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Quinto Ato
Quinto Ato

A guerra por outros meios

Theófilo Silva

11/09/2021 10h02

Não sei se vocês conhecem a célebre sentença do general prussiano Claus Von Clausevitz de que “A guerra é a continuação da política por outros meios”, contida em seu livro Da Guerra, publicado em 1832. Da Guerra se tornou um clássico e passou a ser lido em todas as universidades e academias militares do mundo, tornando-se uma referência no assunto. Essa afirmativa foi também muito questionada por vários estudiosos, entre eles o historiador britânico John Keegan, em seu livro Uma História da guerra, que também se tornou um clássico. O certo é que ambos os livros são estudos profundos sobre o ato de guerrear, de matarem-se uns aos outros, a tarefa, lamentavelmente, mais praticada pelo Homem desde que ele saiu das cavernas para caçar e se alimentar.


Guerra do Peloponeso, Guerras Púnicas, Guerra dos Cem Anos, Guerra dos Trinta Anos, Guerra do Paraguai, Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial, Guerra do Vietnan, Guerra do Afeganistão… O número é incontável. Segundo os historiadores, nesses cinco mil anos de civilização, o mundo desfrutou de pouco mais de três séculos sem guerras.


Agora, no século XXI, as guerras parecem ter acabado. Existem várias nações com problemas locais. Guerras civis na Síria, Líbano; Israel tem sequelas permanentes com os árabes e existe a questão do Afeganistão. A África que teve vários conflitos pós-coloniais se encontra em paz. Mas, nesse momento, nenhuma nação se encontra em estado de guerra com outra gerando centenas ou milhares de mortes diariamente. No entanto, existe muito ódio e destruição ao nosso redor, além da pandemia. Pergunto: o ser humano é realmente mal, e não consegue viver em paz com seus semelhantes? É um ser decaído como diz a Bíblia? Afinal o que faz o homem procurar o ódio e a destruição, o sofrimento?


Digo isso porque o ato de guerrear mudou, os homens agora não usam mais armas de fogo para matar. A guerra ocorre no mundo virtual, na Internet, transformada numa terra de ninguém pelos algoritmos, pelas redes sociais. São nesses espaços que a humanidade está destilando e despejando seu ódio: caluniando, roubando, destruindo e matando pessoas ao redor do mundo. Arrombando fronteiras nesse universo virtual perverso que nos foi presenteado pela tecnologia. A catástrofe provocada por esses criminosos cibernéticos se dá em todas as esferas sociais. Seja disseminando ideologias autoritárias em ataques diretos à democracia, elegendo políticos corruptos, invadindo telefones, contas bancárias, sites públicos e privados, derrubando sites de tribunais, hospitais, supermercados, grandes magazines… Trata-se de um culto ao crime, a mentira e ao roubo Um horror. Isso sem falar nos hackers, os ladrões que vivem em outros continentes roubando a distância. Nos EUA, as prefeituras de pequenas cidades estão vivendo horrores com a ação desses monstros. Quem diria, estamos sendo assaltados e aterrorizados a milhares de quilômetros de distância sem o uso de armas! É a guerra virtual. Estamos em guerra, a guerra por outros meios, que dá título a esse artigo.


Assim, a guerra não é mais uma continuação da política, mas a própria política em ação. E política de extrema direita, de disseminação do ódio, cruel, perversa, destruidora, tradicionalista, capitaneada por gurus doentios cheios de teorias, as mais loucas que se possa imaginar. Donald Trump, ex-presidente dos EUA é um dos principais representantes dessa turma.


A Alemanha adotou os princípios de Clausevitz transformando a política em ato de guerrear, provocando duas guerras mundiais. Foi destroçada em ambas. Portanto, não podemos permitir que essa guerra silenciosa prospere, e a única forma é nos mantermos vigilantes em defesa da democracia. Não há outra saída. Shakespeare nos legou um dos mais profundos estudos da natureza humana, e escreveu dezenas de peças envolvendo as guerras inglesas, chamou a Guerra de “Filha do Inferno”. E é isso que elas são mesmo. O combate ao fascismo, ao autoritarismo, a guerra, é um dever de todos nós!

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