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Histórias da Bola
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O ROUBO DA “MADIMOZÉU”

Arquivo Geral

22/02/2019 9h52

A Seleção Brasileira disputou sete Copas do Mundo – 1930/34/50/54/58/62 – para carregar a Taça Jules Rimet e guarda-la durante oito temporadas. Depois, mais duas – 1966/70 – para ficar com ela, por toda a vida. E se não fosse a “perna-de-paulice” da Confederação Brasileira de Futebol-CBF, poderia ter ficado.

A entidade guardava a réplica do troféu em um cofre e deixava a original às vistas de quem chegasse do lado do gabinete da presidência, no nono andar do seu prédio.Linda, loira e, delirantemente, desejada por muitos e garbosos rapazes que brigaram por ela, a estatueta, de 3,25 kg, dos quais 1,8kg em ouro,  foi raptada, facilmente. Quem armou o lance foi um bancário que trabalhava na Rua da Alfândega, perto da sede da CBF, e entrava e saía, frequentemente, na casa, dizendo-se representante do Atlético-MG.

Chamava-se Sérgio Pereira Ayres, o “Peralta”, o mentor intelectual do rapto. Ele abria a oficina do diabo em seus momentos de folga, na Rua Nabuco de Freitas, no bairro carioca de Santo Cristo, onde morava.

Era o 19 de dezembro de 1983, quando o “Peralta” ficou do lado de fora do prédio da CBF – então presidida por Giulite Coutinho –, após orientar os comparsas – José Luís Vieira da Silva (decorador) e Francisco José Rivera (ex-policial) – sobre como passar a mão na “mademoiselle”.

De acordo com o flanelinha Luiz Carlos Machado – depois, tornou-se empregado da CBF – à tarde, “Peralta” subiu ao prédio, levando lanches para os comparsas. Demonstrava-se muito agitado, nervoso. À  à noite, rolou a ação. A “Miss Copa” foi levada e escondida no “freezer” de um bar espelunca da Rua América, em Santo Cristo, sem o desconfiômetro do proprietário ligado. Passou a madrugada numa tremenda gelada.

Do bar que tinha paredes riscadas por grafiteiros, a “menina” foi conduzida até a Avenida Rio Branco, onde o ourives argentino  Juan Carlos Hernandes tinha um trampo e usou um maçarico e fogo bravo para derrete-la. Como ele só tinha condições de trabalhar 250g por vez, a “gata” foi picotada, paulatinamente.

O imenso trabalho de gente como Pelé, Garrincha, Didi, Bellini, Nílton Santos, Zagallo, Carlos Alberto Torres, entre outros, para conquistar a “moça” foi grande negócio para a autoestima “brasuca”. Para os surrupiadores, financeiramente, nem tanto. Faturaram só CR$ 18 milhõ de cruzeiros, o que, atualizados para a moeda de tempos depois, não passavam de 97,6 mil cruzados – uma merreca! Principalmente, porque o seguro  da taça, feito no já extinto Banco do Estado do Rio de Janeiro-BANERJ valia 271 mil, mais do dobro – quem a recuperasse, a CBF presentearia com 27 mil.

Ao saber do assucedido, o “Rei do Futebol”, Pelé, declarou à imprensa que, se tivesse de fazer algum pedido, seria para os ladrões devolverem a peça dourada e alada. Carlos
Alberto Torres, o  último capitão canarinho a erguê-la – Bellini e Mauro Ramos haviam sido os anteriores – estava em Nova York, visitando o Cosmos, clube pelo qual jogara, quando soube do roubo.Levou o que chamou de “baita susto”. De sua parte, Zagallo preocupava-se com que o mundo iria pensar dos brasileiros. Para ele, fora uma “vergonha”.

Após o roubo, Sérgio “Peralta” passou seis temporadas, em Cabo Frio,  trabalhando como caseiro do empresário Rubens Peres, que de nada sabia. Era amigo de populares, de policiais e até tinha conta bancária em seu nome. Um dia, foi dedurado por Antonio Stta, um ladrão pé de chinelo conhecido por Broa e que ele convidara para participar da trama.

Murilo Jorge Bernardes eteve promotor do caso e Maria Helana Salcedo, da 11 Vara Criminal-RJ, a juíza, “convidou “os quatro “mané sujeira” a passarem nove temporadas sendo “ hóspedes do Estado”, valendo-se do artigo 157 do código penal, que versa sobre assalto à mão armada – um caso que foi a maior bola fora da história do futebol brasileiro.

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