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Histórias da Bola
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 DE CAXAMBU A MACOLIN

Arquivo Geral

06/02/2019 11h26

Para preparar-se para a Copa do Mundo-1954, na Suiça, a Confederação Brasileira de Desportos-CBD levou o escrete nacional para uma estância de férias, em Caxambu-MG. A revista carioca “O Cruzeiro”  examinou o local e considerou o Parque das Águas dono de de instalações modelares “que ressaltam os magníficos recursos naturais de sus fontes que jorram à flor da terra as mais diversas composições de águas minerais”.

Beleza! Logo, os caras receberam condições extraordinárias para tentar reparar o vexame da Copa-1950, quando o Brasil perdeu a taça para o Uruguai, dentro do Maracanã.

Ainda segundo a semanária carioca, o Parque das Águas de Caxambu era o mais completo do país, em aproveitamento hidroterapêutico de suas fontes, dentro de uma área de 280 mil metros quadrados. Os jogadores setavam em instalações balneárias com dependências arejadas e modernas, dispostas em um plano técnico impecável”. A eles, prosseguia a notícia, era oferecido duchas escocesas, em oito salas.  Mais: informava que os banhos carbogasosos naturais recebiam água mineral tratada com o cuidado de preservar as suas propriedades naturais, segundo das fontes até as banheiras sob pressão em encanamentos  inoxidáveis,  dosada com gás carbônico natural  e aquecida até a temperatura prescrita pelo médico.

Logo, a CBD fizera a sua parte. Os caras que fizessem a deles. E eles viajaram para Bienne, cidade do século 16, com 30 mil habitantes e muitas fábricas de relógio. Dali, rumaram para  Macolin, hospedando-se em um sítio nas montanhas suiças, à beira de uma estrada. Os chefes da delegação, o ministro João Lira Filho e Irineu Castelo Branco, não se hospedaram juntos. Ficaram onde estavam os cerca de 60 jornalistas que acompanharam a delegação, o Hotel Elite.

TEMPERO – O clima era frio, mas a moçada comia tutu. Levou-se feijão preto, carne seca e também goiabada no Constelation da Panair do Brasil. De sobremesa, o treinsdor Zezé Moreira procurava afastar o temor dos húngaros, os adversários a serem batidos, garantindo não haver time invencível e que, se aqueles o fossem, só deveriam fazer futebol exibição.

Em sua psicologia aplicada ao futebol, Zezé Moreira vendia que os húngaros poderiam igualar o futebol que o Brasil exibira nos 6 x 1 Espanha, da Copa-1950, nunca superá-lo.  Defendia o seu sistema tático – marcação por zona -, e garantia tudo dependia de fatores surgidos dentro do campo, razão de privilegiar o coletivo, jamais o individual.

Zezé Moreira falava, ainda, ter escolhido jogadores de lista lhe apresentada pelo Conselho Técnico da CBD, e considerava a sua moçada não uma joia de valores fulgurantes, mas a máquina mais perfeita já entregue a um técnico para preparar psiclogicamente e vencer as maiores batalhas. “Não existe “scratch” superior ao brasileiro, mas este pode perder”, ponderava, preocupado com os árbitros – disse a “O Cruzeiro”, de 19 de junho de 1954, que os tais odiavam, tinham alergia a negros. Seriam o maior inimigo do Brasil.

Poderiam até ser, mas ia muito além disso. Por exemplo, um jornal suíço classificiou o Brasil em último lugar quanto condição moral, alegando “particularidade de certas raças”. O ministro João Lira Filho protestou e viu o fato como um insulto a um hóspede da Suiça.

E veio o 16 de junho, dia da estreia do time de Zezé Moreira no Mundial-1954. No Rio de Janeiro, centenas de alto-falantes foram colocados em muitas partes da capital brasileira, do centro aos subúrbios mais longínquos, para que todos pudessem acompanhar as transmissões radiofônicas. O IBOPE, que já existia, calculou que 80% da população carioca acompanhou o jogo, que teve o esmagador Brasil 4 x 0 n o primeiro tempo.

Antes de a bola rolar, às 14 horas do Brasil, o presidente Getúlio Vargas palpitara 3 x 0, enquanto o seu antecessor e sizudão marechal Eurico Dutra ficava pelo 1 x 0.  Por ter chagado a 5 x 0, ficou uma grande expectativa por novo sucesso diante da Iugoslávia, três dias depois, em Lausanne, encerrado no 1 x 1 que classificou a equipe para as quartas-de-final.

Para “O Cruzeiro”, naquele segundo jogo, o time de Zezé capengou, apoiando-se, tropegamente, em muletas. Mas a semanária viu, no ultimo minuto do segundo tempo da prorrogação, o negro Baltazar sofrer um “foul penalty” indiscutível, transformado pelo árbitro em tiro livre indireto que para nada serviu – como temia Zezé.        

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