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Histórias da Bola
Histórias da Bola

Tabelinha Elis Regina & Pelé

Elis e Pelé já lançaram trabalho musical juntos. No entanto, a cantora foi resistente no começo. “Porra, Pelé! Eu nunca quis ser jogador do Santos, e você quer ser cantor?”

Willian Matos

27/08/2019 11h27

Há sujeitos que são musicais, mas não são músicos – por preguiça de estudar música. Aprendem a tocar algum instrumento e, de repente, fazem sambinhas, marchinhas carnavalescas, frevos, o diabo.

Pelos inícios da década-1960, por exemplo, Antônio Maria compôs “Ninguém me ama”, sucessaço indiscutível, absoluto. Ele era só um sujeito musical, assim classificado por Ary Barroso, autor de “Aquarela do Brasil” e rigoroso até com ele mesmo, ao ponto de considerar-se um “pianeiro” e nunca um pianista.

Um outro grande exemplo de sujeito musical vem do violonista Candinho, marido de Sylvinha Telles, uma das primeiras divas da Bossa Nova. Tocava demais. Para muitos, até mais do que Luís Bonfá, um “Deus do Pinho”. Por não ler partituras musicais, Cadinho não foi incluído, por Vinícius de Morais, entre as feras que tocariam em sua peça “Orfeu da Conceição”, em 1956, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo por enredo um mito grego transportado para uma favela carioca.     

De outra parte, o compositor belga (naturalizado francês) César Frank era músico, mas não era musical. As suas composições não empolgavam. Inclusive, seu o poema sinfônico Les Béatitudes foi recebida com tanta frieza pelos críticos que só teve uma execução pública enquanto ele viveu. César-Auguste-Jean-Guillaume-Hubert Franck, nascido em Liège (10.12.1822 a 08.11.1890) teve mais reconhecimento como organista improvisador.

Adentremos, agora, aos gramados por onde rolam as “maricotas”. Por ali, em 1957, o futebol brasileiro revelou o “Deus do Estádio”, um mineirinho registrado, em Três Corações, por Edson Arantes do Nascimento e que foi apelidado por Pelé.  

Além de desempregar goleiros e mandar mais de mil bolas às redes, ele revelou-se, também, um sujeito musical. Aprendeu a tocar os tons básicos do violão e passou a compor letras muito simples, pois não tinha muito tempo para estudos em seus tempos de atleta.

Um dia, Pelé decidiu ser, também, cantor. Era fanzaço de Roberto Carlos e emocionou-se, como a mais fanáticas das tietes, quando foi apresentado ao cara. No entanto, para deixara registrado os seus timbres vocais para a posteridade musical “brasuca”, Pelé escolheu a  gaúcha Elis Regina, considerada, então a  maior cantora do país.

Por aquela época, Elis era casada com o multimídia Ronaldo Bôscoli. Em 1969, com a Seleção Brasileira treinando para as Eliminatórias da Copa do Mundo no Retiro dos Padres, no Rio de Janeiro, Pelé visitava muito Ronaldo e Elis, que residiam perto, na Avenida Niemeyer. E passou a marcar a cantora para irem a um estúdio.

De início, tremenda bola fora. Elis não topava e sacaneava: “Porra, Pelé! Eu nunca quis ser jogador do Santos, e você quer concorrer comigo, ser cantor?”.

 Elis desconversava, achava que ia driblando o “Rei do Futebol”. Só não constava que o cara pintasse em seu camarim durante show no carioca Teatro da Praia, jogando pesado. Para se livrar da marcação, Elis terminou concordando gravar um compacto – foi titulado por Tabelinha e teve “Perdão não tem vez”“ e “Vexamão”, ambas do craque – gavações que não acrescentariam nada à carreira dele. 

A gravação foi marcada para uma noite após Pelé ter jogado à tarde. Elis contava com a possibilidade de o “Rei” sair de campo muito cansado e desistir do lance noturno.

 Era a tarde do 31 de agosto de 1969 e 183.341 pagantes foram ao Maracanã assistir Brasil x Paraguai, valendo vaga na Copa do Mundo. Na torcida, pela TV, em casa,  Elis Regina viu Félix, Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel Camargo, Rildo, Wilson, Gérson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu Américo, escalados pelo treinador João Saldanha, saudarem a plateia. E sentou-se para acompanhar o jogo, cujas regras aprendera com “consultor  esportivo” Pelé.

 O jogo foi duro e só os 13 minutos do segundo tempo Elis pulou pra fora da cadeira, para vibrar com o gol de Pelé e que definiu o placar: Brasil 1 x 0. 

Jogo terminado, Elis imaginou ter-se livrado da gravação marcada para aquela noite, pois Pelé havia lutado muito e gritado mais ainda com os companheiros – a TV mostrara bem isso. Mas, de tão empolgada que ficara com a vitória canarinha, e o empenho e o gol de Pelé, ela mudou de opinião e passou a dizer que seria uma glória gravar à noite com o “Rei”.

 Elis foi para o Teatro da Praia, com os seus músicos, testar o som. Pelé chegou rouco. Não queria furar o combinado. Aí foi Elis quem quis fazer a gravação, por achar que seria charmoso, diferente o cantor Pelé afônico. Gravariam naquela noite, ou ficaria difícil em outra oportunidade, pois não haveria vaga para tão cedo na agenda dos dois.

 O disco saiu e Pelé,  em um mesmo dia, mostru-se bom de bola e rum de música, também. Foi eleito, pelos colegas da Seleção Brasileira, o  “pior cantor do mundo”.

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