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Histórias da Bola
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O glorioso Seu Jacob

Galera vascaína não escala mais um dos seu maiores torcedores

Gustavo Mariani

01/01/2023 9h46

Os aspirantes do Vasco da Gama haviam encerrado a partida, preliminar da rodada que marcava dois “grandes” se enfrentando no prélio principal da noite de 23 de dezembro, pelo Campeonato Carioca-1964. Malmente ouviu o trilo final do juizão e viu a “Turma da Colina” tirando o time de campo, Seu Jacob Prais chamou o seu filho para debandarem. O torcedor do lado espantou-se, pois achava ter o vizinho de arquibancada ido ao Maracanã por conta do clássico, e o indagou: “Você não vai assistir a partida principal?” No que ele rebateu: “Pra mim, a partida principal foi a que acabou”. E da melhor forma possível para ele, pois a sua rapaziada conquistara o Estadual de Aspirantes, mandando 2 x 1 Fluminense, após 1 x 0 e 0 x 0, em melhor de três.

Seu Jacob era assim: assistir embates de outras agremiações nem por decreto presidencial. E o mesmo aplicava ao seu segundo filho, para não acontecer ao que rolara com o primeiro, que se tornara botafoguense, enquanto ele cruzava os mares como primeiro piloto da Marinha Mercante. Também, pudera! Aquele timaço alvinegro de Manga, Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo fazia a cabeça de qualquer garoto.

Seguramente, Seu Jacob era o mais vascaíno dos vascaínos do seu tempo. Chegou a pedir demissão da Marinha para ficar mais perto da família e garantir a vascainidade do seu segundo filho. Garoto que ele levou ao estádio de São Januário, pela primeira vez, quando tinha cinco de idade. Fez questão de presentear-lhe com a primeira jaqueta cruzmaltina; o primeiro time de (jogo) botões; o primeiro álbum de figurinhas, e passou-lhe as manhas para reconhecer os atletas que usavam uma faixa em diagonal no fardamento. Também, ensinou ao menino que Vasco da Gama não era uma pessoa, mas um grande time. Tão grande que, quando ele não podia ir ao estádio, colava os ouvidos no rádio e, mais tarde, ligava a TV para assistir aos videoteipes dos embates vascaínos.

Seu Jacob era mais Vasco da Gama do que o próprio Vasco da Gama. Para não ficar muito tempo longe do seu time, espanou a chance de ser o mais jovem oficial da Marinha Mercante brasileira a chegar a Comandante. Estava bem encaminhado. E não aceitava que o considerassem um militar, lembrando ele que não servia à Marinha de Guerra. Se gabava de ver o Vasco sempre campeão, desde os seus 11 de idade. Na casa dos 20, 21, por ali, Seu Jacob era bonitão, muito paquerado pelas garotas. Costumava se dar bem por onde chegasse. Seguia, literalmente, aquele ditado marinheiro: “em cada porto uma namorada”. Até que, num “porto” brazuca, mais precisamente no Rio de Janeiro, a linda Paulina acabou com aquelas suas bagunças e o fez jogar no time dos casados.

Pouquinho antes daquilo, o Seu Jacob viveu uma de suas mais interessantes aventuras vascaínas. Estava o seu navio ancorado em um porto europeu, de país vizinho da França, e ele soube que o Vasco da Gama iria disputar um amistoso em Paris. Como tinha algumas folgas guardadas na conta, negociou com o seu Comandante ir à capital francesa assistir ao jogo cruzmaltino. Embarcou em um trem e chegou ao estádio quando a rapaziada já adentrava às quatro linhas do gramado. Aplaudiu os patrícios e estes foram até as proximidades de onde ele estava retribuir-lhe a saudação, pois era a única camisa vascaína visível no horizonte. Terminado o amistoso, o Seu Jacob saiu correndo para pegar o último trem da noite e voltar ao seu navio. Nem viu Paris. Para ele não importava. O Vasco valia duas noites sobre trilhos. Afinal, não era o “Expresso da Vitória!”

Enfim, neste final de temporada, o jogo terminou. Assim como os vascaínos Pelé e Erasmo Carlos, o glorioso Seu Jacob foi também levado pelo terrível 2.022. Sem ele, a torcida vascaína ficou menos alegre. Mas, com certeza, de onde ele estiver, estará apupando o juiz que não marcar aquele pênalti indiscutível a favor da sua rapaziada, principalmente se for contra o Flamengo.

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