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Histórias da Bola
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O NOSSO CORRESPONDENTE

Arquivo Geral

18/02/2019 11h22

Os jornais paulistas e cariocas dos primeiros decênios do século 20 enviavam correspondentes para cobrir jogos de futebol de times de suas terras, em terreiro do adversário. Como ainda não havia o rádio, o torcedor teria que esperar pela chegada dos diários às bancas, no dia seguinte, para saber do resultado.

Foi, então, que uma loja tradicional paulistana, a “Casa Lebre”, especializada em artigos esportivos e brinquedos, teve a ideia de matar, rápido, a curiosidade do desportista. E criou a primeira correspondência esportiva brasileira em tempo real. Estávamos em 1918.

Pelos jornais, a empresa anunciou que colocaria em sua vitrine um cartaz com dados da partida, à medida em que os fatos fossem acontecendo, com informações passadas por pessoa contando com linha telefônica na tribuna do estádio. Mesmo sendo uma tarde domingo, muita gente foi para frente da loja, à Rua Direita, acompanhar o jogo, vencido pelos cariocas, por 2 x 1.

Os primeiros pegas entre os selecionados carioca e paulista começaram em outubro de 2001, com dois empates. Naquele 1918, enquanto o jornal “O Estado de São Paulo” gabava-se de ter comparecido a todos os RJ x SP – anotava 16 vitórias paulistas, cinco cariocas e três empates -, o carioca “Correio Manhã” inovava, resumindo os principais lances, na mesma página da crônica da partida. Depois, lançou estatísticas de números de escanteios batidos, defesas dos goleiros, faltas cometidas, etc.

Cariocas e paulistas haviam combinado a disputa de seis jogos, entre junho e setgembro de 1918 e quando os primeiros tinham duas vitórias e uma derrota, para o quarto embate, 15 mil torcedores foram ao estádio do bairro paulistano da Floresta, terreiro da Associação Atlética Palmeiras –  não é o “Verdão” de hoje. Por ser muito grande o interesse carioca pelo encontro, o jornal “O Paiz” adotou a mesma tática da Casa Lebre. Equanto o enviado especial do diário passava informações, cerca de cinco mil torcedores se aglomeravam diante do prédio do diário, interrompendo o trânsito na rua. Entre as 18 e as 22 horas, os telefones do jornal não pararam de receber ligações, por um segundo sequer – 4 x 2 foi o placar acumulado da série favorável a SP.

Em 1919, durante o Campeonato Sul-Americano, disputado no Rio de Janeiro – primeiro conquistado pelo Brasil, com 1 x 0 Uruguai – foi vez de “O Estado de S. Paulo” aderir à fórmula de informar o que acontecia em campo de uma outra cidade, por meio de cartazes. O correspondente, do estádio das Laranjeiras, passava dados e um colega da redação usava pincel e escrevia nas tabuletas (cartazes) mostradas à multidão, das janelas e sacadas do prédio da Praça Antônio Prado.

Depois do jogo, o “Estadinho”, edição noturna de “O Estado de S.Paulo”, contou a história do então chamado “torcimento” na praça, com o titulo de “Pelo Telefone”. Mas multidões de torcedores se aglomeraram, também, diante da “Casa Lebre” e da redação de “A Gazeta”, na Rua Líbero Badaró.

Durante as comemorações pelo título, bondes, automóveis, tilburis e passeatas congestionaram o trânsito, completamente, na região central paulistana. Ninguém segurava mais o entusiasmo do torcedor pelo “balípodo”. Até 1913, por exemplo, o jornal “O Estado de S. Paulo”, só a partir das páginas 5, 6 ou 7 abria seu noticiário esportivo, com o turfe. Depois vinham notas sobre futebol, ping-pong, pedestrianismo, etc.

Foi a  vitória do paulista Americano (2 x 0), sobre um combinado argentino, em Buenos Aires – 10.08.1913 – , primeira vitória de um time brasileiro no exterior, que fez o diário mudar a sua consideração sobre o futebol. Mexeu na diagramação e exaltou a notícia ao alto da página 3, estampando foto, em cinco das sete colunas…

O tempo passa e as tabuletas informativas também. Chega-se a 1922 e o Rio de Janeiro volta a sediar um Campeonato Sul-Americano. No 17 de setembro, a Seleção Brasileira empata, por 1 x 1, com o Chile, abrindo a disputa. E a grande novidade: o jornal paulistano “A Gazeta” transmite informações sobre o jogo para uma multidão aglomerada no Vale do Anhangabau, usando alto-falante. Um tremendo espanto!

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