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Histórias da Bola
Histórias da Bola

O surpreendente Brasília

Campeão Candango-1977 engoliu o olho do Furacão

Gustavo Mariani

30/03/2023 15h54

O Brasília Esporte Clube surgiu, pelos início de junho de 1975, pensando em ocupar o lugar que o Ceub usava, desde 1973, no Campeonato Nacional. Criado e dirigido por empresários da Associação Comercial do Distrito Federal, na bola, seu time jamais conseguiu dobrar os ceubenses, que abandonaram o futebol durante crise que quase matou o futebol candango, em 1976. Com bem mais dinheiro do que os que restaram – Canarinho, Cruzeiro (antes Flamengo), Gama, Grêmio Brasiliense, Humaitá (depois Guará EC) e Taguatinga – ganhou os campeonatos de 1976 e de 1977, com grande facilidade. Mais do que uma obrigação.

Em 1977, o Brasília repetiu o feito regional e ganhou uma vaga no Brasileirão. Até então, o clube só havia disputado amistosos contra clube das proximidades e nunca saído da capital brasileira. O máximo que havia feito fora encarar o Flamengo, amistosamente, no velho e demolido estádio Mané Garrincha, que ainda chamava-se Governador Hélio Prates da Silveira, em homenagem a um coronel gaúcho nomeado pelos generais-presidentes que mandavam no país para governar o DF.

Por aquele tempo, onde a ARENA-Aliança Renovadora Nacional, o partido do Governo, escorregasse no tomate, a Confederação Brasileira de Desportos-CBD colocava-se um time do lugar no Nacional. Assim foi que, em 1976, Brasília, que, ainda, não tinha representação política, perdeu, para Campinas-SP, a vaga que vinha sendo do Ceub, pois, no território campineiro, o MDB-Movimento Democrático Brasileiro dava as cartas.

Vaga prometida, o Brasília pareceu não acreditar muito no presente. Tanto que não foi às compras e se apresentou para o Brasileirão com os mesmos rapazes das anteriores jornadas candangas nos demolidos Pelezão e Silveirão. Alienígena só Geraldo Galvão, veterano ex-Cruzeiro, que estava pelo DF há algum tempo.

Divulgada a tabela, pela CBD, da primeira grande disputa do Brasília, a sua estreia seria fora de casa, em Curitiba, diante do Atlético Paranaense, um dos “grandes” de sua terra. Para imprensa e torcedores candangos, aquele time caseiro da capital brasileira deveria ser “ponto certo” para o “Furacão” (apelido do Atlético-PR). Se o jogo estivesse incluído no Teste 359 a Loteria Esportiva, o daquele final de semana, a Coluna 2, com certeza, não teria nenhuma aposta na “zebra”.

O Brasília entrou no gramado do Estádio Couto Pereira alvirrubro nas camisas e nos meiões, enquanto o Atlético-PR preferia o branco nas jaquetas e meias, com escudo no centro do peito por onde passavam listas horizontais rubro-negras. Pouco depois de o paulista Edmundo Abssanra apitar maricota rolando, o treinador do time anfitrião, Lauro Burigo, viu que os visitantes não seriam, como se esperava – ponto certo, coisa nenhuma. Ele os via rápidos, tocando bem na bola e não respeitando a sua patota. Pra complicar mais: aos 33 minutos, com o Brasília dominando a contenda, o meia-atacante Ernani Banana acertou um tirambaço, de fora da área, à esquerda do goleiro atleticano: 1 x 0 e placar do primeiro tempo.

Veio a segunda etapa e a torcida rubro-negra curitibana ficou com a impressão de já ter assistido aquele filme antes. Nem acreditou de ver a sua moçada se segurando para não levar mais gols. Mas não adiantu. Ao 10 minutos, o centroavante Jorgeney Nery, o Ney, driblou dois zagueiros atleticanos e mandou a pelota para o canto direito do goleiro da casa. Matou o “Furacão”, que se fechou todo temendo goleada. Só conseguiu um golzinho, a 15 minutos do final da partida (por Katinha), muito mais por conta de erro tático do treinador AyrtonNgueira, que trocou o meia Moreirinha (que dominava o meio-de-campo, com Uel e Ernâni Banana), pelo zagueiro Emerson Braga – ainda era cedo para segurar placar.

O Brasília surpreendeu por causa de: Déo; Edvaldo (Fernandinho), Jonas Foca, Luís Carlos Calica e Geraldo Galvão; Uel, Moreirinha (Emerson Braga) e Ernâni Banana; Julinho Rodrigues, Ney e Bira. O Atlético-PR alinhou: Altevir; Cláudio Radar, Gilberto, Alfredo e Cláudio Marques; Flávio, César (Parazinho) e Bira Lopes; Tadeu (Katinha), Ademir e Cabral. Como a Brasília da época só respirava os ares do regime militar dos generais-presidente, o surpreendente Brasília desembarcou à noite do dia seguinte, no Aeroporto JK, sem que ninguém lhe desse atenção, ou soubesse quem eram aqueles caras com caras tão sorridentes. Da imprensa, só estava presente o Jornal de Brasília.

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