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Quinto Ato
Quinto Ato

Os idiotas estão matando inocentes!

Pois não é que um fenômeno paradoxal ocorreu agora! Não é que a peste do Covid, ao obrigar o ser humano a usar uma máscara, acabou desmascarando-o e apresentando-o como um perverso. Não é um paradoxo?! Olhem à vossa volta! Vejam o que está ocorrendo no Brasil. Nosso presidente adotou uma política de extermínio da população, transformando o país numa ameaça global, segundo a CNN

Theófilo Silva

23/03/2021 12h36

Os idiotas estão matando inocentes!

Foi necessário enfrentarmos esse surto de peste para eu entender melhor porque Shakespeare conseguiu penetrar tão profundamente na alma humana no ela tem de mais paradoxal, sombrio, controverso e ambíguo. Diz-se que os gênios criam no vácuo, que eles não precisam de época inspiradora para escrever suas obras imortais que atravessam séculos. Shakespeare sempre pareceu, para mim, como um artista, um criador que poderia ter surgido em qualquer época, independente da realidade que o cercava, muito embora sua obra seja enquadrada dentro do Renascimento europeu, o período artístico mais criativo e notável da história da humanidade. Ele também está inserido na chamada Era Elisabetana, a fase do governo da rainha Elizabeth I, em que a Inglaterra virou uma superpotência, surfando na onda das grandes navegações. Época essa em que o nosso Brasil foi “descoberto” e explorado, transformando-se nessa nação estuprada, tomada por ladrões incrustados nos três poderes e governada por um monstro.

Pois muito bem, diria que o que fez Shakespeare tornar-se o maior dramaturgo de todos os tempos não foram apenas as forças sociais e econômicas que o rodeavam, de que fala a sociologia. Sabemos que o caráter imortal, a rara beleza e sabedoria da obra do bardo de Stratford é centralizada nas cinco grandes tragédias: Hamlet, Macbeth, Othelo, Rei Lear e na maior história de amor de todos os tempos, Romeu e Julieta. Essas cinco obras denominadas de tragédias, já que no conceito clássico tragédia é a que “acaba mal” e comédia é a obra literária que “acaba bem”, são embaladas por paixões extremas, dor e sofrimento e o que de mais visceral, profundo, belo e doloroso já se escreveu no mundo.

Dentre todas as suas peças, a que eu mais tive dificuldade de ler e de aceitar foi Rei Lear. Uma peça em que o parricídio e o fratricídio estão inclusos, em que tudo é levado ao extremo da crueldade. Como diz uma frase contida na obra: “A própria natureza se encontra flagelada”. Assim o irracional, a ingratidão, loucura, anarquia, descaso, traição, brutalidade, maldade, a irresponsabilidade do governante é levado aos extremos. Na cena mais chocante, um poderoso manda arrancar os olhos de um amigo de Lear. Tudo isso me assustava. Como assustou a muita gente em montagens de Rei Lear durante séculos, fazendo com que muitos diretores mudassem o final da peça, criando um final feliz. Eu dizia para mim mesmo, que Shakespeare tinha exagerado no conteúdo sombrio e caótico de Lear.

Mas eu estava “redondamente enganado”. Pois não é que um fenômeno paradoxal ocorreu agora! Não é que a peste do Covid, ao obrigar o ser humano a usar uma máscara, acabou desmascarando-o e apresentando-o como um perverso. Não é um paradoxo?! Olhem à vossa volta! Vejam o que está ocorrendo no Brasil. Nosso presidente adotou uma política de extermínio da população, transformando o país numa ameaça global, segundo a CNN. Seu comportamento é de um louco que semeia discórdia e ódio, impedindo o combate à doença e matando mais pessoas! Bolsonaro transformou-se num monstro, que contraiu o vírus do poder, no que ele tem de mais doentio, que é “o uso do poder pelo poder”, do uso ao seu bel prazer, agredindo a tudo e a todos.

Se nós, que vivemos quatro séculos após Shakespeare, cercados dos confortos da vida moderna, estamos passando por essa desgraça, imaginem ele, que conviveu com hereges e “bruxas” sendo queimadas em fogueiras, degolas com espada, enforcamento em praça pública, açoites, guerras permanentes e três surtos de peste bubônica, não deve ter visto?! Daí, que todo o caos, a catástrofe que acomete a tragédia de Rei Lear, todo aquele exagero, exacerbação que a peça contém, nada mais é do que a realidade que o cercava, narrada por um gênio, e é agora nossa contemporânea.

Estamos passando pelos mesmos problemas. Cercados de idiotas perversos que se negam a aceitar a cruel realidade e estão assassinando inocentes com seus comportamentos doentios. Mas o castigo veio, e agora, com essas novas ondas e cepas, eles estão morrendo também! Sorrir, aglomerar e falar ao celular com seus iguais passou a ser o comportamento desses assassinos silenciosos desmascarados. Combatê-los todos os dias é nossa tarefa. “Go to hell” todos os idiotas! Fora com eles! São assassinos e devem pagar por isso!

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