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Olhar Strano
Olhar Strano

Tragédia no litoral paulista reflete a desigualdade do país

Uns perdem o lazer, outros, a vida

Danilo Strano

27/02/2023 9h55

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Com histórico colonial e exportador, o Brasil sempre teve grande parte da população vivendo em seus litorais. Segundo o IBGE, mais de um quarto dos brasileiros (26,6%) mora em cidades litorâneas ou próximas. Isso equivale a 50,7 milhões de pessoas. Devido a densidade populacional elevada e a proximidade a rios, montanhas e mar, essas cidades sempre sofrem com chuvas e alagamentos.

Pessoas morrendo com chuvas torrenciais no verão tem sido a rotina dos noticiários brasileiros em dezembro e janeiro. O fenômeno ocorre em diferentes regiões do país, não se trata de um problema local.

O que alguns classificam, talvez por desencargo de consciência, como apenas uma tragédia causada por questões climáticas, é, na verdade, uma questão social. As principais vítimas desses desastres, como de muitos problemas que o Estado não prioriza a solução, são as pessoas oriundas das classes mais baixas. As áreas mais vulneráveis das cidades, onde não há infraestrutura, são ocupadas por famílias de baixa renda. Famílias essas que foram “empurradas” para estes locais graças a uma especulação imobiliária cada vez mais agressiva, que as força a ocupar encostas e beira de rios e canais.

Na mais recente tragédia litorânea do país, no norte de São Paulo, pessoas têm perdido tudo — inclusive a vida. Para os mais abastados, o prejuízo é apenas no comprometimento das suas férias de verão ou, no caso mais grave, na perda da sua casa de praia. O próprio prefeito de São Sebastião se revoltou com as praias nobres lotadas nos dias subsequentes ao ocorrido: enquanto uns contavam mortos, outros jogavam beach tennis.

A ideia aqui não é minimizar a dor do turista, mas sim apontar que, para quem mora nas áreas vulneráveis, é a vida que está em jogo.

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