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Histórias da Bola
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O centroavante-centroavante

Para Ademir Menezes, a função do camisa nove era só fazer muitos gols e mais nada

Gustavo Mariani

17/01/2024 11h15

Perto de inteirar duas décadas do final de sua carreira, o goleador Ademir Menezes dizia, em 1973, que, se ele jogasse o futebol setentista, não faria tantos gols como na fase em que defendeu o Vasco da Gama e a Seleção Brasileira. Via os novos sistemas táticos matando os artilheiros, devido o “encurtamento dos espaços vazios”, e previa que o gol só surgisse em jogadas coletiva, nunca da ação de um só atleta, em jogada individual, criativa.

Ademir não gostava de ver atacantes recuando para proteger o meio-de-campo e nem de a força substituir o talento, a improvisação. Decepcionava-se, tremendamente, com isso. Declarou a vários jornalistas: “O centroavante tinha a obrigação de fazer muitos gols. O futebol era mais franco, com dois zagueiros, três homens na linha intermediária e cinco atacantes. O Leônidas (da Silva) fez nove gols na Copa do Mundo de 1938. Em 1950, a coisa mudou um pouquinho. Veio a diagonal do (treinador) Flávio Costa dois laterais presos, dois médios (apoiadores) soltos no meio-de-campo e dois meias indo e vindo, de acordo com o lado da jogada…. A diagonal mantinha o futebol descontraído e o centroavante com mais espaço para jogar”. No seu caso, para quem Flávio Costa criara a diagonal, Ademir comentou: “Eu esperava por lançamentos longos (de Maneca e de Ipojucan, no Vasco, e de Zizinho e de Jair Rosa Pinto, na Seleção Brasileira). Como eu tinha velocidade, ganhava sempre (dos marcadores) na corrida. A marcação era pouco móvel, cada um marcava o seu homem”.

Embora tivesse se beneficiado muito da diagonal de Flávio Costa, o goleador Ademir Menezes apontava o sistema por “vulnerável”, a partir de quando o treinador uruguaio Ondino Viera (no Vasco da Gama) o mandava cair para a direita nos jogos contra o Flamengo (de Flávio). “O lateral-direito deles (Biguá) jogava preso e quem saía para me combater era o médio-esquerdo (Jaime de Almeida). Sobrava grande espaço, eu estava sempre livre para o pique”, explicava.

As dificuldades para marcar gols surgiram para Ademir, como contou, entre 1950 e 1952, quando o Botafogo era treinado por Zezé Moreira e trouxe o zagueiro Basso, da Argentina. “Ele era inteligente, com perfeita colocação em campo. Não colava em mim, como os outros marcadores, e nem me acompanhava quando eu procurava sair da área (atacada). Marcava a zona (de ataque), pois sabia que, encostando-se em mim, poderia perder no pique. Então, ganhava terreno obrigando-me a tentar o drible ou o passe para o lado”, falou isso, por várias vezes, aos repórteres.

Por aquele 1952, Ademir Menezes via defesas mais fortes e plantadas, menos espaço para os ataques e quase nenhum par os contra-ataques, além de um ponteiro já ajudado a defesa. Para ele, a fase 1958 a 1962 foi a melhor do futebol brasileiro. “Foi como ter filtrado tudo do passado e aproveitado só o positivo”, considerou, também, por entrevistas, ao ver o Brasil jogando na Copa do Mundo da Suécia “com uma linha de quatro zagueiros, três meio-campistas e restabelecendo o centroavante, mas com este voltando, deslocando-se para as laterais e, também, jogando sem bola. Já a defesa fazia rodízio na cobertura, garantindo segurança”, elogiou e considerou o pós-1958 como o “fim do centroavante estático”.

Ademir Menezes disse, ainda, a muitos jornalistas que a Copa de 1970 (no México) foi a cristalização do ataque, sem um homem de área. Por exemplo, lembrou que Pelé e Jairzinho fizeram muitos gols e que sobraram oportunidades, também, para os outros. Mas entendia que o sacrifício do centroavante fosse parte da evolução do futebol.

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