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Histórias da Bola
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O Cristo do Pelé

Pelé foi embora e deixou Jesus Cristo no Ministério do Esporte

Gustavo Mariani

18/10/2021 9h34

Foto: Ricardo Almeida

Jesus Cristo, segundo arqueólogos que pesquisaram a região em que ele nasceu, teria sido um sujeito moreno, com menos de 1m70cm de altura, tipo o segundo maior artilheiro do Vasco da Gama, o glorioso Romário. Por sinal, muitos textos que hoje nos chegam por revistas e livros dizem que ele tinha cabelos pretos.

No entanto, depois do Renascimento, pinturas o invocando o trazem um sujeito alto, loirão e, as vezes, até com olhos azuis. Coisas do catolicismo para torná-lo mais simpático ao eleitorado feminino.

Quando Pelé esteve ministro do Esporte (1995 a 1998) do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, um artista o presenteou com um quadro que foi colocado na parede imediatamente atrás da mesa em que ele trabalhava. Um JC loirão, bonitão. Pela primeira vez, eu via um Jesus Cristo sorridente. Até então, todos os que eu vira tinham semblantes fechadões, parecendo zangados. Pedi ao fotógrafo que me acompanhava em pauta do Jornal de Brasília, o Ricardo Almeida, para fotografar Pelé com o Cristo sorridente atrás. E fiz matéria sobre o detalhe.

Foto: Ricardo Almeida

Quando já se sabia que Pelé iria sair e o seu ministério seria extinto, perguntei-lhe se ele me daria aquele quadro com o Cristo sorridente, caso não fosse levá-lo com ele. Respondeu que se o dito cujo não já tivesse sido patrimoniado pela casa, eu poderia levá-lo. Olhei, não havia nenhuma placa e pedi-lhe uma autorização no papel para tirá-lo do prédio. Ele pediu-me para eu solicitar isso ao seu secretário-geral, o que nunca o fiz.

Depois que o Pelé foi embora, falei sobre a sua doação com o ministro Carlos Meles, que eu conhecia, de longas datas, na Câmara dos Deputados e, até, me chamava por “Menino de Deus”. Fui deixando para depois, o Meles saiu e o quadro ficou por lá. Algum tempo depois, já no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fui ao gabinete do ministro do Esporte, Aldo Rebello, com o qual eu mantinha bom relacionamento, desde a época da CPI do Esporte, que o teve como um dos cabeça. Durante a entrevista, não tirei os olhos do quadro do Cristo sorridente.

Papo encerrado, falei-lhe sobre o que já havia falado com o Carlos Meles e até brinquei:

– Ministro, já que o senhor é comunista (era filiado ao PC e chegou a assumir a presidência da República, tornando-se o primeiro comunista no cargo) e não acredita em Jesus Cristo, vou, então, levar este quadro comigo. Antes que ele falasse alguma coisa, uma de suas assessoras de imprensa que acompanhava a entrevista, a Carla Belisário, brincou:
– Ainda não levou por que? Né, ministro?!

Poderia ter saído do gabinete do ministro Aldo Rebello com o quadro do Cristo sorridente, pois ele, também, prontificou-se a ordenar a ordem de saída da moldura. Pela terceira vez, deixei a coisa pra depois. E fui deixando, deixando, mudei de emprego, governos e ministros também mudaram de lado e eu nunca mais fui ao Ministério do Esporte. Imagino que o quadro deve estar jogado em algum depósito, todo empoeirado, ou até com goteiras acabando com ele. Se alguém tiver notícias dele, por favor, me avise. Não me lembro quem é o autor. Mas já vi várias reproduções à venda pelo Mercado Livre.

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