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Lulu no Quadrado
Lulu no Quadrado

63 anos de Brasília e suas contradições: 7 locais que são a cara da cidade e de seus donos, que a chamam de “lar” e de “chata”

Alguns lugares foram marcantes na cidade, seja por tempo ou por pioneirismo, e ainda inspiram novos chefs e casas

Lulu Peters

21/04/2023 9h52

Foto: Reprodução/Instagram

Não basta ser apenas antigo. Alguns lugares foram marcantes na cidade, seja por tempo ou por pioneirismo, e ainda inspiram novos chefs e casas. O mercado mudou muito, e vários locais não acompanharam a evolução, dos edifícios ou do paladar. Mas alguns estão sempre no coração, seja pela nostalgia, seja por um prato ou petisco. Essa aqui é minha lista de locais antigos e novos que são a cara de BSB:

Dom Bosco – uma pizza e uma profecia

Aos puristas de plantão, peço que segurem a língua, pois pouquíssimos locais na cidade são tão marcantes e capazes de levar o brasiliense a comer em pé ou sentado no meio fio. A fatia “simples ou dupla”, que muitos debatem se é, de fato, uma pizza, ou um pão, pode irritar uns e outros, mas quem ama, ama de verdade. A unidade da 107 Sul é a minha preferida por vários motivos: fica na rua da Igrejinha, me deixa saudosa do querido Hely, da família proprietária, e ainda é a única que ainda carrega aquele pequeno e charmoso caos de produtos vendidos, entre chocolates hidrogenados, cigarros de palha, balinhas e isqueiros. Apesar dos questionamentos quanto à qualidade, a massa é realmente uma receita da família, e não há qualquer produto parecido na cidade. Eu genuinamente adoro a pizza da Dom Bosco, não só pela nostalgia, mas justamente pela fartura de queijo, molho e a base da massa que parece saída da chapa, com manteiga.

Dom Bosco
Inauguração: 1960
CLS 107 Bloco D loja 20 Asa Sul
Telefone: (61) 3443-7579
@pizzasdomboscobsb

Foto: Reprodução/Instagram

Ricco Burger  – chegou chegando e, para avançar, respeita o local e o passado

Não nego minha predileção pelo sanduíche do Ricco, por ser um dos pouquíssimos que verdadeiramente merece um selo ‘gourmet’, não por pompa, mas pelo nível dos insumos, como pães e molhos artesanais e carne da Beef Passion. Apesar de muito jovem – a casa foi inaugurada em 2017 – a liderança da brasiliense Renata Carvalho, a impressionante expansão da casa pela cidade, seu envolvimento com projetos que incentivam o turismo local e sua constância na oferta de produtos certamente me levam a ver o Ricco como a cara de Brasília. Para o aniversário da cidade, então, a casa tinha que entrar na lista, por homenagear um lugar tão antigo que só um brasiliense raiz se recorda: o Truc’s! O fast food brasiliense era verdadeiro ‘point’ de encontro dos jovens e seu X-mignon salada foi revisitado pelo Ricco Burger com pão fofinho, filé mignon, muçarela, maionese da casa, ovo, bacon, alface e tomate (R$42), em tamanho bem impressionante!

Ricco Burger
Inauguração: 2017
Lago Sul, SMDB Conj. 12 Comércio Local
Asa Norte, CLN 206
Asa Sul, CLS 306 
Águas Claras, R. Manacá, 01 – Loja 10 
Mané Mercado, SRPN, ST – Asa Norte
@riccoburger

Foto: Reprodução/Instagram

Don Romano – tudo artesanal quando aqui tudo era mato

Se engana quem acha que a onda de massas artesanais só chegou a Brasília com os jovens adultos hipsters! A Don Romano é uma cantina que existe desde 1988 e sempre priorizou preparos próprios. Foi o lugar onde provei Carbonara, pela primeira vez, e foi com um twist porque pedi com pene! Nossa, fiquei enlouquecida. Recentemente, na loja que fica no Lago Sul, já há uns anos, provei novamente as massas num festival de camarão e, nossa, como foi incrível sentir o gosto renovado do passado. As pizzas da casa também são pioneiras em Brasília!!! Para quem sente falta da Mister Pizza, saiba que a Don Romano foi das primeiríssimas casas a fazer pizza no forno à lenha e sabemos a diferença que isso faz. Porções fartas, preços justos e muita história paralela à da cidade. Tinha que entrar na lista, né?

