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Quinto Ato
Quinto Ato

“Malditos sejam todos os covardes”

Chamo de covardes esses “Mauricinhos” e “Patricinhas” – já que é um covarde, um perverso, aquele que põe em risco a vida de seus semelhantes –, que não cumprem a lei de distanciamento social.

Theófilo Silva

21/07/2020 16h23

Hieronimus Bosch

Hieronimus Bosch

Essa imprecação é dita por ninguém menos que John (Jack) Falstaff, um dos mais apaixonantes, se não o mais apaixonante dos personagens de Shakespeare, tanto que é o único que aparece em quatro peças do bardo. Falstaff é uma espécie de fanfarrão filósofo, brincalhão, sempre com uma caneca de vinho na mão, amigo do príncipe Hall, futuro rei Henrique V. Ele chama de covardes seus próprios amigos que o abandonaram na floresta, após uma brincadeira. Pois muito bem, trago essa sentença de volta porque ela cabe como uma luva nesse momento terrível que estamos vivendo.

Talvez essa maldição, pelo menos num primeiro momento, devesse ser dirigida aos indiferentes, frouxos e egoístas que estão escondidos dentro de suas contas bancárias e não prestam um grama de solidariedade aos pobres e desvalidos que nos cercam. Não, não estou me dirigindo a esses seres desprezíveis, alguns deles, que eu, até poucos meses, chamava de amigos. Refiro-me a outro grupo, aos covardes, ecoando o grito de Falstaff, aos doentes de egoísmo que negam a existência da epidemia que está dizimando a humanidade. Estou me dirigindo àqueles que recusam o isolamento, a usar máscaras, álcool gel para imunização, distanciamento social e outras medidas necessárias que dificultem contrair a doença que mata você e seus semelhantes.

Um marciano que chegasse à capital federal, Brasília, sexta-feira, dezoito de junho de 2020, e passasse em frente aos restaurantes Fausto e Manoel e Libanus, o primeiro no Sudoeste e outro na Asa Sul, dois dos bairros mais ricos da cidade, pensaria estar assistindo à comemoração do hexacampeonato da seleção brasileira de futebol, tal era a desenvoltura e a alegria, regada a muita cerveja, cachaça e outras bebidas, pelos frequentadores do local. Homens e mulheres de todas as idades, muito embora prevalecesse um grupo muito maior na faixa dos vinte e cinco, quarenta anos, quase todos sem máscaras, bebiam criminosamente próximos uns dos outros. Mesmo que desse para ver marcações de distanciamento no chão, isso era ignorado. Os garçons, meio atarantados, nada faziam. Com toda certeza, por medo de perder clientes, perder sua gorjeta, já que eles talvez sejam os profissionais mais afetados economicamente pela pandemia. Não sabendo eles, coitados, que àqueles potenciais assassinos embriagados poderiam matá-los com esses atos de loucura. Esses cachaceiros alienados são semelhantes aos do Rio de Janeiro, que nos últimos dias adotaram o mesmo comportamento. Por que não beber no conforto de suas casas? Como quase todos nós estamos fazendo!

Por isso, amaldiçoo esses cachaceiros e grito bem alto, como o faz Falstaff: “Malditos sejam todos os covardes”. Chamo de covardes esses “Mauricinhos” e “Patricinhas” – já que é um covarde, um perverso, aquele que põe em risco a vida de seus semelhantes –, que não cumprem a lei de distanciamento social. São perversos, porque estão ameaçando a vida dos mais frágeis, dos mais velhos, dos portadores de comorbidades, dos garçons e barmen que não têm plano de saúde. É vergonhoso que as autoridades sanitárias não multem esses criminosos suicidas, idiotas, ególatras. Malvados sombrios que só pensam em si, se é que pensam em alguma coisa. Esses sujeitos se negam a aceitar a realidade que os cerca: a de que mil brasileiros estão morrendo todos os dias, por conta de suas ações criminosas. Impossível que isso aconteça na sofisticada Alemanha, ou mesmo nas humildes Índia e Tailândia. Apenas, para citar três nações onde a peste não prospera em virtude do isolamento imposto por lei.

Lembro que praguejar é rogar pragas, e nós estamos sendo assassinados, mortos por uma praga, no entanto, um bando de irresponsáveis, de loucos se recusa a aceitar isso. Por isso que eu praguejo contra eles. Por isso que eu os amaldiçoo! Malditos sejam todos os covardes!

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