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Histórias da Bola
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Tabu na Serra

O grande acontecimento do mês de fevereiro de 1979 no futebol candango era a reabertura do Bezerrão

Gustavo Mariani

19/09/2021 7h00

Atualizada 20/09/2021 8h36

O grande acontecimento do mês de fevereiro de 1979 no futebol candango era a reabertura do Bezerrão. Então, marcou-se, para o domingo 25, o amistoso Gama x Anápolis, revanche dos 2 x 0 mandados pelos goianos, recentemente, em sua casa, com gols de Irã e de Ferreira.

Festa programada, antes mesmo de acabar o apronto do “Periquitão”, na tarde do sábado, no campo do Departamento de Viação e Obras, o técnico Bugue já estava com a escalação definida – Rodolfo Nogueira; Carlão, Quidão, Décio ‘Chevrolet’ e Edvaldo; Manoel Silva, Santana e Manoel Ferreira; Roldão, Cláudio e Alves. Beleza!

Para o presidente Osvando Lima, no entanto, o mais importante não seria a festa de reabertura do estádio, mas contar, na tribuna de honra do Bezerrão, com o presidente da Federação Goiana de Futebol, Gilberto Alves, vice-presidente da então Confederação Brasileira de Desportos-CBD, para o Centro-Oeste. Achava o cartola que, se o Gama tivesse uma grande atuação e a sua torcida mostrasse muita vibração (além de lotar o estádio, e claro!), seria grande passo para o time alviverde ser incluído no Campeonato Nacional. E, para aumentar ainda mais as chances, já deixara marcado um novo amistoso (três dias depois), com o Goiás, convidando Gilberto Alves, novamente, para não ter dúvida da força da galera gamense e aumentar o seu poder de pressão sobre o almirante Heleno Nunes, o presidente da CBD e irmão do vice-presidente da república, Adalberto de Barros Nunes.

Osvando fez a sua parte. Só esqueceu-se de que os candangos não votavam. Por aquele tempo, onde a ARENA-Aliança Renovadora Nacional (partido do governo) ia mal, o almirante colocava um time no Nacional. Pois bem! Depois de muita batalha, a CBD concordou em promover um torneio seletivo para se ter um time do DF no Brasileiro. O que rolou? O técnico Ayrton Nogueira, do Guará, adversário da final e time bem mais fraco, deu um nó tático no Gama, que “conseguiu” perder a vaga sofrendo um gol, nos últimos minutos, marcado por Piau, o pior jogador que já havia passado por esta terra. O cara era tão ruim que, para não irritar a torcida do Lobo da Colina e por não ter nem reservas suficientes para armar um time, Ayrton o escalou com o nome de Sousa.

Tempinho depois, como seria de se esperar, a galera passou a acompanhar menos o time do técnico Joaquim Cristiano Neto, o paracatuense Bugue. Rolava o Campeonato Brasiliense e, na rodada do dia 29 de abril, Osvando Lima se tocou que o Gama jamais havia perdido do Sobradinho, o adversário da hora. Como o pega seria no Estádio Augustinho Lima, na cidade serrana, pegou um alto-falante e saiu (pela cidade do Gama) tentando motivar os torcedores a ajudar a equipe a manter “o principal tabu do futebol candango”, segundo ele. Na verdade, não era, pois o Gama jamais vencera o Brasília, desde 1976 , e seus confrontos com o “Leão da Serra” começaram depois disso.

Era tática do Gama não esconder escalação, “para mostrar que não tinha medo de ninguém”, segundo seu presidente. Então, o time foi anunciado com: Jaidan; Carlão, Décio, Quidão e Newton; Santana, Péricles e Niltinho; Roldão, Manoel Ferreira e Careca.

Enquanto Osvando dava entrevistas dizendo que a TCB-Transporte Coletivo Brasiliense colocaria ônibus para levar e trazer a torcida alviverde, pelo programa esportivo noturno da Rádio Planalto, o repórter Chico Legal comentou: “O Gama está convidando a sua torcida a ver a quebra de um tabu. O estreante Newton, que era lateral-direito do Brasília, jogará pela lateral-esquerda; o meia-armador Manoel Ferreira, sempre camisa 8, sem nenhum cacoete de centroavante, jogará como centroavante, enquanto o centroavante Niltinho, sempre camisa 9, envergará a 8, como meia de ligação. Mais? Quidão, escalado como zagueiro central, avisou que não comparecerá a campo, porque não aceitou a proposta gamense para renovar o seu contrato. Tá feia a coisa. O Gama está inventando demais!”

Diante do esculacho do Chico, nenhum torcedor pintou pelo estacionamento do Bezerrão para subir a serra. A TCB recolheu o ônibus e Osvando, que iria junto com a torcida no “busão”, ficou esperando que os cartolas Marcinho Rodrigues, Zé Cruzeiro ou Márcio Tanus de Almeida passassem pelo estádio, para prestigiarem a torcida – nenhum passou. E Osvando voltou pra casa, dormiu e acordou sem saber se o que havia acontecido com o tabu.

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