Don Romano
Inauguração: 1988
SHIS QI 11 comércio Local, loja 62 Lago Sul
(61) 3248-0078
@donromanopizzaria

La Chaumière – o bar que virou restaurante, o pernambucano que virou francês e o garçom que virou proprietário

Nenhuma casa tem uma história tão próxima à de Brasília como o La Chaumière. O casal francês, que eu conheci como sendo Seu Noel e Dona Lúcia – mas, na verdade, eram Roger e Lucette Nöel – já tinha o Nosso Bar, que também fazia as vezes de restaurante, em 1958, quando recepcionaram, em 1961, seu novo funcionário, Severino Xavier, vindo de Pernambuco para trabalhar. Com o avanço da construção de Brasília e seu estabelecimento como Capital Federal, o público foi mudando, incluindo diplomatas, ministros e convidados oficiais do governo. Foi assim que, em 1966, o Nosso Bar se tornou La Chaumière (do francês, “cabana”), nome que carrega até hoje, mesmo depois que o casal vendeu o local ao Severino, que hoje, é chamado carinhosamente, por muitos, de Severin (com o devido sotaque afrancesado). A única exigência da senhora Lucette para a venda era que a casa não aumentasse e nem tivesse um cardápio longo demais. Promessa cumprida! Clássicos como o Filé Roquefort, com o molho à base do queijo azul, ou Filé Belle Marie, como molho de creme de leite e um toque especial de café (!) ou os dois mais populares da casa, o Steak au Poivre, e o Picadinho de filé mignon ao molho Gorgonzola, são garantias absolutas a cada execução e apresentação. Qualquer um dos pratos parece combinar a batata sauté da casa, que tem algo de muito secreto apesar da sua simplicidade, já que tem gente que vai basicamente para comê-la, independentemente da carne. Sem brincadeira, o La Chaumière é uma pérola local.

La Chaumière
Inauguração: 1966 (com este nome)
CLS 408 Bloco A Loja 13 – Asa Sul
Telefone: (61) 3244-3875 | (61) 981050325

El Paso – quase 30 anos de Peru, Guatemala, México, Texas e Brasília

Em uma cidade tão jovem, às vezes não nascemos brasilienses, mas nos tornamos. E pouco interessa se nossas origens e moradias são compostas por várias histórias, cidades ou nacionalidades. A verdade é que nosso lar é onde está nosso coração. Por isso, David Lechtig firmou suas raízes de maneira ainda mais profunda, quando inaugurou, em 1995, o primeiro restaurante Tex Mex da cidade. Mais do que o estilo de comida, a conjunção do ambiente super decorado, da comida bem feita, das bebidas à base de pisco e tequila, fizeram do El Paso um cantinho apreciado, todos esses anos, por centenas, senão, milhares de brasilienses. Um “poquito” de salsa (música), um “poquito” de salsa (roja, que é molho), um ceviche peruano aqui, tacos de camarão acolá, os melhores – sim, melhores – sour cream e guacamole da vida, uma margarita clássica e outra frozen, um visual de alegrar os olhos e a alma, uma pimenta para arder o coração e, de repente, o El Paso é o sopro de carinho e vida, que Brasília sempre precisou.

Conheça um pouco mais dessa relação da cidade com El Paso, através da rápida entrevista que fiz com David Lechtig:

Foto: Telmo Ximenes/Divulgação

Onde você nasceu?

Nasci em Ica, Peru, terra onde verdadeiramente nasceu o Pisco! Depois, com dois anos de idade, fomos morar na Guatemala, onde me criei e me acostumei às tortillas e à pimenta. Porém, em casa, sempre tivemos a tradição de comer comida peruana. Foi com minha mãe que aprendi a prepará-lá.

Há quanto tempo está em Brasília?

39 anos

Que características te fazem sentir mais brasiliense?

Eu sou candango! Um novo candango, (já que) eu criei raízes aqui e ajudo a cidade a continuar crescendo com meus restaurantes! Amo andar no Eixão! Usar as tesourinhas! Toda vez que eu viajo, quando volto do aeroporto e vejo o Eixão rodoviário se abrindo pra mim, me emociono…

O que você menos gosta na cidade?

Eu adorava como os canteiros eram cuidados com flores. Hoje eles estão largados e sem cor. Tem me irritado muito como mudou o trânsito, antes todos obedeciam as vias, não buzinavam e tinha um clima ameno no trânsito, cediam passagem e até agradeciam.

O que você mais gosta na cidade?

O céu! A lua! Sou apaixonado pelo relevo de Brasília!

Como acha que é a relação do brasiliense com a comida que você faz?

Já foi complicada. Fomos pioneiros na comida Tex-Mex e mexicana. Depois, o Ceviche, e todos levavam pimenta! O brasiliense levou tempo para aceitar e eu também tive que adaptar a comida. Hoje, é só amor! A alegria que tenho ao ver meus clientes dizerem que aprenderam a comer comida latina no El Paso, é indescritível.

