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Quinto Ato
Quinto Ato

Não somos máquinas…

Charlie Chaplin, em seu discurso, no Grande Ditador, em 1940, diz que: “Não somos máquinas, homens é que somos”

Theófilo Silva

02/12/2021 13h12

Não somos máquinas...

A viagem de Marco Polo, um dos primeiros europeus a chegar à China, durou três longos anos. Ele partiu de Veneza, a meca comercial da península itálica em 1271, e só chegou à nação dos mandarins em 1274. Sua viagem demorou quase três anos, e ele percorreu mais de 25 mil quilômetros em sua jornada, andando a pé e navegando por mares, rios e lagos.

O ser humano até o início do século XIX, sempre se locomoveu por via fluvial ou andando a pé ou a cavalo, isso só mudou com a chegada da locomotiva, do trem a vapor. Animais como elefantes, bois, camelos também eram utilizados como montarias, mas nem de longe se comparam a destreza do cavalo. Charretes e carroças eram usadas em curtas distâncias, até mesmo porque eram desconfortáveis.

Andar a pé era um prazer do homem. Viagens que duravam 2, 5, 10 dias ou mesmo meses e anos, como a de Marco Polo eram comuns. O esforço físico, o ato de andar era considerado nobre, e os grandes andarilhos eram respeitados e admirados. O homem que não enfrentava jornadas a pé era considerado um fraco. Os exércitos se deslocavam a pé ou a cavalo ou em embarcações por lagos, rios e mares. Quase todos os santos da igreja católica eram grandes andarilhos e percorriam o mundo a pé, levando o evangelho de Cristo a todos os lugares, até mesmo na inóspita China. Os grandes desbravadores do início do século XX Roald Amundsen, Robert Scott, Robert E. Peary, pioneiros dos polos sul e norte, embora tenham usados cães e trenós, caminharam milhares de quilômetros no gelo para realizar seu feito.

Quero registrar que o ser humano tem uma dívida enorme com o cavalo. Os cavalos fizeram a diferença para o homem até o inicio do século XX. Os povos montados: turcos otomanos, hunos, romanos e outros criaram uma relação com o cavalo que quase os transformava em centauros, ou seja, um animal parte de baixo cavalo e do tronco para cima homem. Tanto que, durante muito tempo se acreditou na existência de centauros. E ainda hoje o cavalo, provavelmente depois do cachorro, é o animal mais amado pelos homens.

Faço esses relatos, embora não sejam do meu tempo, porque estou com saudade de um mundo em que o contato do homem com a natureza e os animais, pássaros, era constante, harmônico. Tenho saudade de um mundo mais lento, mais contemplativo e menos veloz, menos conectado com máquinas que não nos deixam pensar sozinhos. Sei que o passado também era violento, cheio de doenças e pragas que debelamos, mas que trouxemos de volta com nossas agressões à natureza, está aí a pandemia para comprovar isso. Estamos vendo alguns esforços para a preservação do meio ambiente, diminuição de emissão de carbono e outras medidas de igual teor.

Se Marco Polo precisou de três anos para ir da Itália à China, hoje a mesma viagem pode demorar apenas três horas ou até mesmo alguns minutos, já que foguetes espaciais podem percorrer até 400.000 km/h. Muito embora diante da imensidão do universo, isso não represente quase nada. Estou cansado de tanta velocidade, de tantos chips.

Charlie Chaplin, em seu discurso, no Grande Ditador, em 1940, diz que: “Criamos a época da velocidade, mas nos enclausuramos dentro dela” e lembra-nos, que “Não somos máquinas, homens é que somos”. E, por fim, Shakespeare nos ensina que: “Atos contra a natureza, geram desordens na natureza”. Mas, esses conselhos, infelizmente, o homem ainda não aprendeu. Vamos ver no que resultará a COP 26, a recente cúpula do clima!

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