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Quinto Ato
Quinto Ato

Nós somos apenas homens

E como diz, ainda, o poeta mineiro: “Somos apenas homens… E a natureza traiu-nos”

Theófilo Silva

09/12/2021 15h10

Nós somos apenas homens

Bateu exaustão, cansaço. Estamos fatigados, exauridos, diria mesmo que massacrados pela pandemia, esperando ansiosamente 2022, a virada, o período em que o mundo, o ser humano faz uma pausa, dá um tempo. É hora de encontrar a família e os amigos, celebrar o Natal, fazer uma reflexão, um balanço do ano. Todos nós precisamos de férias, de descanso – relaxar – se é que isso é possível diante de tanta dor e desconforto. Estamos vivendo como se repetíssemos a fala do desesperado Macbeth: “O amanhã, o amanhã, o amanhã, arrasta-se nesse ritmo mesquinho, dia após dia, até a última sílaba do tempo registrado…”. É como se a vida tivesse se tornado um fardo a ser carregado, e não, um prazer a ser desfrutado. O uso da máscara e o horror ao nosso redor, com novas cepas de nomes gregos, estranhos, que surgem o tempo todo assustam-nos e impedem que a vida volte ao normal. O ser humano não nasceu para andar mascarado e viver isolado. Somos seres gregários.

Infelizmente, a desgraça vai continuar em 2022, com menos força, menos destrutiva, mas mesmo assim ainda numa situação que impedirá que a vida volte à normalidade. A desigualdade social entre as nações e a loucura de muitos fará com que a ameaça permaneça por mais algum tempo. A praga está se fortalecendo nas nações mais pobres da Ásia, África e Europa, nos países onde a vacinação ainda é lenta. Felizmente, o Brasil, apesar de todos os boicotes do governo federal, que nega a letalidade da peste e dissemina mentiras e faz boicotes o tempo todo, o povo brasileiro aceita a vacina, diferentemente de parte considerável dos nossos vizinhos norte americanos, que estão morrendo aos milhares, por simples ignorância.

É triste saber que os brasileiros foram classificados, em pesquisa pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como o povo mais ansioso do mundo. Sabemos que ansiedade é insatisfação, depressão, perda do prazer de viver. Não deixa de ser triste tomarmos conhecimento disso. Sabemos também que a causa não é apenas a pandemia, mas a crise econômica e ética que o país vive. Estamos sem rumo. A fome campeia, e a desesperança tomou de conta, fazendo os Brasileiros abandonarem o país. Mas os que estão aqui, e são muitos, digo que é preciso resistir, ter coragem e enfrentar os flagelos e expulsar os perversos do poder.

Diante desse infortúnio, não tenho como não lembrar um trecho do belíssimo poema de Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo, escrito em plena Segunda Guerra Mundial, em que o grande Drummond via a humanidade se destruindo, esfacelando-se por vontade de uma parcela dos homens. Diria que esses versos resumem muito bem tudo aquilo que estamos passando agora. Sim, estou sendo pessimista, por mais que eu não queira sê-lo, mas digo que parte da humanidade está se sentindo assim, isso sem contar aqueles que perderam entes queridos, ou mesmo seu negócio ou seu estilo de vida. Diz o maior poeta brasileiro: “Os camaradas não disseram/ que havia uma guerra/e era necessário/ trazer fogo e alimento./Sinto-me disperso/anterior a fronteiras/humildemente vos peço que me perdoeis”.

E como diz, ainda, o poeta mineiro: “Somos apenas homens… E a natureza traiu-nos”.

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