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Histórias da Bola
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FESTA PARA O MILÉSIMO

Há 54 temporadas, o “Rei do Futebol” marcava o seu (oficial) gol de número 1.000

Gustavo Mariani

19/11/2023 11h24

O 19 de novembro de 1969, Brasília estava parada, a partir das 21h, à espera de assistir, pela tela, em preto e branco, do Canal 6 – TV Brasília – Pelé marcar o seu milésimo gol. Eram 23h11, no Maracanã, quando o camisa 10 do Santos correu para a bola – de marca Drible – e a chutou para o canto esquerdo da trave defendida pelo argentino Edgardo Norberto Andrada. Era a milésima vez que o “Rei do Futebol” deixava um goleiro esmurrando o chão.

O jogo valia pelo chamado “Robertão” – Torneio Roberto Gomes Pedrosa – e o Santos estava empatando, com o Vasco da Gama por 1 x 1, que abrira o placar, aos 17 minutos do primeiro tempo, por intermédio de Benetti. Eram jogados 33 minutos do segundo tempo, quando Pelé partiu para dentro da área vascaína, com a bola dominada. Os zagueiros Renê (marcou um gol contra) e Fernando lhe deram combate e, ao vê-lo caído ao gramado, o árbitro pernambucano Manoel Amaro de Lima marcou pênalti – Renê jurava não ter tocado um dedo em “Sua Majestade”.

Depois de os fotógrafos escolherem o melhor ângulo para eternizar aquele momento, os atletas santistas se postaram pelo meio do campo, o “Camisa 10” atendeu aos gritos de “Pelé, Pelé, Pelé!”, pedindo para ele cobrar o pênalti, e correu para a execução. De nada adiantou o lateral-direito vascaíno Fidélis cavar buracos na marca fatal. Com o seu pé direito, o “Rei” transformou aquela noite na mais importante da temporada, para os brasileiros, até mesmo do que a decida do homem na Lua, três meses antes.

Marcado o tento, Pelé apanhou a bola no fundo da rede e mandou-lhe um beijo. Rapidamente, surgiu uma camisa do Vasco da Gama, com o numero 1.000 às costa, – preparada pelo roupeiro vascaíno Chico -, para o craque vesti-la. Por ali, o goleiro santista Agnaldo colocou-lhe sobre os seus ombros – Pelé tinha a pelota sempre levantada par o alto – e fez uma volta olímpica pelo gramado, enquanto a partida estava parada, feito inédito na história do futebol. “Naquela dia (noite) eu enfrentei o mundo. Não dava para escutar (do gramado) nem a respiração dos torcedores. Até a torcida do Vasco (da Gama) torceu contra mim”, chorou, tempos depois, o goleiro Andrada.

Tempos depois, também, o “Rei Pelé contou (à imprensa): “O jogo estava parado e todo o estádio calado. Só havia eu, a bola e o Andrada. Naquele instante, fiquei nervoso, senti um tremendo medo de falhar, pois todos esperavam pelo gol. Poucos viram eu fazer o sinal da cruz antes de cobrar o pênalti”. Descido dos ombros de Agnaldo, diante de um mar de microfones, o (católico) Pelé pediu: “Pensem no Natal, nas criancinhas” -antes, dissera para o repórter Geraldo Bretas (primeiro a ouví-lo), da paulistana Rádio Gazeta: “Dedico este gol às criancinhas do Brasil”.

Houve polêmicas, tempinho depois, sobre o verdadeiro gol 1.000 do Pelé. Para o então maior pesquisador do futebol brasileiro, Thomaz Mazzoni, teria sido marcado em 6 de novembro, em Santos 4 x 0 Santa Cruz-PE, pelo Campeonato Nacional, em Recife, pois ele computava um tento do “Rei”, em 29 de março de 1959, em Brasil 4 x 1 Paraguai, pelo Campeonato Sul-Americano das Forças Armadas. Próxima discussão: o gol 1.000 teria sido, em 4 de fevereiro de 1970, em Santos 7 x 0 América do México, amistosamente, no Estádio Nacional de Santiago do Chile, por ter sido o milésimo dele como atleta profissional.

Mais adiante, em 1995, o jornal paulista Folha de São Paulo recontou a “matança” do “Rei”  e recuou o “milésimo”, de 19.11, para 14.11.1969, durante o amistoso Santos 4 x 0 Botafogo da Paraíba, em João Pessoa, com Pelé batendo pênalti, aos 23 minutos do segundo tempo. “Mais depois”, a revista paulistana Placar levantou a bola de que uma dos gols atribuídos ao Pelé, em 1965, na realidade, fora marcado por Coutinho. E pretendia, com aquilo, que o gol. 1000 voltasse a ser gol 1.000.

No entanto, em 1965, Coutinho e Pelé não atuaram juntos pela Seleção Brasileira. “Dupla fatal” formada por eles indo à rede com a camisa canarinha terminaram, em 5 de maio de 1963, em Brasil 2 x 1 Alemanha Ocidental, amistosamente, na alemã Hamburgo, com um gol de cada um, e em 28 de abril de 1963, em Brasil 3 x 2 França, também, amistosamente na casa do adversário, com dois tentos do “Rei”. E atuaram juntos defendendo o escrete nacional, pela última vez, em 12 de maio de 1963, em Brasil 0 x Itália, na italiana Milão. Naquele dia, curiosamente, o ataque canarinho do início do amistoso foi: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, todos santistas.

Santos 2 x 1 Vasco da Gama, do pretenso gol.1000, foi assistido por 65.157 pagantes, totalizando cerca de 100 mil presentes, com os “caronas”. O Santos do “Rei milesimal” teve: Agnaldo; Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Djalma Dias (Joel Camargo) e Rildo; Clodoaldo e Lima; Manuel Maria, Edu Américo, Pelé (Jair Bala) e Abel, treinados por Antoninho. O Vasco da Gama, armado por Célio de Souza, alinhou: Andrada; Fidelis, Moacir, Fernando e Eberval; Renê, Buglê e Benetti; Acelino (Raimundinho), Adilson Albuquerque e Danilo Menezes (Silvinho).

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