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Quinto Ato
Quinto Ato

Choramos por ti, Argentina

Uma nação em queda livre: Argentina vai da glória à decadências ano a ano. Entenda as raízes históricas e contemporâneas por trás dessa crise

Theófilo Silva

10/03/2024 15h46

A Argentina é mesmo um país difícil de ser compreendido. Membro do grupo das dez nações com melhor índice de vida nas duas primeiras décadas do século XX, com uma pequena queda nos anos 1940, depois entrou num processo de decadência e nunca mais conseguiu se aprumar e encontrar tranquilidade, nem econômica nem política. Hoje, “los hermanos” ocupam a 45ª colocação entre os países ricos do mundo.

Já perdeu em qualidade de vida para seu vizinho Chile e, também para a Colômbia a posição de segunda nação mais rica da América do Sul. O que teria levado esse povo orgulhoso rolar escada abaixo, quando normalmente o que ocorre com as nações é subir os degraus da escala social? Uma nação pode enfrentar crises, guerras, turbulências e depois se recuperar; temos muitos exemplos no mundo, mas baixar seu padrão de vida ano a ano é um fenômeno incomum.

No entanto, o motivo não é difícil de detectar, e sabemos quando isso começou. As elites e a burguesia argentinas – embora não goste desses termos –, e seu namoro com as ditaduras, o caudilhismo – uma doença latino-americana, da qual o continente está se libertando –, levaram o país a pavimentar a estrada da decadência por intermédio do coronel Juan Domingo Perón, o ditador que marcou a história da Argentina e da qual ela não consegue se desvencilhar. O país ficou do lado dos fascistas e nazistas durante toda a Segunda Guerra Mundial, mantinha fortes relações com a Alemanha Hitlerista, e Perón era fã e imitador de Mussolini. Após o fim da guerra, a Argentina acolheu milhares de criminosos nazistas, que iriam formar as horrendas escolas de tortura nas ditaduras que se seguiriam.

Essa arrogante elite que sempre se considerou “uma sociedade europeia encravada na América do Sul”, apoiada por setores ultraconservadores da Igreja Católica, deu sustentáculo às ditaduras. A elegante Buenos Aires, capital do país, é uma imitação de Paris, e seus habitantes mimetizam a elite da capital francesa da Belle Époque.

O populismo, que esteve sempre presente no imaginário do povo argentino, tornou-se uma realidade cruel, e Perón se aproveitou disso, passando a governar para “os descamisados”, transformando sua jovem e bela mulher Isabelita na mãe de todos os argentinos. Perón desmontou toda a estrutura que permitia à Argentina ser uma nação rica. Expulso do país, Isabelita, que era vice-presidente, tomou posse, mas aguentou pouco tempo. Daí pra frente, a Argentina não mais se encontrou – Perón voltou mais uma vez ao poder –, e teve as ditaduras mais brutais das Américas, a exceção do Haiti.

Depois a Argentina teve de encarar a medíocre Cristina Kirchner, uma figura plastificada, cosmética, agressivamente populista, e inimiga da democracia. Foi colocada lá por seu ex-marido e ex-presidente Néstor Kirchner (1950-2010). Ela atuou como se fosse Isabelita Perón nos anos 50. Hoje, ao andarmos em Buenos Aires e país adentro, temos por um momento a impressão de que estamos no Brasil nos anos 1990, ao vermos que a frota de carros em circulação no país é brasileira e tem mais de vinte anos de uso.

Falei de Cristina para chegar a Javier Milei, o atual Presidente da Argentina. Conhecido como “El-loco”, MIlei, com seu comportamento doentio, está levando essa nação irmã à bancarrota, à desgraça e ao caos. Todas as medidas de Milei têm sido ditatoriais e catastróficas. A inflação e desemprego estão nas alturas. O índice de pobreza chega a 58% da população. A fome tomou conta do país. A relação comercial com o Brasil está em perigo, por conta de suas declarações agressivas contra nós, e só não desmoronou, graças à tolerância brasileira. Ouso apostar que Milei não terminará seu mandato, tantos são os abusos cometido por ele. Vamos ver!

Na imortal canção “Don’t cry for me, Argentina”, Andrew Lloyd Weber diz num verso: “Olhando para fora da janela, permanecendo fora do sol.” É assim que a Argentina se encontra hoje. E choramos por isso!

 

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