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Muito Prazer, Luisa Miranda
Muito Prazer, Luisa Miranda

Términos e traições: uma reflexão de como a vida de pessoas famosas impactam nas nossas relações íntimas amorosas e sexuais

Famosos e famosas também possuem crenças sexuais, limitações, medos, vulnerabilidades e constrangimentos sobre si. Então, por qual motivo projetamos neles tantas idealizações? Por que nos afetam tanto?

Lu Miranda

27/09/2023 16h39

Atualizada 28/09/2023 10h34

Arte: Lu Miranda

Nas últimas semanas, muitos acontecimentos relacionados a relacionamentos amorosos de famosos vieram à tona, mas dois em específico mexeram mais com a cabeça daqueles e daquelas que procuram a terapia sexual: a traição de Chico Veiga, que acabara de ganhar uma música como declaração da então namorada Luísa Sonza, e o fim do casamento entre Sandy e Lucas Lima. As notícias ressoaram no consultório e trouxeram consigo várias angústias sobre amor, parceria, sexo e traição. Quero, portanto, aproveitar esse momento para pontuar algumas questões.

Enquanto casais, Chico e Luísa e Lucas e Sandy, por mais famosos e privilegiados que sejam, compartilham de um mesmo contexto histórico, social, político e econômico como qualquer outro par, ou seja, eles também são influenciados por tudo que acontece ao redor, assim como acontece para todos nós, humanos frutos do contexto. Digo isso para que possamos olhar para eles com humanidade e não como seres mais evoluídos ou mais sábios que todos os outros.

Famosos e famosas também possuem crenças sexuais, limitações, medos, vulnerabilidades e constrangimentos sobre si. Então, por qual motivo projetamos neles tantas idealizações? Por que nos afetam tanto?

Porque é através deles e de suas exposições que percebemos os lugares comuns e olhamos para nós e nossas relações. “Acabou nossa paixão”, “viramos amigos” e “as coisas foram esfriando” são respostas comuns a vários términos. Inclusive, com certeza você aí já sentiu na pele alguma dessas experiências, então vamos compreendê-las um pouco mais?!

Fomos ensinadas a acreditar que relações boas devem sempre nos causar algo bom, e até aí tudo bem, todavia, o que consideramos “bom” numa relação esta quase sempre associado a excitação, paixão e tesão, mas será mesmo? Será possível estar sempre excitado, apaixonado e com tesão pelo mesmo algo ou alguém?

Do ponto de vista fisiológico, nos habituamos a qualquer coisa, feliz ou infelizmente. Na prática, isso significa que a pessoa que você escolheu, para você, pode ser a mais sensacional e incrível que já conheceu na vida, mas, com o tempo, outras questões vão surgindo, e aquela euforia toda que era sentida no início da relação vai se tornando mais tranquila e estável — quase que entediante, dependendo do ponto de vista. Saímos de dosagens altas de dopamina, ocitocina, endorfina e serotonina para mais estabilidade fisiológica e emocional. Ainda bem, né?! Afinal, seria absolutamente insustentável manter todos esses hormônios em níveis altos a médio e longo prazo, tendo outras coisas a serem feitas, tantas contas para pagar… percebe?

Contudo, viemos de uma cultura que não incentiva a nossa comunicação sobre intimidade sexual. Assim, mesmo que queiramos viver aquilo ou mesmo ampliar o olhar sobre algo, não temos repertório o suficiente para mudar as coisas, e achamos que “casamento/namoro é assim mesmo” — e eu sei que você aí já ouviu essa frase antes. Então, para ilustrar melhor minhas palavras, trago aqui um trecho de uma colocação feita por Sandy em entrevista ao podcast ‘Quem Pode, Pod’, para avaliarmos algumas questões:

“O Lucas me ajuda a me enxergar como pessoa. Descobri quem sou musicalmente ainda mais, ele me ajuda a me entender, é meu terapeuta, meu psicólogo em casa. Ele é meu chão, a pessoa para quem eu me exponho nua e crua, sem maquiagem, do jeito que sou no meu estado mais primitivo e essencial, do jeito que nasci, do jeito que ninguém sabe que eu sou. Ele me aceita assim, com todos os defeitos.”

O que acham desses dizeres? Como psicóloga e sexóloga, mas também como mulher aprendiz de tudo isso, tenho percebido de forma muito clara como precisamos ter cuidado em como projetamos toda nossa expectativa em outra pessoa. Pode ser lindo na teoria, mas, na prática, pode gerar uma grande sensação de sufoco, excesso de responsabilidade e culpa quando o outro não é feliz através de você como se imaginava. A própria traição também entra nesse bolo todo, porque, assim como várias outras coisas relevantes, não alinhamos com a parceria conversas sobre o que é traição, ou mesmo sobre como seriam as regras daquela relação, seja ela monogâmica, aberta ou de outra forma.

Questionar o óbvio é absolutamente necessário, e isso pode ser feito de uma forma mais saudável e eficaz quando encontramos alguma pessoa especializada em ocupar esse papel, afinal, antes de sermos casal, somos pessoas individuais e carregamos nossas cruzes e inseguranças, não é mesmo?!

Olhar para as nossas dificuldades através de um profissional pode ser absolutamente importante, pois nos ajuda a entender a responsabilidade envolvida em levar nossas fragilidades, medos e receios para alguém, principalmente quando esses sentimentos são acompanhados da tensão que é não frustrar aquele alguém que amamos. Disfunção erétil, ejaculação precoce, dificuldade de alcançar o orgasmo e dor na relação podem, sim, ser consequências de ansiedades causadas pelo medo de decepcionar. Mas sabe quem é treinado para te ajudar nessa missão? O psicólogo, ou, no caso de questões relacionadas a sexo e relacionamentos, o terapeuta sexual, e não seu marido ou esposa.

Entendo e respeito caso você seja do tipo que não fala da sua vida íntima para quem não conhece (apesar de hoje as pessoas exporem tudo que falam e fazem sem nenhum pudor na internet). Mas gostaria muito que soubessem que psicoterapia é um lugar de acolhimento e amor, não julgamento. Ou seja, se você aí ainda tem resistência em falar sobre você e sobre sua intimidade com alguém que é preparado para aquilo, saiba que, provavelmente, quem julga suas escolhas, comportamentos e sentimentos é você mesmo.

Que tal ampliar um pouco mais essa sua bolha de (auto)conhecimento? “Como?” Tendo humildade para olhar para si mesmo como um serzinho em construção e movimento, que, assim como nossos celulares, também vai precisar aceitar e acolher que mudanças e atualizações são indispensáveis quando se quer ter melhores resultados, rapidez de raciocínio e desempenho.

Ainda assim não faz ideia por onde começar? Sex Education, da Netflix, é minha indicação da semana. Uma série leve, emocionante, educativa que vai te fazer rir e lembrar de situações que só vendo para saber.

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