Se pudesse definir Brasília em uma palavra, qual seria?

Lar

Careca – de “primo pobre” a point universitário

Em 2022, o restaurante chinês, Careca, completou 40 anos na cidade! Com um dos mais amados rolinhos primavera e, meu favorito, lombo suíno empanado com molho agridoce de alho e gengibre, o Careca é presente na minha vida até hoje. Enquanto um outro grande restaurante chinês da cidade colhia aplausos a preços mais salgados, o Careca e sua aparente modéstia e falta de pompa cativaram, principalmente na loja da 407 norte, a freguesia universitária, da UnB, que passou a ‘bater ponto’ no local. Apesar do preço módico, a casa não decepciona na execução dos pratos, que são os mesmos há anos. Do clássico arroz colorido ao frango xadrez, ao macarrão frito ou às sopas, o Careca tem clientela cativa desde sempre, me parece. Sorte a nossa, porque um pouco de fritura e agridoce é necessário para alegrar a vida.

Careca
Inauguração: 1982
CLN 407 Bl. B Lj. 1 – Asa Norte
Telefone: (61) 3274-3291

CLN 310 BL D Loja 61 – Asa Norte
Telefone: (61) 3347-3910

QRSW 1 lote 1 loja 08 – Sudoeste
Telefone: (61) 3877-0637

SRTVN – Ed., Rádio Center, térreo, Asa Norte (self service)
Telefone: (61) 3963-9417

Shopping Metrópole – Av.Das Araucárias Sul – Águas Claras
Telefone: (61) 3053-6551

Pinella – liderança feminina, comidinhas especiais e muita música

Sim, existem bares mais antigos, muito amados. Mas um bar que chegou com duas mulheres na porta, comidas de boteco repaginadas e melhoradas, cerveja gelada, vinho e drink e, ainda, oferecendo espaço a músicos brasilienses, isso foi só o Pinella. Com um pouco mais de duas décadas de vida, o Pinella é referência imediata para defesa da boemia da cidade, sustentabilidade e lixo zero, além da famosa paquera paquera justo no Dia dos Namorados. Flávia Attuch segue no comando da casa, que tem na cozinha a Chef Myriam Carvalho, que transforma petiscos de boteco em verdadeiras viagens gastronômicas. Um lugar onde os garçons são próximos da gestão e, por isso, se dedicam até o último esforço, nos dias mais conturbados e lotados.

Brasiliense nascida e criada, Flávia Attuch fala sobre a cidade de maneira bem sincera:

Foto: acervo pessoal

Onde você nasceu?

Nasci em Brasília, chegando nos 45 anos.

Há quanto tempo está em Brasília?

Moro aqui quase a vida inteira, morei fora por 5 anos, de 97 a 2003.

Que características te fazem sentir mais brasiliense?

Eu sou brasiliense raiz, acho a Asa Sul longe e, ao mesmo tempo, acredito que qualquer distância ainda pode ser percorrida em, no máximo, dez minutos. Brinco que qualquer coisa “pra lá do Buraco do Tatu” é outra cidade.

O que você menos gosta na cidade?

O que eu menos gosto em Brasília é a falta de mobilidade urbana e de transporte intermodais e principalmente a carência de opções noturnas/madrugada dos transportes coletivos, o que causa isolamento das (cidades) satélites, dificultando imensamente a cidade se manter viva no período noturno, seja pela dificuldade de locomoção dos trabalhadores ou dos potenciais usuários dos serviços que poderiam existir.

O que você mais gosta na cidade?

O que eu mais gosto em Brasília é o fato dela ter sido uma cidade projetada, ampla, arborizada, cidade jardim, As famosas escalas e como a cidade é toda organizada. Acho Brasília linda e gostosa de morar. 

Como acha que é a relação do brasiliense com a comida que você faz?

No Pinella sempre buscamos oferecer petiscos diferentes do “padrãozão” de boteco. A gente gosta de dar um incrementada no ordinário, do frango a passarinho aos sanduíches. Nossos pratos são sempre bem aceitos. Claro que, ao longo desses quase 12 anos de Pinella, já erramos um bocado, mas vejo que as pessoas valorizam esse “raio gourmetizador” que jogamos nos pratos.

Se pudesse definir Brasília em uma palavra, qual seria?

Chata. Brasília é careta. É cada vez mais difícil produzir cultura por aqui. E olha que temos artistas fantásticos em todas as áreas. Fico triste de ver que perdemos tanta gente pra Rio e São Paulo por falta de espaços.

Pinella
Inauguração: 2011
CLN 408 BL B Loja 20 – Asa Norte
Telefone/whatsapp: 61 3347-8334

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