descrever esse estado de coisas, uso meu mestre William Shakespeare que, por intermédio de suas obras imortais, me ajuda a fazer isso de forma mais sábia.

Assim, por favor, me digam se esta fala de Shakespeare não diz exatamente o que estamos passando no Brasil, neste momento:

– “Eu falava de Tebas, de como é perigoso viver aqui, se formos honrados. Onde o mal tem cores belas e o que parece bom é mal! Onde não ser igual a eles é ser estranho e, se formos como eles, seremos monstros”.

Essa sentença se encontra na peça “Os Dois primos nobres”, a última escrita pelo bardo, feita em parceria com o dramaturgo John Fletcher. Pergunto, está ou não está difícil ser um homem honrado no Brasil atual? Não nos parece estranho o comportamento de nossos compatriotas negacionistas? Se nos comportarmos como eles, não seremos criminosos, assassinos? Monstros!

Portanto, vou além, dizendo que estamos vivendo sob o signo de Macbeth. Macbeth é a tragédia de Shakespeare que melhor retrata a tempestade que estamos atravessando. Vejam a precisão desse diálogo, entre esses dois homens públicos. Basta trocar Escócia por Brasil. Vamos lá:

– Macduff – A Escócia se encontra onde estava?

– Ross – Ai, pobre pátria! Mal se conhece a si mesma! Não se pode chamar de nossa mãe, mas nosso túmulo, onde só riem aqueles que tudo ignoram: onde os lamentos, os gemidos e os gritos que atravessam os ares passam despercebidos; onde as dores mais violentas são consideradas sofrimentos banais. O dobre de finados soa sem que se pergunte por quem, e a vida dos homens de bem expiram antes que as flores de seus gorros murchem… Oh! Escócia! Oh! Escócia!

Vejam o que ocorreu em Araraquara, em que o prefeito da cidade, Edinho Silva (PT-SP), foi ameaçado de morte por decretar um lockdown, com o intuito de frear a onda de contaminação e mortes que sacudiam o município paulista. Os governadores João Dória, de São Paulo, Rui Costa, da Bahia e Camilo Santana, do meu Ceará, também foram ameaçados de morte por policiais bolsonaristas, pelo mesmo motivo. Dória precisou se mudar de sua residência para o Palácio dos Bandeirantes, temendo ataques. E assim, muitos e muitos outros agentes públicos estão sendo ameaçado pelas hostes bolsonaristas.

Continuando nossa saga shakespeariana, vejam esse diálogo de Lady Macduff com seu filhinho, que pergunta:

– Mãe, o que é um traidor?

– Lady Macduff – Ora, é alguém que jura e mente!

– Garoto – E são traidores todos que fazem o mesmo?

– Lady Macduff – Quem quer que seja e fizer o mesmo, é traidor e deve ser enforcado”.

Diante desse diálogo, fico pensando nos ingênuos que voltaram em Bolsonaro e agora se sentem traídos!
Vejam a precisão e atualidade desse diálogo de Malcolm e Macduff, falando da personalidade de um mau governante. Vejam se não parece com um conhecido nosso!

– Malcolm – Sou muito hábil em dividir cada vício em diversas variedades, praticando-o de mil maneiras. Sim, se eu tivesse o poder, derramaria no inferno o doce leite da concórdia, perturbaria a paz universal e confundiria toda a harmonia da terra”.

Macduff – Ó mísera nação, submetida ao poder sanguinário de um tirano. Quando brilhará para ti o dia da felicidade?”.
Malcolm – Mesmo no meio das legiões do horrível inferno, não poderá nascer um demônio tão maléfico que possa competir com Macbeth”.

Termino por aqui. Desculpem a franqueza, mas qualquer semelhança com o nosso presidente Jair Bolsonaro não é mera coincidência. E fiquemos em casa!

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