No último Dia Internacional da Mulher, quando todos membros da Câmara dos Deputados usavam a tribuna para homenagear e valorizar a luta das mulheres em nossa sociedade, um deputado de primeiro mandato, conhecido e eleito pelas polêmicas em que se envolve, resolveu fazer uma fala atacando transexuais. Com uma peruca loira para humilhar e ridicularizar uma parcela da sociedade, Nikolas Ferreira (PL-MG) mostrou que, enquanto parlamentar, dará sequência aos ataques que o fizeram conhecido quando candidato.
Após o discurso, diversos grupos se manifestaram em defesa da causa transexual. O deputado, então, tentou diminuir o fato, dizendo que a repercussão ocorreu pelo radicalismo do “ativismo LGBT”. Se escondendo atrás da bandeira do conservadorismo, Nikolas afirmou que não pretende rever os ataques e as humilhações realizadas.
Desde 2019, a transfobia é considerada crime no Brasil. No último ano, nosso país foi o que mais matou pessoas transexuais e travestis no mundo, triste marca que se deu pelo 14º ano consecutivo. A expectativa de vida de transexuais no país é de 35 anos, menos da metade da média geral (77 anos). Esses números são categóricos e mostram como transexuais estão sendo exterminados.
Até mesmo o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), conservador e sem histórico da luta em defesa das minorias, criticou o deputado mineiro: “O Plenário da Câmara dos Deputados não é palco para exibicionismo e muito menos discursos preconceituosos. O deputado Nikolas Ferreira merece minha reprimenda pública por sua atitude no dia de hoje. A todas e todos que se sentiram ofendidas e ofendidos, minha solidariedade.”
Pedidos de cassação foram feitos na Câmara, e notícia-crime foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF). O deputado continua negando o crime e não demonstra que os ataques pararão por aí. O parlamentar afirma que esse é seu jeito de fazer política e assim será conduzido seu mandato.
A cassação de Nikolas Ferreira seria exemplar para nossa sociedade. No país em que mais se mata transexuais, onde a expectativa de vida de uma pessoa trans é inferior a metade da população geral, a punição para um deputado que cometeu transfobia traria uma importante reflexão para parte da sociedade que insiste em negar direitos às minorias.