Menu
Psicanálise da vida cotidiana
Psicanálise da vida cotidiana

Aspectos “psicóticos” na política brasileira

Como as dinâmicas mentais dos nossos representantes influenciam suas tomadas de decisão e políticas em detrimento do bem comum

Carlos de Almeida Vieira

17/03/2024 15h17

A polarização é uma experiência arrogante, onde “a verdade” reina supremamente, alimentando a intolerância em nosso tecido democrático. Nessa dinâmica, só se defendem crenças alicerçadas em fantasias de onisciência, onipotência e onipresença. É uma ilusão pensar e tentar exercer uma “democracia relativa”, assim como uma “ditadura relativa”

Nos  últimos anos, temos testemunhado com apreensão um padrão preocupante na política , tanto no Brasil quanto em outros países do mundo. O funcionamento mental de nossos governantes parecer ser marcado por um mecanismo repetitivo, automatizado e obsessivo, onde impera o jogo perverso da polarização, muitas vezes em detrimento da democracia, que ainda representa uma tentativa de defender os direitos humanos, e talvez seja a única possibilidade de convivência harmoniosa com as diferenças, buscando reduzi-las a cada dia, como sugeria Wilfred Bion ao transitar do Narcisismo para o Social-ismo. Esse conceito não deve ser confundido com Socialismo.

Hoje, na psicanálise pós-moderna, sabemos que o funcionamento mental oscila entre “partes neuróticas”, “partes psicóticas” e “partes perversas”, não como diagnóstico formal psiquiátrico, mas como una descrição da prevalência desses aspectos dinâmica psíquica cotidiana.

Nesse sentido, é importante enfatizar os aspectos de partes psicóticas e perversas presentes na mente de nossos políticos, governantes e classes dominantes.

As diferentes máscaras dos candidatos às eleições políticas

Com ênfase cada vez mais voltada para a competição frenética pelo poder, a política atual perde de vista o senso social-humanístico, o sentido republicano de governar em prol do bem público, sem auferir poder, lucro, domínio e idéias messiânicas com tintura megalomaníaca de “salvar o mundo e o Brasil”. Em vez disso, concentra-se em uma competição perversa e no domínio autoritário das facções de direita e esquerda.

Como dizia um grande amigo do peito, com profunda ansiedade, medo, desesperança: “Nossos governos esquecem das promessas fundamentais de prover: casa, comida, saúde, educação e segurança”. Estão substituindo esses direitos, principalmente num país ainda fragilizado demais, por projetos nacionais e internacionais de “SALVADORES E MESSIAS DA HUMANIDADE”. É só observar essa agricultura exportadora, que deixa de alimentar os menos favorecidos.

Em psicanálise, aprendemos com a sabedoria dos nossos mestres que a  negação, a denegação, a dissociação afeto-pensamento, a avidez, a voracidade, o acúmulo das riquezas materiais às custas da dominação e espoliação da pobreza, a manutenção do “coronelismo político”, a rigidez da festividades da esquerda e da direita, todos esses elementos, cegam os direitos universais humanos. Não será surpresa se esses mecanismos de funcionamento levarem, em breve, à descrença e à revolta de uma população excluída, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo. E aqui me refiro tanto aos menos favorecidos como à “pequena classe, dita “média”, pois a classe média de verdade, média alta e os acumuladores do capital vivem na base da “insensibilidade afetiva” com as “dores do mundo”. De certo, faltam-lhes leituras – bem como a nossos líderes políticos – de uma vasta literatura que retrata essas questões, desde autores brasileiros como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Machado de Assis, até pensadores globais como Dostoièvski e Albert Camus, para citar alguns entre outros escritores e pensadores do quilate de Hannah Arendt em seu  conceito de “Banalidade do Mal”.

Como bem expressou Carlos Drummond de Andrade em seu poema “Nosso Tempo”, os desafios e as angústias retratadas continuam relevantes até os dias de hoje, pois clássicos como esse jamais deixam de ecoar a verdade de nossas sociedades fragmentadas e em constante busca por redenção.

“Este é tempo de partido/ tempo de homens partidos…Este é tempo de divisas,/ tempo de gente cortada./ De mãos viajando sem braços,/ obscenos gestos avulsos…E há mínimos bálsamos, recalcadas dores ignóbeis,/ lesões que nenhum governo autoriza,/ não obstante doem,/ melancolias insubornáveis,/ ira, reprovação, desgosto.” Fragmentos de versos de Drummond em seu poema – “Nosso Tempo”. 1945 ou 2024.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado