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Muito Prazer, Luisa Miranda
Muito Prazer, Luisa Miranda

Você fala de problemas sexuais com seu parceiro?

Se temos questões e angústias em todas as outras áreas, por qual motivo não teríamos nessa?

Lu Miranda

26/07/2023 16h26

Arte: Lu Miranda

Ter problemas sexuais é absolutamente natural, e não falar sobre o assunto não irá fazer com que ele não exista, apenas fará ele não ser visto até o momento em que algo maior transborde. Sim, estou falando de separação, divorcio, traição, mentiras, sofrimentos, ansiedades, inseguranças… para quê, né?!

Segundo uma pesquisa de 2017 do Instituto Kinsey, dos Estados Unidos, apenas 34% das pessoas casadas entrevistadas fazem sexo duas ou três vezes por semana; já 45% dos casais afirmaram ter relações com suas parcerias algumas vezes por mês, apenas. Outro estudo, de julho do ano passado, publicado pelo sex shop Miess, traz que 62,9% das mulheres brasileiras costumam fingir orgasmos, enquanto apenas 26,7% não fingem.

Diante de tudo isso, deixo um questionamento: frequência sexual e dificuldades em atingir o orgasmo podem ser vistos como sintomas de um problema maior?

Na semana passada, aqui na coluna, abordei sobre quantidade e qualidade sexual, justamente por esse ser um ponto muito presente nas demandas terapêuticas. Fomos levados a acreditar que sexo com frequência é sinônimo de qualidade na relação, todavia, percebe-se através dos dados acima que a realidade é bem diferente.

De forma geral, acredita-se que transar é algo fluido, espontâneo e animal, e que nada consciente e prático precisa ser feito sobre isso. Porém, sabe-se hoje que o tesão é responsivo, ou seja, aquilo que você sente responde a algo, alguém, ou alguma coisa. Entender e ter (auto)conhecimento sobre isso é de total importância para uma vida sexual satisfatória. Entretanto, falar — e, muitas vezes, até pensar — sobre sexo ainda é um tabu, mesmo que em ambientes de saúde, o que torna tudo mais complicado do que deveria ser.

“Não quero magoar meu parceiro”; “tenho medo de machucar ela falando das coisas que gosto” ou ainda “e se eu for julgada?” são algumas das frases que escuto quando o assunto é conversar sobre os problemas sexuais com a parceria. Inclusive, durante as sessões, costumo trocar a palavra problemas (que traz um super peso negativo) por inadequações sexuais, no sentido de olharmos para aquilo que não foi alinhado como expectativa, e não como um fardo ou ameaça contra o ego ou dignidade de alguém. Falo isso porque tenho percebido o quanto levamos para o pessoal qualquer feedback que não seja adequado aos nossos ouvidos. Mas quando estamos numa relação madura e de troca, aprender a ouvir e falar coisas difíceis é primordial. Não existe essa de querer bons resultados sem passar por testes desafiantes. Mar calmo não faz bom marinheiro, não é mesmo?!

Não tô falando para viver de DR, até porque desgasta demais uma relação, mas precisamos normalizar conversas difíceis sem termos que colocar tantos pesos.

“Como assim, Lu?”

Não existe um momento perfeito para falar de certas coisas, ainda assim, elas precisam ser ditas. Portanto, crie você o momento.

Existem várias formas de nos comunicarmos com o outro sobre o que estamos sentindo, todavia, contudo, entretanto, precisa-se de um mínimo de autoconhecimento para saber identificar e nomear o sentimento que está presente naquele momento. É é aquilo, né: só podemos lidar com aquilo que conhecemos.

Mas e quando um quer falar sobre essas questões e o outro não dá espaço ou liberdade?

Uma vez ouvi de uma paciente um relato que nunca esqueci: “Eu mal posso falar pro meu namorado que ele está com mau hálito na hora de me beijar, porque ele já se sente ofendido; imagina como vai ser se eu apontar coisas no sexo que não gosto?”

Esse é um exemplo perfeito sobre dar espaço de fala, porque nesse caso ela tem toda razão. Como falar sobre o sexo não ser bom se a parceria fica arrasada com muito menos?

Buscar apoio em outras pessoas em quem se confia e procurar ajuda terapêutica para entender as angústias que vão surgindo é um belo começo para compreender muitas questões. Até porque sexo não é só um tabu na sua relação, então, sim, muito provavelmente vai transbordar coisa aí. Coisas essas que podem, sim, gerar disfunção erétil, dor na relação, dificuldade em chegar ao orgasmo, vaginismo, ejaculação precoce e, obviamente, baixa de interesse pela parceria. Uma roda gigante de caos.

Mande um meme, uma matéria específica que te ajude a ter coragem de abordar o assunto. Use o Instagram, TikTok, Netflix e afins. Use as redes sociais e o excesso de informação a favor do seu crescimento emocional e sexual. Tenho certeza que você aí vale o investimento! Não é fácil, eu sei. Mas não precisa ser impossível, né?!

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