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Histórias da Bola
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Copa trilegal

Arquivo Geral

28/06/2018 11h18

Brasil não ganhava uma Copa do Mundo desde 1962. Mas, a partir de 1968, via o seu PIB (Produto Interno Bruto, que mede a riqueza da nação) vencer o de todas as pátrias, de chuteiras, ou não. Era a época do “milagre econômico” dos governos militares que impuseram ao país uma ditadura de 21 anos.

Em 1970, o regime do general Emílio Garrastazu Medici precisava da volta da Taça Jules Rimet, para coroar uma fase em que a classe média já tinha dois carros na garagem. Ao som da marchinha “Pra Frente Brasil”, de Miguel Gustavo, a tortura e a censura eram escanteadas, para o povo imaginar que fosse muito feliz, sem saber. “Se houvesse eleição direta, para presidente da república, naquela época, o general ganharia, com facilidade”, constatava, anos depois, o futuro ocupante daquele cargo, o ex-líder operário Luiz Inácio Lula da Silva.

Saiu tudo como deveria ser. Após seis vitórias nas Eliminatórias e mais seis durante as disputas no México, a Seleção ficou tri. Trilegal! De quebra, levou a consideração de melhor equipe nacional de todos os tempos. Para isso, porém, foi preciso dar um jeito nas bagunças que culminaram com o estrondoso fracasso na Copa-66, na Inglaterra.

Antes de chegar ao México, a equipe canarinha trocou o seu treinador comunista, João Saldanha, que não aceitava palpites da ditadura em sua equipe – ela que escalasse o seu ministério –, por Mário Jorge Lobo Zagallo, bicmpeão, como atleta, em 1958/62, e que vinha fazendo sucesso dirigindo o Botafogo.

E rola a bola na Copa-70,com 90 milhões em ação, torcendo, fervorosamente. A rapaziada etreou goleando a então Techeco-Eslováquia, por 4 x 1, em 3 de junho daquele chumboso 1970. Quatro dias depois, teve muito trabalho para fazer 1 x 0 nos violentos ingleses. Em 10 de junho sacramentou a classificação à segunda fase do Mundial, mandando 3 x 2 na Romênia. Tudo no mesmo local das partidas anteriores, o Estádio Jalisco, em Guadalajara.

Como primeiro do Grupo 3, o Brasil encarou, ainda em Guadalajara, o Peru, segundo do Grupo 4 e treinado por Didi, campeão mundial de 1958. Mandou 4 x 2, sem problemas. Em 17 de junho, a nova vítima seria o Uruguai: 3 x 1 e estávamos vingados do “Maracanazo” de 1950, quando eles foram ao Rio de Janeiro e levaram o “caneco” pra Montevidéu.

DIA DO TRI – A turma verde-e-amarelo saiu de Jalisco e foi para o Estádio Azteca, na Ciudad de México. Era 21 de junho, um meio-dia mexicano de um domingo muito ensolarado. A Seleção canarinha, de Seu Zagallo, mandou 4 x 1 nos italianos, que haviam chegado à final despachando os alemães, por 4 x 3, numa prorrogação, após 1 x 1 no tempo normal.

O Brasil abriu o placar, aos 18 minutos, numa cabeçada de Pelé, complementando cruzamento de Tostão. Era o 100º gol brasileiro em Copas do Mundo. Os italianos empataram, aos 37, com Bonisegna, aproveitando-se da brincadeira de Clodoaldo, de fazer uma jogada de letra. Jairzinho, aos 24 do segundo tempo, e Carlos Alberto, aos 42, completaram a goleada. Minutos depois, o mesmo Carlos Alberto Torres repetiria, diante do presidente mexicano, Gustavo Dias Ordaz, o gesto iniciado por Bellini, diante do Rei Gustavo Adolfo, na Suécia, em 1958, e continuado por Mauro, em 62, no Chile.

Até o Brasil chegar ao tri, a Copa do Mundo havia realizado, em quatro décadas, 231 jogos, com 846 gols marcados. O alemão Gerd Muller foi o artilheiro da edição-40, marcando 10 vezes. Pelo Brasil, Jairzinho foi o principal goleador, com sete bolas nas redes, comparecendo ao filó em todos os jogos.

O Brasil tri foi: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everldo; Clodoaldo e Gérson: Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino. A Azurra, treinada por Ferrucio Valcareggi, alinhou: Albertosi; Burgnich, Cera, Rosato e Fachetti; Bertini (Juliano), Mazzola e De Sisti; Domenghini, Bonisegna (Rivera) e Didi Riva. O árbitro foi o então alemão oriental Rudolf Glockner e o público de 104.412, no Estádio Azteca, da Cidade do México.

GOL ANUNCIADO – Zagallo observara, por vídeos, que os italianos costumavam concentrar demais o jogo pelo lado direito. Então, armou o esquema de, numa roubada de bola, por aquele setor, o lateral-direito subir, rapidamente, ao ataque, para Jairzinho, Tostão ou Pelé lançá-lo. Supondo que o flanco direito estivesse pouco povoado, Carlos Alberto (foto) deveria finalizar o plano. E o lance rolou, aos 42 minutos do segundo tempo.

Redimindo-se da brincadeira do gol de empate italiano, Clodoaldo driblou quatro adversários, na intermediária, serviu Rivellino, que passou a bola a Jairzinho, que a entregou a Pelé. Tudo muito rápido. Tão veloz que Carlos Alberto chegou, para ser acionado pelo “Rei” (desenho) e chutar sem nenhum combate. Bola na caçapa, como o Lobo estudara.

Carlos Alberto Torres tinha 25 anos – 17 de julho de 1944 – quando ergueu a Taça Jules Rimet e era jogador do Santos. Carioca, fora cria do Fluminense, pelo qual estreara no time principal, em 1964, sendo campeão estadual, de cara. Resultado: foi parar na Seleção Brasileira e, em 1965, no time de Pelé, para ser campeão paulista, título que repetiu em 1967/69. Em 1971, esteve no Botafogo; em 72, no Flamengo; em 73, voltou ao Santos, para ganhar outro Paulistão; em 75, a volta foi para a “máquina” do Flu de Francisco Horta. Em 1977, mudou-se para o Cosmos, de Novas York, onde encerrou uma bela história de bola, em 1982. Carlos Alberto jogou 53 vezes e marcou oito gols com a camisa canarinha. Em 1966, foi, inexplicavelmente, riscado dos planos para o Mundial da Inglaterra – sorte dele!

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