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Quinto Ato
Quinto Ato

Os jornalistas não se renderão

Theófilo Silva

25/05/2021 13h59

Os jornalistas não se renderão

A profissão mais frustrante, mais desalentadora, e que mais acumula sensação de fracasso nos tempos que correm, nesse gigante adormecido em berço sombrio chamado Brasil, é a de jornalista. Refiro-me aos repórteres, articulistas e colunistas, daqueles profissionais dotados de caráter, sérios, que falam a verdade, discorrem suas análises a partir dos fatos – verum factum (a verdade é o fato) –, que não são vendidos e que não estão a soldo dos canalhas incrustrados nos três poderes da República. Temos consciência que estamos vivendo sob o Império do Mal, onde o crime prospera em meio à carnificina provocada pela pandemia, de um governo composto por psicopatas que estão se lixando para o sofrimento do povo. Por isso não é fácil enxergar os fatos, denunciá-los, apontar os culpados e dissertar sobre os crimes e seus efeitos nocivos sobre a sociedade, e ter como resposta a impunidade.

Basta lermos os principais órgãos da imprensa brasileira, como também de muitos outros veículos menos conhecidos, mas nem por isso menos importantes, que têm a coragem e o brio de apontar a maldade, o descaso e a roubalheira diária realizada pelos políticos e agentes públicos brasileiros. Políticos que estão apenas preocupados em juntar dinheiro visando às próximas eleições, garantindo, assim, a impunidade com as verbas que roubaram. Apenas um dado: segundo o TCU, um terço das obras públicas iniciadas no Brasil foram interrompidas por má gestão ou desvios cometidos pelos executores em conluio com os administradores públicos. Os valores ultrapassam dezenas, talvez centenas de bilhões de reais. Dinheiro suficiente para matar a fome dos brasileiros.

Por mais que a imprensa denuncie isso, nada é feito. E qualquer tentativa de punição esbarra nas decisões do STF. Somos o único país do mundo onde um assassino condenado por um tribunal do júri continua em liberdade por dezenas de anos, até a pena prescrever. A imprensa fala isso todos os dias, mas o STF “não tá nem aí”, e o poder legislativo que faz as leis, menos ainda. Denúncias envolvendo juízes corruptos são devolvidas pelo STF, e os punidos são os delegados e promotores que fizeram a denúncia. Aqui acolá eles pendem um “bagrinho”, e soltam logo depois. Os ladrões fazem a festa. Suborno, venda de sentenças e liminares para defender direitos dos corruptos incrustados na esfera pública são enfiadas debaixo da gaveta dos juízes, e, como já disse, até a prescrição. Simplesmente, o juiz senta em cima do processo, cinco, dez, quinze anos, simples assim. E não dá em nada, por mais que denunciemos! Como suportar tudo isso? Difícil! Difícil!

Uma sensação de fracasso desaba sobre nós que clamamos por justiça nesse país que não deslancha, tomado de assalto por ladrões engravatados. Não saímos do lugar, e a coisa só piora. Basta ver a cara de pau dos depoentes nessa CPI do Covid, em que os canalhas mentem até cansar, fazendo todo mundo de bobo. E a mentira descarada, criminosa é vista pelo país inteiro, atingindo picos de audiência maiores do que finais de jogos de futebol ou novelas. Por que eles mentem? Simplesmente, porque eles sabem que seus crimes não serão punidos. Não há punição alguma. Apenas um desgaste, umas noites de sono mal dormidas, e olhe lá. Os juízes falastrões de voz empolada que não fazem justiça em suas decisões, os inocentarão e perseguirão implacavelmente quem falou, escreveu apontando os criminosos. Incluindo aí, os jornalistas que tiveram a ousadia de dissertar sobre esses monstros homicidas.

Não tenho como deixar de citar Hamlet, que diz: “Porque ser honesto do jeito que o mundo (Brasil) anda, equivale a ser escolhido entre dez mil”. Diria que Shakespeare não está exagerando na quantidade de ladrões. Mas, mesmo em meio a essa floresta de hienas humanas, não daremos trégua, não desistiremos, não deixaremos de fazer o nosso trabalho. Como disse Churchill: “Nós nunca nos renderemos”. Palmas e mais palmas para os jornalistas!

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