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Histórias da Bola
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Reivindicantes 4-2-4

Procura-se pai para sistema tático revolucionário

Gustavo Mariani

26/07/2021 7h25

Atualizada 29/07/2021 13h02

A imprensa brasileira de antigamente costumava pregar que o treinador mineiro Martim Francisco fora o inventor do esquema tático 4-2-2, dirigindo o time do Villa Nova, de Nova Lima-MG, em 1951. No entanto, há outros brasileiros que se dizem pais da criança, bem como os húngaros.

Em seu livro autobiográfico – Puskas, uma lenda do futebol -, lançado no Brasil, em 1998, o antigo craque afirma ter o 4-2-4 já ter sido usado na Hungria bem antes da Copa do Mundo de 1954, quando a sua seleção encantou o planeta e só não foi a campeã por ter um legítimo gol seu anulado, durante a final contra os (então) alemães ocidentais que eles já haviam goleado, por 8 x 3, na fase inicial.

Hoje, não se usa mais o 4-2-4, mas velhos torcedores não conseguem entender fórmulas como a 3-2-5-1, por exemplo. Com o sistema que teria sido criado por Martim Francisco que, inclusive, concedeu entrevista à revista carioca, declarando-se autor do plano (colaboração à Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF) que levou o escrete canarinho ao título na Suécia-1958 – o Brasil ganhou, também, pelo esquema tático 4-2-4, a Copa do Mundo-1962, no Chile.

Da primeira dessas duas conquistas, o treinador era o gordo paulistano Vicente Ítalo Feola (01.11.1909 a 06.11.1975), filho de imigrantes italianos, vindos de Castellabate, perto de Nápoles. Jogar bola, ele jogou, pelos paulistas São Paulo, Auto Sport Club e Americano, mas fazendo a torcida passar riva. Até que se mancou e decidiu ser treinador, dos também paulistas Syrio e Libanez e Portuguesa Santista. Em 1937, o São Paulo FC o empregou, por 38 temporadas, como treinador, supervisor e administrador. Sendo técnico, levou o time tricolor paulista aos títulos estaduais de 1948/49, contando com as feras Leônidas da Silva, Bauer, Ruy, Noronha, Friaça e o zagueiro Mauro Ramos, futuro capitão da Seleção Brasileira-1962.

Feola fez dois passeiozinhos por fora São Paulo, para dirigir o XV de Novembro, de Piracicaba-SP (década-1950), e o argentino Boca Juniors (1961), com grupo repleto de brasileiros – Orlando Peçanha ex-Vasco), Paulinho Valentim (ex-Botafogo), Almir Albuquerque (ex-Vasco), Maurinho (ex-São Paulo) e Edson dos Santos ex-América-RJ). Antes desta sua fase portenha, vencera as concorrências de Flávio Costa e do paraguaio Fleitas Soliche para ser o treinador do selecionado brasileiro da Copa da Suécia-1958.

É por aí que entra um outro componente na história do 4-2-4 que dera o título do Mundial aos brasileiros. Em 1957, o treinador que levou o São Paulo ao título paulista era o húngaro Bella Guttman (13.03.1909 a 29.08,1981), contando com o Mestre Ziza (Zizinho) na equipe. Entre 1947/48, comandando o extraordinário Honved (antes, Kispest) ele criou a esquematização tática seguida e desenvolvida por Janos Kalmar e Gusztav Sébes, que fez nascer a maravilhosa seleção húngara que encantou o mundo durante a Copa de 1954, na Suíça.

Guttman estava no Brasil desde aquele mesmo 1954, fugido dos então soviéticos que invadiram a Hungria, acusada de desobedecer ao Pacto de Varsóvia, bloco político do qual fazia parte, liderado por Moscou. Vivendo o clube tricolor paulista, Feola bebeu do melhor vinho servido por Guttman a Poy (goleiro argentino); Mauro Ramos (citado acima); De Sordi e Dino Sani (campeões mundiais-1958); Zizinho (mior craque brasileiro pré-Pelé e o melhor da Copa do Mundo-1950); Canhoteiro (o Garrincha da ponta-esquerda) e Gino, artilheiro que defendera a Seleção Brasileira-1956/57 e o segundo maior goleador são-paulino (1952 a 1962), com 233 tentos, nove a menos do que Serginho Chulapa), entre outras feras.

Feola chegou à Seleção Brasileira belaguttmaniado. Ou teria esquecido tudo o que vira o seu mestre húngaro fazer no São Paulo?

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