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Quinto Ato
Quinto Ato

Justiça injusta

A recente descoberta de que pessoas eram exploradas em vinhedos do Rio Grande do Sul chocou o Brasil. Queremos que a justiça seja feita e esses sujeitos paguem por seus crimes. Mas, infelizmente, não é bem assim

Theófilo Silva

16/03/2023 5h00

Foto: PRF/Divulgação

Samuel Johnson, o Dr. Johnson, o maior dos ensaístas em língua inglesa nos nocauteia com esse petardo: “Representai bem e dignamente o papel de homem. Onde não houver homens, procurai comportar-vos como um”. Ou seja, onde não houver pessoas dignas e honradas…

A recente descoberta de que pessoas eram exploradas em vinhedos do Rio Grande do Sul chocou o Brasil. E isso num estado com um dos mais altos níveis educacionais, culturais e econômicos do país. Esses homens trabalhavam em condições análogas à escravidão, eram mal pagos, não possuíam direitos trabalhistas e sofriam muitos outros abusos. Em torno de 150 deles eram nordestinos. Como se isso não bastasse, na mesma semana, um vereador de Caxias do Sul (RS) fez um pronunciamento chamando esses trabalhadores explorados, em sua maioria baianos, de preguiçosos e sujos. Segundo ele: “Essa gente lá de cima tem como única cultura viver na praia tocando tambor, se preocupam apenas com festas e carnaval, e que não gostam de trabalhar”. E foi ainda mais longe, dizendo que “o correto era contratar argentinos, que não causam problemas pra ninguém”.

As duas cidades onde aconteceram essas barbaridades são Caxias do Sul e Bento Gonçalves. Trata-se de cidades gaúchas bem conhecidas pelo público brasileiro, e que ostentam um elevado padrão de vida. É bom saber que não estamos falando de duas ou três pessoas escravizadas, mas de quase duas centenas de trabalhadores. O caso também não ocorreu numa região remota do Brasil, seja na Amazônia ou no Centro Oeste, ou até mesmo na própria Bahia, um dos maiores estados brasileiros. Esse comportamento perverso, cruel desses empresários é fruto da certeza da impunidade, da ineficiência do poder Judiciário.

Como o caso causou indignação nacional, uma série de medidas foram tomadas pelo Ministério Público para multar e punir os culpados por esse crime medieval. Queremos que a justiça seja feita e esses sujeitos paguem por seus crimes. Mas, infelizmente, não é bem assim, tenho minhas dúvidas. Na grande maioria das vezes passado as denúncias da imprensa, os processos são esquecidos, engavetados e ficam dezenas de anos rolando nos tribunais. Eis aí o caso do corrupto assumido, Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, para provar isso. Ele está livre, leve e solto, rindo para as paredes mesmo condenado a 435 anos de prisão. Nosso poder judiciário nos envergonha.

Nossas leis não funcionam, só punem os pobres. Não há um único político ou empresário rico condenado preso no Brasil. As penas prescrevem e não dão em nada. Tudo combinado “lá por cima”. Espero que as recentes ações do Ministro Alexandre de Moraes gerem condenações no futuro. Só prender temporariamente e multar os financiadores dos terroristas que vandalizaram e tentaram derrubar a democracia, não é o bastante.

Assim, a impunidade é a mãe de todas de todas as mazelas que flagelam esse riquíssimo pobre país do futuro que teima em não sair do canto e dar a largada para se tornar uma das, economias mais prósperas do planeta. Já estamos cansados de ver prosperar a injustiça, mãe de todas as desgraças que nos afligem. A imprensa tem feito o seu trabalho, investigando e denunciando erros e crimes, no entanto não vemos a justiça ser aplicada. Temos um novo governo, que está trabalhando para corrigir erros, tentando fazer o melhor pelo Brasil. Mas somos uma democracia, temos três poderes, o Executivo embora aparente ter o controle de tudo, não o tem. Nosso Legislativo é controlado pelo que há de pior na política brasileira, e o Judiciário, em suas instâncias superiores, com raras exceções, está se lixando para o povo brasileiro. Eles vivem como príncipes medievais, como deuses e estão se lixando para a Deusa Justiça. Dessa forma, nesse país, o homem honrado não passa de um sofredor, de alguém que vê o Mal prosperar e nada pode fazer. A pergunta é: Até quando suportaremos as injustiças do Judiciário brasileiro?!

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