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Histórias da Bola
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Seleção fairplay

A Seleção Brasileira estava em Macolin, à espera do início da Copa do Mundo-1954, na Suíça

Gustavo Mariani

22/06/2020 13h26

Atualizada 11/11/2020 16h24

Antes de um treino contra uma equipe da terra , Luís Vinhais, membro da Comissão Técnica,  aproximou-se de Brandãozinho (jogador da paulista Portuguesa de Desportos), exibiu-lhe um buquê de flores e disse-lhe:

 – Entregue aos suíços, falando em francês. 

– Em francês, chefe, só sei falar ui  (oui, sim).

– Repita comigo: jôfrê céte corbéie

– Bradãozinho ouviu, não entendeu nada e pediu arrego:

– Não, doutor Vinhais, pelo amor de Deus, me livre dessa.

Vinhais não desistiu de convencer o atleta a dar uma de embaixador da simpatia e ponderou:

– Mas falar isso é tão fácil, rapaz!

Brandão seguia irresoluto, na retranca:

– Não, doutor. É melhor o senhor mesmo falar, não tenho jeito.

Vinhais contra-atacou:

– Eu falar não terá a força que pretendemos para o gesto de mesura com os nossos anfitriões. Preciso que seja um jogador.

Brandãozinho, que não sabia o que seria mesura e nem anfitriões, rebateu:

– Pra falar com os gringos, doutor Vinhais, veio gente da embaixada brasileira. Pra descascar o francês.

Vinhais via que o jogo estava duro. Não parecia que ele teria sucesso no lance. Então, entregou os pontos, quando Brandãozinho saiu com esta:

– Se a gente começar a aprender o francês daqui, vamos terminar esquecendo o futebol de lá. Como o Bangu.

Brandãozinho queria se referir ao fato de os jogadores banguenses terem passado perto de um mês excursiOnando ao México, entre 21 de junho e 12 de julho de 1953. A rapaziada, comandada pelo treinador Délio Neves, voltou tirando a maior onda, falando espanhol, pra aparecer. Mas, em campo, estreou no Campeonato Carioca empatando, com o fraco Canto do Rio, e desandou a ter placares negativos, inclusive 0 x 6 Botafogo, que derrubaram o Neves.

A história do Brandãozinho & Vinhais que você leu foi contada pelo repórter David Nasser à página 95 da magazine carioca O Cruzeiro, pela edição de 26 de junho de 1954. Nasser, o principal nome da reportagem daquela semanária carioca, chefiava a equipe da cobertura do Mundial, tendo por colegas …..

 Nasser contou, pelo mesmo texto, que a decisão da comissão técnica de fazer os jogadores simpáticos aos suíços chegou ao ponto de haver um lance inimaginável durante o treino com os donos da casa: o xerifão Ely do Amparo (do Vasco da Gama), que batia do pescoço para cima, numa disputa de bola, ao pressentir que se entrasse como era do seu feitio, quebraria o suíço. Então, aliviou e deixou o cara chutar. Embasbacado, o goleiro Veludo (do Fluminense) gritou:

– Ely, não acredito. O que há com você?

De acordo com David Nasser, ouvindo aquilo, o lateral-direito Paulinho de Almeida, colega de Ely no Vasco da Gama, sacaneou:

– Acha que ele é mané? Os suíços vão nos presentear com relógios Roskoff. Se ele quebra o cara, ficava semhora!

Boa política, a do zagueiro vascaíno.  Depois do lance, o atleta suíço foi agradecê-lo, por não ter quebrado até a sua alma. Nasser tocou no tema, com o xerifão, e este e bateu forte:

– Quando o suíço veio me agradecer, falando em alemão, eu lhe disse, em português: vá jogar pelo Flamengo, cara, pra você ver como eu pego, mato, esfolo.          

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