Juro que gostaria de escrever um artigo otimista, que falasse de esperança, de coisas boas, promissoras, para dar um pouco de alegria às pessoas. Já não basta a cruel realidade e as dolorosas notícias e manchetes que vemos na imprensa e redes sociais o tempo todo. Portanto, peço desculpas por isso. Mas é que falar a verdade, desnudar essa dura realidade não deixa de ser uma forma de combater o mal, e sonhar com dias melhores. E para descrever esse estado de coisas, uso meu mestre William Shakespeare que, por intermédio de suas obras imortais, me ajuda a fazer isso de forma mais sábia.
Assim, por favor, me digam se esta fala de Shakespeare não diz exatamente o que estamos passando no Brasil, neste momento:
– “Eu falava de Tebas, de como é perigoso viver aqui, se formos honrados. Onde o mal tem cores belas e o que parece bom é mal! Onde não ser igual a eles é ser estranho e, se formos como eles, seremos monstros”.
Essa sentença se encontra na peça “Os Dois primos nobres”, a última escrita pelo bardo, feita em parceria com o dramaturgo John Fletcher. Pergunto, está ou não está difícil ser um homem honrado no Brasil atual? Não nos parece estranho o comportamento de nossos compatriotas negacionistas? Se nos comportarmos como eles, não seremos criminosos, assassinos? Monstros!
Portanto, vou além, dizendo que estamos vivendo sob o signo de Macbeth. Macbeth é a tragédia de Shakespeare que melhor retrata a tempestade que estamos atravessando. Vejam a precisão desse diálogo, entre esses dois homens públicos. Basta trocar Escócia por Brasil. Vamos lá:
– Macduff – A Escócia se encontra onde estava?
– Ross – Ai, pobre pátria! Mal se conhece a si mesma! Não se pode chamar de nossa mãe, mas nosso túmulo, onde só riem aqueles que tudo ignoram: onde os lamentos, os gemidos e os gritos que atravessam os ares passam despercebidos; onde as dores mais violentas são consideradas sofrimentos banais. O dobre de finados soa sem que se pergunte por quem, e a vida dos homens de bem expiram antes que as flores de seus gorros murchem… Oh! Escócia! Oh! Escócia!
Vejam o que ocorreu em Araraquara, em que o prefeito da cidade, Edinho Silva (PT-SP), foi ameaçado de morte por decretar um lockdown, com o intuito de frear a onda de contaminação e mortes que sacudiam o município paulista. Os governadores João Dória, de São Paulo, Rui Costa, da Bahia e Camilo Santana, do meu Ceará, também foram ameaçados de morte por policiais bolsonaristas, pelo mesmo motivo. Dória precisou se mudar de sua residência para o Palácio dos Bandeirantes, temendo ataques. E assim, muitos e muitos outros agentes públicos estão sendo ameaçado pelas hostes bolsonaristas.
Continuando nossa saga shakespeariana, vejam esse diálogo de Lady Macduff com seu filhinho, que pergunta:
– Mãe, o que é um traidor?
– Lady Macduff – Ora, é alguém que jura e mente!
– Garoto – E são traidores todos que fazem o mesmo?
– Lady Macduff – Quem quer que seja e fizer o mesmo, é traidor e deve ser enforcado”.
Diante desse diálogo, fico pensando nos ingênuos que voltaram em Bolsonaro e agora se sentem traídos!
Vejam a precisão e atualidade desse diálogo de Malcolm e Macduff, falando da personalidade de um mau governante. Vejam se não parece com um conhecido nosso!
– Malcolm – Sou muito hábil em dividir cada vício em diversas variedades, praticando-o de mil maneiras. Sim, se eu tivesse o poder, derramaria no inferno o doce leite da concórdia, perturbaria a paz universal e confundiria toda a harmonia da terra”.
Macduff – Ó mísera nação, submetida ao poder sanguinário de um tirano. Quando brilhará para ti o dia da felicidade?”.
Malcolm – Mesmo no meio das legiões do horrível inferno, não poderá nascer um demônio tão maléfico que possa competir com Macbeth”.
Termino por aqui. Desculpem a franqueza, mas qualquer semelhança com o nosso presidente Jair Bolsonaro não é mera coincidência. E fiquemos em casa!