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Muito Prazer, Luisa Miranda
Muito Prazer, Luisa Miranda

Aplicativos de relacionamento e a busca pelo amor, ainda que seja o próprio

São inúmeras as pessoas que procuram felicidade e satisfação através do outro, e o que ajuda nessa procura são os apps de relacionamento

Lu Miranda

14/06/2023 13h29

Arte: Lu Miranda

“Tenho medo de não encontrar alguém legal e interessante. Tenho medo de ficar sozinha, como algumas mulheres da minha família”, desabafou Maria ainda na primeira sessão.

Ela buscou terapia por ter medo de não encontrar alguém para dividir a vida. Maria, e aqui uso um nome fictício para manter sua privacidade, está com cerca de 28 anos e busca estabilidade profissional, financeira e um grande amor para chamar de seu.

Confesso que adoraria que Maria fosse uma exceção, mas são inúmeras as pessoas que procuram suas felicidades e satisfações através do outro, e hoje, o que ajuda muito nessas procuras são os aplicativos de relacionamento. Tinder, Happn, Bumble, Badoo, Grindr, Her… são diversas as opções para quem deseja encontrar um amor e/ou se relacionar, ainda que seja apenas para conhecer pessoas novas. Tá na mão, por que não?

Há quem chame de “cardápio humano”. Afinal, com um simples clique para direita ou esquerda, no caso de alguns apps, você ‘descarta’ ou ‘curte’ aquela pessoa. E, caso ela te curta de volta, temos o tão esperado ‘match’ – você foi correspondido!

E agora, faz o quê?

A partir daí, eis que surge um grande desafio para muitos: iniciar, manter e finalizar uma conversa, algo que já tem sido bastante desvalorizado devido às novas formas de comunicação. Formas que refletem diretamente na maneira com a qual nos relacionamos com o mundo. E eu não sei vocês, mas percebo que estamos desaprendendo a nos relacionar, ou melhor, estamos esquecendo de dar valor às pessoas como elas são. Mas não! Julgamos alguém como pessoa boa ou ruim usando como critério apenas imagens bonitas e atraentes – seguindo o gosto de cada um, o que já diz muitooo sobre a pessoa -, juntamente com meia dúzia de palavras convenientes, daquelas ditas por quem está vendendo um pouco de si próprio.

Entendo que a pandemia teve (e muito) sua parcela de responsabilidade nesse tipo de dinâmica. Entretanto, por mais mudanças pelas quais o mundo tenha passado nesse período, pessoas continuam sendo pessoas – com sentimentos, vulnerabilidades e medos… muitos medos em relação à rejeição e inadequações. Todo mundo, em algum nível, quer se sentir aceito. Porém, até onde somos capazes de ir para que recebamos a aceitação desejada?

O receio de Maria é compreensível, até porque a maioria de nós mulheres foi ensinada desde muito cedo a associar felicidade e satisfação pessoal a ter uma parceria para a vida. Mas, e o custo emocional e físico disso tudo? Eu sei que podem existir vantagens em usar apps de relacionamento, eu mesma já usei e uso de vez em quando. Acho inclusive um ambiente interessante para desenvolver habilidades sociais e conhecer gente nova. Todavia, é necessário questionarmos o tempo que passamos tentando encontrar apenas na outra pessoa o nosso próprio amor.

Carência conduz a afetos imaginários e é capaz de afetar muito a sobriedade emocional necessária para que realmente percebamos o que está acontecendo ao nosso redor. Diante disso, entender as próprias necessidades faz-se absolutamente necessário, visto que podemos até mesmo confundir paixão com ansiedade. Isso porque tanto uma, quanto a outra, provocam efeitos semelhantes na fisiologia dos corpos e mentes, o que pode agravar esse desespero de sermos vistos e amados por alguém a qualquer custo.

Maria quer se sentir amada, e ela merece todo amor do mundo. Entretanto, querer que o outro dê a ela o amor que ela mesma não se dá, é querer ganhar na loteria sem preencher nem um jogo sequer, percebe?

Ela tem trabalhado melhor sua autoestima, percebendo que, apesar das dificuldades, existe apenas uma pessoa nesse mundo que sabe como ela verdadeiramente se sente e que estará com ela por tudo o que ela passar: ela mesma! Com sua luz e sombra.

Na vida real ou na virtual, somos o que queremos mostrar ao mundo. E o risco disso pode ser alto se não entendermos que o amor da nossa vida realmente deve ser cada um de nós mesmo. Simples, complicado e clichê.

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