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Histórias da Bola
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O último amigo do Mané

Arquivo Geral

10/01/2018 19h32

Garrincha estava mal, financeiramente, e, também, de saúde. Sua cabeça já não atinava como nos tempos em que fazia gato e sapato dos marcadores. A “marvada” pinga jogava-lhe a escanteio. Por aquele seu fim de linha, um amigo jamais o abandonou: Manelzinho, o paraibano Manoel Esperidião Pereira, boleiro nascido em Canaúba (05.09.1938).

Manelzinho era atacante dio América-RJ e amigo do Mané dentro e fora dos gramados. Foram apresentados pelo zagueiro Ivan, que defendeu América e Botafogo e os apresentou, em Raiz da Serra, reduto do “Demônio das Pernas Tortas”, como a imprensa chamava o antigo supercraque.

Era 1960 quando a amizade começou. Pelas metades da década-1980, Garrincha manifestou a Manelzinho – então presidente da AGAP/DF-Associação de Garantia ao Atleta Profissional –, o desejo de treinar uma equipe candanga. Como o Mané dava mostras que que não teria condições para aquilo, o velho amigo sugeriu-lhe fazer um jogo em seu benefício, em Brasília, para arrumar-lhe uma graninha. Ele topou, mesmo tendo passado uns dias internado em um hospital, por conta de velhos problemas com o álcool. E veio.

Manelzinho marcou um jogo amistoso entre a Seleção da AGAPE/DF e o Londrina, time amador, de Planaltina, no Estádio Adonir Guimarães, no 25 de dezembro de 1984. Hospedou-se com o amigo em um hotel de “Planá” e ficou preocupadíssimo quando Garrincaha disse-lhe que a cozinheira lhe dava a maior bola. Temeu que o Mané tivesse bebido às escodidas. E o advertiu para aposentar o copo. Garrincha respondeu-lhe: ”Fique na sua, que eu fico na minha. Não sou criança” – mas era.

Garrincha era mais do que uma criança. Já não dominava mais o momento. A cozinheira que ele via lhe paquerando era uma velha de 63 de idade.

Para trazer Garrincha ao DF, onde este passou três dias, Manelzinho contou com o patrocínio de Antônio Teodoro Ribeiro, goiano nascido em Formosa-GO (11.01.1958) e fundador do Londrina (juntamente com Hélio Crescêncio da Silva, Sebasstião Mafra e Mguel Aguiar, pelos inícios de 1976). O homem gastou Cr$ 350 mil cruzeiros com a promoção, dos quais Cr$ 200 mil foram para ajudar o Mané.

Garrincha jogou a sua última bola por um clbue do qual jamais ouvira falar, mas que gabava-se de ter conquistado sete títulos do futebol amador de Planaltina e colecionado 32 trofeus. Uma vitória sobre os profissionais Sobradinho Esporte Clube e empates com o Brasília EC e o Gama eram as suas grandes glórias, então superadas quando a sua camisa 7 fora vestida pelo maior ponta-direita da história do futebol.

Para fazer a bola rolar em benefício de Garrincha, o amigo Manelzinho formou a seleção da AGAP/DF tendo por atração o goleiro Paulo Victor, do Fluminense, que ainda faz questão de dizer: “Defendi os últimos chutes do Mané Garrincha”.

Colaboraram, também, Déo (ex-goleiro do Ceub) e Rodolfo Nogueira (goleiro que passara pelo Flamengo); Éder Antunes (artilheiro do Guará e autor do único gol da partida, aos 65 minutos); Marcelo Branco (lateral do Gama e último “João”. Combinou com Garrincha facilitar a marcação, para o ídolo levantar a galera); Cassinho (ex-Ceub); Luiz Fernando (zagueirão do Guará); Robson Nonato; Antônio Vieira Lima, membro do primeiro time do Gama, em 1976); Toninho Nicolau, Jorge França e Decleudes, o Padeirinho, jogador do Brasília.

Pelo Londrina, aturam: Luís Ribeiro, os irmãos Joel e Israel Pau-Ferro, Vicente Cândido, Antônio Esteves, Zé Amauri, Tião Mafra, Paulo Lira, Tião Jorge, o capitão, Joel Apolinário, Zé Jorge Pires, Geraldo Martins de Oliveria, Cirilo César Filho, Garrincha e Valdmar Pereira da Silva, que subitituu o Mané, aos aos 15 mintuos do segundo tempo.

O juiz foi Eano Carmo Correia, velho conhecido de Mané Garrincha e que apitara muitas peladas em Raiz da Serra. Por sinal, Eano contou uma história interessante:

– Certa vez, um daqueles peladeiros mais exaltados achou que eu estava roubando o time dele. Partiu pra cima de mim, arrancou-me o apito e saiu tirando a maior onda. Imediatamente, Garrincha foi até ele, pediu-lhe o apito e me devolveu. O cara o obedeceu, murchinho.

A matéria com mais detalhe sobre o úiltimo jogo de Garrincha eu publiquei no “Jornal de Brasilia” de 14 de janeiro de 1985. Venceu os prêmios anuais da Associação Brasiliense de Cronistas Esportivos-ABCD e da Associação Brasileira de Cronistas Esportivos-ABRACE. Creio que o “JBr” já a disponibilizou pela Internet. Quem procurá-la e achar poderá a ver as fotos dos envolvidos nesse jogo mais do que histórico do futebol candango.

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