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Histórias da Bola
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O ENDO-RATO

Arquivo Geral

12/08/2018 11h28

Ponta-esquerda do Clube Atlético Alvinegro, boa pinta, aloirado e, ainda mais, bom saxofonista, Zé Dupi parcia ter levado o rosto com leite de mangaba – hancornia speciosa -, ótima fruta para fazer sucos, doces e sorvetes. Todas as munícipes eram a fim dele que, vire a mexe, estava sempre roubando a namorada de alguém. Inclusive, diziam as más líguas, até noivas e casadas já haviam caído no seu visgo.

 De tanto enfeitiçar a mulherada e roubar namoradas, Zé Dupi ganhou, do vigário  Caldas Frade – também, juiz da liga muincipal de futebol e professor ginasial de história – o apelido de “indoraptor” – nodossauro herbívoro que viveu há 110 milhões e chegou ao cinema com nome fictício.

Cá entre nós: em uma cidade do sertão da Bahia Oeste, não seria  cultura demais os munícipes falarem uma palavra impronunciável como aquela? Daí que não demorou para “indoraptor” virar “endo-rato”, principalmente porque o vigário” falava “endoraptor”, trocando a primeira letra do dissílabo do referencial ao monstro vivente no período cretáceo e, ainda, parava um pouco antes do “r”

  Rola o tempo e, de tanto ouvir leros sobre o “estrepoliento” Zé Dupi, apresentado-lhe por “abalroador de pilares sentimentais”, o Caldas Frade resolveu descer-lhe a marreta durante um dos seus sermões matinodominicais, chegando a barrar-lhe no instante da comunhão, com o grito: “Você, não, Endo-Rato!”

 Passam-se poucos meses e, de repente, soubve-se que Zé Dupi estava pegando a irmã do padre, exímia “modista”, com eram chamadas as costureiras da terra. Por sinal, por cobrar tão caro, suas freguesas referiam-se a ela por “A Rata”.

Tempinho depois, a modista e Zé Dupi subiam ao pé do altar.  Mais um tempinho passado, veio o primeiro filho, um capetinha endiabrado que não demorou a aprender, com a molecada de sua rua, a roubar mangas, cajus e goiabas nos quintais da vizinhança. Ganhou o apelido de “Endinho”, escapando se ser chamado por “Ratinho”.   

 Lá pelas tantas, em um “Dia dos Pais”, disputava-se o Torneio Início do campeonato da liga municipal de futebol. Escalado para apitar o jogo decisivo, entre o Atlético Alvinegro e o Santana, o padre Caldas Frade segurou o segundo no apito. De quebra, aos 45 minutos do segundo tempo, marcou um pênalti que só ele viu e o seu cunhado bateu e marcou, saindo de campo campeão. Não escapou, porém, de ouvir os gritos de “rato, rato, rato!”. E, daquele dia em diante, todas as torcidas adversárias do Alvinegro só o chamavam por Padre Rato.

Enfim, os Caldas-Dupi não deixaram escrito só roubos de namoradas e no preço das costuras. Também, no apito e no placar. Ficaram conhecidos por “Família Rateira”.     

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